
A inflação dos alimentos é sentida por todos, principalmente os mais pobres. Alguns produtos que fazem parte se não da cesta básica, mas que são amplamente consumidos por boa parte dos brasileiros, independentemente de nível de renda ou classe social, tiveram altas gritantes nos últimos meses. Dentre eles, podemos citar a carne bovina, de frango e o café – com altas acima de 20% no último ano. Por seu turno, a do café chega a 40%.
Esses altas nos preços impactam não só os consumidores, mas também o governo, que usou da retórica da “volta da picanha” para os churrascos do povão como mote de campanha em 2022. Diante desse quadro adverso, a equipe econômica resolveu zerar os impostos de importação sobre os produtos da cesta básica, em medida anunciada no dia 6 de março.
Desde então, vem sendo criticada por diversos economistas, que ressaltam que as importações desses produtos são inexpressivas na economia nacional, visto que é basicamente o mercado interno que abastece os nossos consumidores. Dos produtos anunciados com imposto zero (milho, azeite, açúcar, óleo de girassol, carne bovina, massas, sardinha, café e biscoito) eles só representam 1% do total das importações do Brasil em 2024.
No caso do café a medida pode ser considerada inócua, pois a alta está relacionada com a crise nas lavouras no Vietnã, que nos últimos anos se tornou um grande produtor mundial, junto do Brasil, Colômbia e Costa Rica. Enquanto isso, a demanda pelo produto, um símbolo nacional desde o século 19, segue em alta como sempre, no Brasil e no mundo, o que explica a alta nos preços.
Já sobre a sardinha, o caso é diferente, conforme aponta Xico Graziano no artigo “O engana-trouxa de Lula no preço dos alimentos“: o Brasil estabeleceu uma alíquota alta, de 32%, para proteger a indústria de pescados contra práticas predatórias dos produtores asiáticos, mas a alta no produto foi de apenas 1,12% no IPCA apurado em 2024. Com o imposto de importação zerada, esta indústria pode ser altamente impactada.
Em suma, as medidas anunciadas pelo governo vão no sentido de gerar atrito com os produtores, como se a culpa estivesse ao lado deles, tendo em vista que muitos no governo enxergam o setor como adversários políticos e parecem fazer questão de que isso continue assim.
Acreditamos que o governo faria melhor em procurar expandir a fronteira agrícola, com as políticas de fomento associadas para lograr este objetivo. O que incluiria maior uso dos bancos públicos no Plano Safra, na melhoria da infraestrutura logística (melhores rodovias e mais ferrovias), assim como tornar essas vias mais seguras, combatendo o crime organizado envolvido no roubo de cargas. Estradas mais seguras refletem em menor valor do frete, pois os gastos com seguros e frotas armadas para proteger os motoristas só vem aumentando.
Por outro lado, o investimento em infraestrutura logística demandaria maior agilidade na condução de obras necessárias, com menor interferência de órgãos externos à administração pública e aos concessionários, como Judiciário, MP e até órgãos de controle ambiental. O caso da Ferrogrão, nesse sentido, é emblemático, com suas licenças paralisadas no STF há quatro anos.
Mas parece que estes dois temas: a segurança pública e o enfraquecimento da administração frente aos órgãos de controle (muitas vezes excessivo e paralisante) é um tema sensível para o governo Lula 3…