
Wellington Calasans
Ao ler hoje cedo um artigo de Ron Paul, percebi que a minha percepção sobre a existência de uma “luta dos iguais” na política atual, é cada vez mais acertada. Basta olhar a defesa da agenda neoliberal por todas as classes política em praticamente todos os países.
No artigo, Ron Paul explica de maneira simples e pragmática como o presidente Donald Trump, que durante sua campanha criticou ferozmente o intervencionismo de Biden, parece ter seguido o mesmo caminho de seus predecessores ao ordenar um ataque militar massivo contra o Iêmen — um país que não ameaçava os EUA e sem qualquer declaração de guerra do Congresso.
A ironia é evidente: Trump, que prometeu “resolver problemas por telefone” em vez de lançar bombas, agora mergulha em um conflito que ameaça escalar para uma guerra regional no Oriente Médio, colocando em risco tropas norte-americanas e civis iemenitas, incluindo mulheres e crianças.
A ação contra o Iêmen, justificada pela retaliação a ameaças dos Houthi após o bloqueio israelense em Gaza, revela uma contradição gritante. Enquanto Trump e seu enviado Steve Witkoff negociavam um cessar-fogo entre Israel e Hamas, o Iêmen mantinha a paz no Mar Vermelho.
Porém, a decisão de Israel de impedir ajuda humanitária a Gaza — facilitada por armas e dinheiro dos EUA — reacendeu as tensões. Não satisfeito, Trump agora caminha para uma guerra regional que vai acelerar o declínio dos EUA como Império.
A possibilidade de um conflito armado com o Irã ressurgiu no debate público, acompanhada de argumentos que insistem em repetir erros históricos. Os sionistas que bancaram as campanhas dos Republicanos e dos Democratas dos EUA, querem a “contrapartida”.
Como destacado recentemente por Tucker Carlson, um ataque às instalações nucleares iranianas não apenas colocaria em risco milhares de vidas norte-americanas no Oriente Médio, mas também custaria dezenas de bilhões de dólares aos cofres públicos — estimativas realistas, segundo o próprio Pentágono.
Além disso, a retaliação iraniana poderia ampliar ações coordenadas em solo norte-americano, um risco ignorado por quem reduz a complexidade geopolítica a slogans vazios. Nesse aspecto, Trump parece estar preso ao período eleitoral.
Devemos lembrar que guerras não surgem do vácuo. A mídia, como já alertava o próprio Donald Trump em 2013, frequentemente atua como caixa de ressonância para narrativas belicistas, distanciadas das reais necessidades da população.
Basta observar o engajamento cego em “rebeldes moderados” na Síria ou a justificativa para a invasão do Iraque, ambos desastres anunciados por analistas que foram inicialmente marginalizados.
A história mostra que, quando o debate se resume a frases como “apaziguamento” ou “intervenção humanitária”, trata-se de um sintoma de pensamento superficial — algo que, como bem observado, não passa de “adesivos de para-choque” ideológicos.
A insistência em repetir estratégias falhas revela uma incapacidade de aprendizado. Após décadas de conflitos catastróficos, ainda há quem defenda escaladas militares sem considerar consequências de longo prazo. Os sionistas sabem disso, mas não estão preocupados com quem se vendeu.
É urgente substituir a retórica simplista por análises que equilibrem razão e contexto. Afinal, como lembra a literatura sobre argumentação, um editorial sério não deve apenas exprimir opiniões, mas estimular reflexão crítica.
Se há algo a ser aprendido das guerras no Iraque e na Síria, é que o custo humano e financeiro de decisões precipitadas recai sobre gerações.
Em vez de nos rendermos a narrativas superficiais, precisamos exigir transparência e questionar interesses ocultos por trás do belicismo.
Afinal, como escreveu Charlotte Mason, “ninguém sabe o quanto cada pessoa pode fazer” para evitar catástrofes — mas começar pela racionalidade seria um primeiro passo.
No caso dos Houthis, em vez de diplomacia, Trump optou por bombardeios, repetindo o erro de Bush e Obama, que também abandonaram promessas de paz ao assumir o poder. Não é difícil perceber que os presidentes norte-americanos são apenas fantoches do sionismo.
A escalada é perigosa. O conselheiro Mike Waltz já ameaça bombardear navios iranianos, um passo que poderia mergulhar a região no completo caos.
Enquanto isso, o Partido Republicano, que flertava com uma agenda “América em Primeiro Lugar”, vê suas vozes moderadas silenciadas por neoconservadores em cargos-chave da administração Trump.
Os custos são altos. Manter uma guerra distante drena recursos econômicos já sob pressão — como destacou Ron Paul, o Mar Vermelho tem importância marginal para a economia americana.
Além disso, alinhar-se incondicionalmente a Israel, ignorando a mediação de potências como Rússia e China, isola os EUA e aumenta o risco de retaliação.
A repetição de erros históricos não é inevitável. Cabe à sociedade exigir que líderes e mídia abandonem a lógica dos slogans e assumam uma postura sensata, pautada em dados e no aprendizado com o passado. Só assim evitaremos transformar o Oriente Médio em mais um capítulo de destruição desnecessária.
A solução, como defende Paul, é clara: retirar-se do conflito, cessar o apoio militar a Israel em Gaza e abandonar a belicosidade que só multiplica inimigos.
Sem intervenção, os EUA evitariam gastos desnecessários, protegeriam tropas e reconstruiriam relações estratégicas.
Infelizmente, enquanto figuras como Thomas Massie alertam sobre os riscos, a administração Trump parece decidida a repetir os erros do passado.
A história mostra que promessas de paz são facilmente esquecidas no poder. Cabe ao eleitorado exigir coerência — e aos líderes, coragem para seguir o exemplo de Ron Paul: um republicano que ousou ser consistente em sua defesa da não intervenção.