
Lorenzo Carrasco
Tony Lentini é um antigo oficial graduado da Academia Militar de West Point, responsável pela formação dos oficiais do Exército dos EUA. Embora tendo deixado o Exército como capitão, ainda na década de 1970, nunca deixou de preocupar-se com o estado das forças armadas e, principalmente, da preparação dos seus oficiais. Recentemente, tem escrito sobre a deterioração do currículo e das práticas da bicentenária academia.
Em um artigo publicado em setembro passado, escreveu: “A Academia Militar dos EUA foi a primeira escola de engenharia da nação, e com bons motivos, pois a engenharia é uma capacidade crucial no campo de batalha. Soldados devem planejar e construir fortificações, pontes e outras infraestruturas, bem como encontrar meios de destruí-las. Mas, nas últimas décadas, a Academia se tornou mais uma Faculdade de Artes Liberais, oferecendo materiais de cursos irrelevantes para os campos de batalha, em áreas como Diversidade, Equidade e Inclusão, Teoria Crítica da Raça e Estudos de Gênero. Agora, West Point oferece uma especialização em Estudos de Diversidade e Inclusão”,
Em outro, recém-publicado, faz duras críticas à decisão da direção da academia de ocultar os destinos de cinco cadetes que, em 2022, experimentaram uma overdose de cocaína e fentanil, a despeito de repetidas solicitações, inclusive, com base na Lei de Liberdade de Informação (FOIA).
Pela lei, informa, os órgãos públicos estadunidenses devem responder às solicitações em até 30 dias úteis, mas já se passou mais de um ano da sua solicitação, sem resposta.
E lista os seus motivos para o pedido:
– o vício em drogas é um fator de desqualificação para a carreira militar;
– os contribuintes têm o direito de saber se os cadetes transgressores chegaram a se graduar como oficiais;
– por lei e tradição, os militares estadunidenses são subordinados ao poder civil e, portanto, deveriam seguir estritamente as normas de transparência e obediência às leis federais.
No entanto, observa, “a atual ‘liderança’ de West Point, aparentemente, pensa de forma diferente”.
A cruzada de Lentini coloca o dedo na ferida simbólica de um elemento crucial da ostensiva deterioração dos EUA como superpotência, trocando o aprimoramento da sua vasta capacidade tecnológica e industrial pelas ilusões do “globalismo”, em especial, a hegemonia financeira e as agendas identitária e ambiental, esta última, estreitamente vinculada à anterior.
O resultado está evidenciado no conflito na Ucrânia, no qual as deficiências da base industrial estadunidense ficaram às claras no confronto com a capacidade produtiva da Federação Russa. Uma ironia histórica, dada a importância determinante da conversão da indústria civil para a produção bélica na II Guerra Mundial, inclusive, com o programa de empréstimos e arrendamentos que foi decisivo para a resistência do Reino Unido e contribuiu consideravelmente para o esforço de guerra da União Soviética contra a Alemanha nazista. Sem falar da capacidade da engenharia militar estadunidense, que se mostrou decisiva para a vitória contra o Japão.
A mensagem de Lentini vai no sentido de que uma séria reforma na formação dos seus oficiais militares é um elemento crucial para a reconstrução econômica, industrial e até militar dos EUA, hoje incapazes de sustentar um conflito convencional de grande intensidade com uma potência parelha como a Rússia ou a China.
E isso vai muito além de tarifas comerciais e expulsões maciças de estrangeiros.