
Lorenzo Carrasco
Depois de detonar a Agência dos Estados Unidos para o Desenvolvimento Internacional (USAID) e a Fundação Nacional para a Democracia (NED), o governo Trump foi diretamente contra o cérebro do conceito de “governo mundial”, o Wilson Center de Washington. Na semana passada, a entidade recebeu a visita da força-tarefa do Departamento de Eficiência Governamental (DOGE) capitaneada por Elon Musk, informando que quase todos os seus 130 funcionários seriam postos em licença remunerada, para demissão posterior.
Um dos mais influentes think-tanks dos EUA, o Wilson Center foi criado em 1968 por uma lei do Congresso e um terço do seu orçamento é provido pelo governo federal, sendo o restante oriundo de doações privadas. Porém, o seu presidente é nomeado pelo presidente da República. Dele saiu grande parte das iniciativas que, nas décadas seguintes, se converteram em políticas de governo e ações empresariais privadas que conduziram à globalização financeira e ao esforço de formação de estruturas de “governo mundial”, inclusive as operações de “revoluções coloridas” nos países do antigo bloco soviético, ações que atraíram fortes críticas da Rússia.
O Brasil recebeu grande atenção do WC, que criou o Brazil Institute para promover as linhas de ação de interesse para tal agenda. No sítio do instituto, listam-se as seguintes: promoção das energias sustentáveis; futuro da democracia (sic); promoção de convergências nas relações EUA-Brasil; sociedade digital. Um evento que discutiria o papel dos minerais críticos do Brasil na transição energética foi cancelado.
Em 1982, o Wilson Center foi o cofundador, junto com a família Rockefeller, do famigerado Diálogo Interamericano (DI), criado para reconfigurar a imagem dos EUA na Ibero-América após a Guerra das Malvinas, na qual o apoio direto de Washington ao Reino Unido rasgou o Tratado Interamericano de Assistência Recíproca (TIAR), que vinha sendo desde 1947 o pilar central da defesa continental. Reunindo representantes de todos os países americanos, exceto Cuba, o DI é o principal promotor das políticas da “Nova Ordem Mundial” no Hemisfério Ocidental, inclusive a abertura das economias nacionais, a “desmilitarização” da América do Sul, descriminalização das drogas e outras. Um dos seus membros fundadores foi o então senador Fernando Henrique Cardoso. Como ele, numerosos integrantes do DI ocuparam altos cargos de governo em todos os países representados.
Embora ainda não haja informações a respeito, não será surpresa se o Diálogo Interamericano estiver na mira do DOGE. De qualquer maneira, o Brasil pode celebrar o fechamento de mais um órgão de planejamento de intervenções políticas contrárias aos seus interesses maiores.