
Wellington Calasans
Desde os primórdios da Revolução Industrial, promessas de progresso tecnológico foram repetidamente usadas para seduzir as massas com a ideia de uma vida melhor. As máquinas, diziam-nos, nos libertariam do trabalho braçal, aumentariam nossa produtividade e garantiriam prosperidade para todos.
No entanto, ao olharmos para o presente, percebemos que essas promessas se transformaram em uma realidade distópica.
Em vez de democratizar a riqueza, as máquinas tornaram-se ferramentas sofisticadas para concentrar poder e recursos nas mãos de poucos, enquanto desprezam aqueles que construíram a economia global.
Ao longo da história, a classe alta sempre buscou acumular recursos, compartilhando apenas o excedente ou o mínimo necessário para manter a classe trabalhadora operante.
Após a Segunda Guerra Mundial, vivemos uma era excepcionalmente próspera, quando o crescimento econômico beneficiou amplas camadas da população. Infraestrutura intacta, avanços tecnológicos e políticas sociais criaram uma ilusão de igualdade crescente. Contudo, nas últimas décadas, essa tendência foi revertida.
A desigualdade de riqueza atingiu níveis alarmantes, com a elite global controlando uma fatia cada vez maior dos recursos do planeta. E agora, com a chegada da inteligência artificial (IA) e da automação, esse ciclo de exploração está prestes a se intensificar. A IA representa uma mudança paradigmática no relacionamento entre capital e trabalho.
Até recentemente, os trabalhadores humanos eram indispensáveis para gerar riqueza. Mesmo sob condições opressivas, havia um limite para quanto a classe alta podia pressionar seus empregados, pois precisava deles para continuar produzindo.
Mas a IA altera esse equilíbrio. Robôs podem analisar documentos, colher frutas, dirigir veículos e até realizar diagnósticos médicos com eficiência superior à humana. Empresas como a Tesla já estão desenvolvendo tecnologias que ameaçam substituir milhões de trabalhadores em setores diversos. À medida que essas inovações avançam, a necessidade de força de trabalho humana diminui drasticamente.
O resultado é um cenário preocupante: bilhões de pessoas podem se tornar “dispensáveis” em termos econômicos. Sem empregos para sustentar suas famílias, sem renda para consumir bens e serviços, como essas pessoas contribuirão para a economia? E mais importante, como elas encontrarão propósito em um mundo onde sua existência parece não ter valor para os detentores do poder? Essa perspectiva assombrosa levanta questões profundas sobre o futuro da humanidade.
Alguns teóricos sugerem que a elite dominante pode estar considerando medidas drásticas para lidar com o excesso populacional – um pensamento perturbador, mas não inédito na história.
Momentos de grande estresse social, como os que enfrentamos hoje com a rápida transformação digital, frequentemente coincidem com crises globais, incluindo guerras e colapsos econômicos. Esses eventos históricos muitas vezes serviram para “reorganizar” a distribuição de recursos e reduzir populações indesejadas. Diante dessa realidade sombria, cabe a nós, como indivíduos e como sociedade, buscar alternativas.
Primeiro, devemos reconhecer que o treinamento contínuo e a adaptação são cruciais. Profissões que dependem exclusivamente de habilidades técnicas ou repetitivas estão fadadas à obsolescência. Para sobreviver neste novo mundo, precisamos nos especializar em áreas que complementem, em vez de competir com, a IA. Isso inclui domínios como artes, filosofia, psicologia e outras disciplinas que exigem criatividade, empatia e pensamento crítico – qualidades que as máquinas ainda não conseguem replicar plenamente.
Além disso, precisamos mudar nossa consciência coletiva. Plataformas digitais oferecem oportunidades sem precedentes para disseminar informações e promover o pensamento crítico…