
Wellington Calasans
China e Rússia estão unidas e não podem mais se separar nos próximos 100 anos. Diante disso, os EUA precisam da Rússia para confrontar a China; enquanto a Europa precisa da China para enfrentar a Rússia.
Quem está rachado é o Ocidente, pois a Rússia e a China sabem que somente esta união poderá fazer frente aos desafios de um novo entendimento entre os ocidentais.
Nos últimos anos, a geopolítica global tem sido moldada por uma nova, inusitada e complexa dinâmica de alianças e desavenças estratégicas ou acidentais, decorrentes de rivalidades históricas e interesses econômicos.
Um dos fenômenos mais marcantes deste século é a crescente aproximação entre China e Rússia, duas potências que, apesar de suas diferenças culturais e ideológicas, têm demonstrado uma convergência estratégica sem precedentes.
Essa união, que parece sólida e duradoura, desafia os tradicionais blocos de poder liderados pelo Ocidente e coloca em xeque a capacidade dos Estados Unidos e da Europa de manter sua influência global.
A parceria entre Pequim e Moscou não é apenas uma resposta ao isolamento político imposto pelo Ocidente após eventos como a anexação da Crimeia ou as tensões comerciais com os EUA. É, acima de tudo, uma estratégia pragmática para enfrentar os desafios de um mundo multipolar.
A China, com sua economia robusta e ambições tecnológicas, complementa a Rússia, rica em recursos naturais e com uma força militar formidável.
Juntas, essas nações criaram uma sinergia que vai além do imediatismo político: elas estão construindo uma nova ordem global, onde o Ocidente já não detém o monopólio das decisões estratégicas.
Diante dessa realidade, os Estados Unidos e seus aliados europeus enfrentam um dilema. Por um lado, Washington precisa da Rússia como contrapeso à ascensão chinesa, especialmente no campo econômico e tecnológico.
A China, sob a liderança assertiva de Xi Jinping, tem se consolidado como a principal ameaça à hegemonia americana. No entanto, qualquer tentativa de reaproximação com Moscou esbarra na desconfiança mútua acumulada ao longo das últimas décadas e nas sanções econômicas que ainda pesam sobre o Kremlin.
Por outro lado, a Europa, historicamente dependente do gás russo e vulnerável às pressões energéticas de Moscou, vê na China uma alternativa para equilibrar sua relação com a Rússia.
A cooperação comercial entre Bruxelas e Pequim, embora frequentemente criticada por questões de direitos humanos e práticas comerciais desleais, continua sendo uma peça-chave para a economia europeia.
Contudo, essa dependência também expõe as fragilidades do continente, que luta para encontrar uma posição unificada frente às demandas chinesas e russas.
O que fica evidente é que o Ocidente está profundamente fragmentado. Enquanto os EUA priorizam a contenção da China, a Europa busca maneiras de mitigar os impactos da crise ucraniana e reduzir sua dependência energética da Rússia.
Essa falta de coordenação enfraquece a capacidade do Ocidente de responder de forma coesa aos desafios impostos pela aliança sino-russa.
Ao mesmo tempo, Pequim e Moscou sabem que sua união é vital para resistir às pressões externas e moldar um novo paradigma internacional.
É importante destacar que a parceria entre China e Rússia não é isenta de tensões. Diferenças históricas, disputas territoriais e interesses econômicos divergentes podem surgir ao longo do caminho.
No entanto, ambas as nações compartilham uma visão comum: a rejeição à ordem global dominada pelo Ocidente e a busca por um sistema multipolar que reflita melhor seus interesses. Essa convergência de objetivos torna a aliança resiliente e capaz de superar eventuais atritos.
Para o Ocidente, a lição é clara: a era da supremacia unilateral chegou ao fim. A fragmentação interna, exacerbada por disputas comerciais, políticas migratórias e crises climáticas, enfraquece sua posição no tabuleiro global.
Para enfrentar o desafio representado pela aliança sino-russa, será necessário não apenas uma revisão estratégica, mas também uma reconciliação interna que permita aos países ocidentais falar com uma só voz.
Enquanto isso, China e Rússia seguem firmes em sua trajetória. Seja nos campos diplomático, econômico ou militar, a parceria entre Moscou e Pequim está destinada a moldar o cenário internacional nos próximos 100 anos.
O Ocidente, por sua vez, precisa urgentemente repensar suas prioridades e encontrar formas de recuperar sua relevância em um mundo cada vez mais complexo e interdependente. Caso contrário, arrisca-se a ser relegado a mero espectador de uma nova ordem global que já está em construção.
O futuro pertence àqueles que souberem se adaptar – e, até agora, a vantagem parece estar do lado oriental.