
David Ramírez Muriana
1625 foi o ano com os maiores triunfos espanhóis* de todo o século XVII, dos quais a reconquista de Salvador no Brasil causou espanto em todo o mundo por sua complexidade logística, seu tamanho e sua precisão.
Em maio de 1624, uma frota de 26 navios da Companhia Holandesa das Índias Ocidentais (WIC) conquistou Salvador, a capital do Brasil português, o principal centro açucareiro do mundo. Os holandeses queriam assumir o controle desse comércio e afastar o rei da Espanha da Europa para forçá-lo a desviar recursos da Guerra de Flandres.
Quando a notícia chegou a Madri, o rei Filipe IV (Felipe III de Portugal) ordenou imediatamente a organização de duas grandes frotas, uma em Lisboa e outra em Cádiz, para reconquistar a cidade perdida. As duas marinhas deveriam unir forças e zarpar juntas para o Brasil sob o comando do capitão-general Fadrique de Toledo.
A organização desse empreendimento foi possivelmente a mais brilhante e eficiente das operações marítimas da Espanha durante a Idade Moderna. Mais de 50 navios de guerra transportando 12 mil homens, incluindo cinco batalhões de terços, a elite militar da Europa, foram montados em tempo recorde.
As duas frotas se encontraram em Cabo Verde em fevereiro de 1625 e zarparam juntas para o Brasil, a maior armada que já havia cruzado o oceano. Embora frotas maiores tenham sido formadas na Europa no passado, todas elas foram formadas para missões muito mais próximas, nunca transoceânicas.
Não era apenas um meio de transporte de frotas, a operação foi concebida como uma ação anfíbia altamente complexa, que lembrava as grandes operações navais do século XX. Os navios tinham a tarefa de desembarcar tropas, bombardear a cidade, proteger e abastecer a infantaria e impedir qualquer ataque por mar.
O cerco a Salvador da Bahia durou um mês, e as tropas trazidas da Europa foram acompanhadas por tropas portuguesas do Brasil, que já haviam cercado a cidade por meses. Quatro acampamentos foram montados em terra e outra frente de ataque foi estabelecida a partir do mar. Os holandeses ficaram completamente isolados e sujeitos a bombardeios constantes.
* Entre 1580 e 1640, Portugal esteve unido à Coroa Espanhola com a morte de D. Sebastião. Assim, a rivalidade hispano-holandesa foi transplantada para o Brasil, com a invasão da Bahia e Pernambuco.
O texto foi publicado em sua conta no X, España en el mar.