
Lorenzo Carrasco
O pronunciamento em cadeia nacional, feito no dia 4 de março, pelo presidente francês Emmanuel Macron, beira as raias da psicose e é um forte indicativo da perda de contato com a realidade que se apossou das “lideranças” europeias, diante do entendimento direto entre os EUA de Donald Trump e a Rússia de Vladimir Putin quanto ao conflito na Ucrânia, sugestivo de uma nova ordem que aqueles “líderes” se obstinam em rechaçar.
Abusando do alarmismo, Macron afirmou que o mundo está “entrando em uma nova era”, na qual a Rússia é “uma ameaça para a França e a Europa” – quase como se o Exército russo estivesse às portas de Paris.
E, entre outras manifestações de uma grandiloquência quase napoleônica, ofereceu a “proteção” do arsenal nuclear francês aos vizinhos europeus que, igualmente, se sentem órfãos do compromisso estadunidense com o nefasto “atlantismo” do pós-guerra, quando grandes decisões históricas eram tomadas nos dois lados do Atlântico.
Curiosamente, a outra potência nuclear europeia, o Reino Unido, usa mísseis “made in USA” nos seus submarinos nucleares e não pode dispará-los sem o apoio estadunidense para a seleção de alvos, o que os torna virtualmente inúteis sem um entendimento com Washington.
Em seus delírios de grandeza, Macron não está sozinho, mas os compartilha com outras figuras continentais, como a presidente da Comissão Europeia, Ursula von der Leyen, que contribuiu com o bizarro anúncio de uma “nova era de rearmamento” europeu, como se isto fosse uma questão apenas da vontade de mobilizar recursos financeiros – aliás, inviáveis pelas regras de “austeridade” vigentes na União Europeia. E o mesmo vale para o provável futuro chanceler alemão Friedrich Merz, um ex-executivo do megafundo de gestão de ativos BlackRock, igualmente comprometido com a reconstrução do poderio militar germânico.
E, nessa coleção de delirantes, não poderia faltar a indizível chefe da diplomacia da UE, a estoniana Kaja Kallas, que já se comprometeu a manter o apoio europeu à Ucrânia, garantindo o envio de pelo menos 1,5 milhões de obuses de artilharia, além de sistemas de defesa antiaérea, mísseis e drones. Equipamentos de que vários países, Alemanha inclusive, já afirmaram não dispor, pois já rasparam o tacho dos seus próprios arsenais para manter viva a guerra.
Macron, von der Leyen, Merz, Kallas – tristes figuras de um continente que já teve estadistas da estatura de Charles de Gaulle, Konrad Adenauer, Helmut Kohl, Harold Wilson, Jacques Chirac e outros, perto dos quais aqueles seus sucessores se parecem mais com napoleões de jardim.