
Mario Lettieri e Paolo Raimondi
De acordo com o relatório Global Debt Monitor publicado pelo Instituto de Finanças Internacionais (IIF) no final de 2024, o montante da dívida global atingiu o valor recorde de US$ 318 trilhões, incluindo as dívidas públicas, das famílias, corporativa (de empresas não financeiras) e das instituições financeiras.
Em 2024, a chegada de Donald Trump, a redução significativa do crescimento, da inflação e a expectativa de congelamento das reduções das taxas de juros desaceleraram e reduziram a propensão à tomada de empréstimos no último trimestre do ano.
Por outro lado, a relação dívida/PIB global atingiu o máximo histórico de 328%!
A dívida total dos países desenvolvidos aumentou para US$ 214,3 trilhões e a dos países em desenvolvimento foi de US$ 103,7 trilhões.
Segundo o relatório, aproximadamente 65% do aumento da dívida global teria ocorrido nos mercados emergentes, principalmente, a China, Índia, Arábia Saudita e Turquia. Em 2025, os países emergentes terão que pagar uma dívida vincenda de US$ 8,2 trilhões, 10% dos quais denominados em moedas estrangeiras. Também se espera um período turbulento, devido às iminentes tempestades políticas e econômicas e à guerra comercial que se vislumbra.
Nos mercados desenvolvidos, a acumulação de dívida concentrou-se principalmente nos Estados Unidos, Grã-Bretanha, Canadá e Suécia.
A dívida do setor público lidera, com US$ 95,3 trilhões, seguida pela dívida corporativa, US$ 91,3 trilhões, e a das instituições financeiras, US$ 71,4 trilhões. A dívida das famílias chegou a US$ 60,1 trilhões.
De uma perspectiva setorial, quase dois terços do aumento da dívida vêm do setor público. A dívida governamental global ultrapassou US$ 95 trilhões, contra US$ 70 trilhões em 2019, antes da pandemia.
Em 2025, o Fundo Monetário Internacional (FMI) prevê que a dívida governamental global aumentará em pelo menos US$ 5 trilhões. E não se sabe ainda o efeito do aumento dos gastos militares em um mundo abalado por medos e provocações.
O relatório do IIF destaca como em muitos países, por exemplo, os europeus, as tentativas de controle dos orçamentos fiscais produziram fortes tensões e crises governamentais. Isto aconteceu no Reino Unido em 2022, na França em 2024 e, depois, com o recente colapso do governo alemão de Olaf Scholz.
Cerca de um terço da dívida global é detida pelos EUA, com mais de US$ 36 trilhões em dívida pública, cerca de US$ 22 trilhões de dívida empresarial e US$ 20 trilhões da chamada dívida doméstica (famílias e indivíduos). Depois, há a questão das instituições financeiras, que é mais difícil de calcular.
Tenha-se em mente que isso não inclui outros itens, como a crescente bolha das criptomoedas e a ainda mais explosiva bolha dos derivativos “de balcão” (OTC) não regulamentados. Segundo estimativas do Banco de Compensações Internacionais (BIS) de Basileia, estes últimos têm um valor nominal de até US$ 730 trilhões!
A bolha da dívida global está no limite da sua capacidade. A dos EUA está ainda mais estressada, algo que vem desde a grande crise de 2008. Além das projeções geopolíticas estadunidenses para definir uma nova ordem política mundial, a obsessão do presidente Trump em tomar matérias-primas e terras raras da Ucrânia, Groenlândia e Canadá encontra uma explicação relevante na bolha da dívida dos EUA. Esses recursos valem várias dezenas de trilhões de dólares. Se essas imensas riquezas se tornassem estadunidenses, Trump poderia dizer que a dívida, embora enorme, seria garantida por esse fundamento excepcional.
Ao nosso ver, o mundo parece atravessar uma grande tempestade, porque os grandes timoneiros estão desaparecidos ou ocupados com outras coisas e, infelizmente, o povo parece resignado.
Publicado no Jornal do MSIa, março de 2025.
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