
Em seu discurso no Congresso, Donald Trump anunciou, dentre outras medidas, a criação de um departamento de construção naval, com política de incentivos fiscais.
Dessa maneira, o presidente dos EUA adota uma medida amplamente criticada pelos neoliberais “brasileiros” (a provar!), que tem todo o espaço nos grandes meios de comunicação do país. A mesma mídia que não para de chorar com quase todos os atos adotados por Trump desde quando assumiu a posse em seu segundo mandato.
O anúncio da política de incentivo à construção naval é uma tentativa desesperada de reverter quatro décadas de desindustrialização nos Estados Unidos, que deixaram o país sem a mínima condição de competir com a indústria naval chinesa. Sem indústria naval, não há como construir navios de guerra para projetor poder no Pacífico. É essa razão, e não teorias conspiratórias dos sabichões atônitos da mídia, que explica a reorientação da política externa dos EUA, depois de décadas de retórica sobre “liderança moral do mundo livre” e outros slogans do tipo, enquanto a desindustrialização promovida por políticas desde a transição Jimmy Carter/Ronald Reagan corroía – aos poucos – a capacidade militar do país.
São as “cartas na mesas” (“cards on the table“) sobre as quais ele falou a Zelensky, na discutida reunião transmitida para o mundo todo, do dia 28 de fevereiro. Cartas que ele sabe que a Rússia tem, com sua capacidade da indústria de mísseis, conforme ficou demonstrado em três anos de guerra na Ucrânia. Poder real e não retórica pseudo-humanitária, da qual vivem as atuais “lideranças” europeias. Pausa para rir, como diria nosso amigo Wellington Calasans.
“Esse claro e contundente posicionamento é uma evidência clara para aqueles que, no Brasil, ainda questionam as políticas públicas de apoio à indústria de construção naval local, como Conteúdo Local Mínimo, Depreciação Acelerada, Fundo de Marinha Mercante e regras mínimas de incentivo à cabotagem por empresas brasileiras; aliás, são incentivos muito aquém aos que os EUA já praticam atualmente, veja o Jones Act”, comentou a respeito Wagner Victer, ex-secretário de Energia e Indústria Naval do Estado do Rio de Janeiro.
Em fevereiro, a Petrobras publicou um edital de licitação para compra de oito navios gaseiros, dentro do Programa de Renovação e Ampliação da Frota. Espera-se que o programa movimente a indústria naval de vários estados, do Rio Grande do Sul ao Espírito Santo.
Na ocasião, durante o anúncio da licitação, no Terminal de Angra dos Reis (na foto de capa), Lula defendeu a política naval com conteúdo nacional. “O Brasil, 95% do nosso transporte de exportação vai de navio. O Brasil é o maior país da América do Sul. Por que a gente não tem uma indústria naval poderosa? Por que a gente tem que comprar navio da Coreia, de Singapura, da China?”
O questionamento dele é válido. Assim como seria se o próximo governo, seja de que bandeira ideológica seja, seguisse e aprofundasse essa política, reconhecendo – assim como o faz agora o presidente dos EUA – a importância da indústria naval e de ter uma empresa estatal, sob controle do governo, para fazer essas encomendas.
Com informações do Monitor Mercantil.