Lorenzo Carrasco
Num momento geopolítico desafiador, em que reemergem as preocupações com a precariedade das Forças Armadas brasileiras para cumprirem as funções básicas da defesa nacional, convém atentar para alguns aspectos relevantes para a questão.
Boa parte das discussões e opiniões manifestadas sobre o assunto destacam o item orçamentário, sugerindo que uma resposta seria o aumento da fatia do bolo destinada às Forças Armadas – mesmo caminho equivocado que, a propósito, vem sendo tomado na União Europeia diante da reorientação estratégica dos EUA de Donald Trump.
O problema, entretanto, não é tão simples. Aumentar os gastos pouco ou nada contribuirá para uma capacitação de defesa adequada, se esta não estiver inserida no contexto de uma retomada de um projeto de desenvolvimento da Nação como um todo, o qual inclua a reindustrialização, ampliação e modernização da infraestrutura física, qualificação da força de trabalho e, sobretudo, a recuperação da capacidade de crédito soberano do Estado, hoje “terceirizada” ao sistema bancário e financeiro que por si vez são braços da usura internacional globalizada.
Desde a década de 1990, o País foi convertido numa eficiente fábrica de juros, que fez do serviço da divisa pública o “negócio” mais atrativo da praça, em detrimento de quase todas as atividades produtivas, exceção feita para as que têm uma dinâmica própria, como as exportações de commodities agropecuárias e minerais. Em 2024, nada menos que 43% do orçamento federal tiveram essa destinação. Neste cenário, qualquer aumento da fatia para a defesa nacional terá que ser subtraído de outras rubricas, uma evidente manobra de soma zero.
Agora mesmo, o Banco Central “independente” se prepara para elevar a taxa Selic à ionosfera, o que contribuirá para deprimir ainda mais a economia real carente de investimentos produtivos.
Em essência, enquanto o Brasil se mantiver submisso aos ditames da usura rentista e com o Estado inviabilizado para fazer os investimentos diretos necessários para a retomada do crescimento, não haverá defesa efetiva possível contra as turbulências que podem ser esperadas nessa quadra crítica da História.
