
Eleições no Equador: qualquer cenário manteria o poder dos cartéis da “cocada branca”
Wellington Calasans
Daniel Noboa, da Aliança Democrática Nacional (ADN), permanecerá como presidente do Equador até 2029.
Noboa venceu as eleições de 2025 com mais de 5 milhões de votos, superando a candidata Luisa González, da aliança Revolução Cidadã (RC)-RETO, que obteve pouco mais de 4 milhões dos votos, segundo a contagem oficial das eleições presidenciais de 2025 , com 91% dos minutos apurados e com uma tendência irreversível.
O teatro da “disputa” segue firme em mais um país, agora com mais um concorrente derrotado contestando os resultados.
Desta vez a imprensa do Equador afirma que “a candidata Luisa González se recusou a aceitar os resultados, que mostraram sua derrota por mais de um milhão de votos a favor do atual presidente”.
A verdade é que a frágil democracia equatoriana tem na realização da eleição uma espécie de fachada para a manutenção da farsa do “confronto político”.
Graças à presença dos tentáculos dos cartéis de drogas, o Equador vive uma crise institucional sem precedentes, onde a disputa entre o presidente reeleito, Daniel Noboa, e sua principal adversária, Luisa González, lembra mais um teatro político do que um embate genuíno.
Noboa foi declarado vencedor, mas González recusou-se a reconhecer o resultado, alimentando uma narrativa nitidamente falsa de polarização.
Análises independentes apontam que ambos os lados compartilham interesses ocultos: a manutenção de estruturas de poder vinculadas ao narcotráfico.
A fragilidade institucional do país é explícita. A classe política mascara sua cumplicidade com cartéis sob um discurso de “guerra contra as gangues” — uma cortina de fumaça para desviar a atenção de acordos clandestinos.
A máscara da “guerra às drogas” com a suposta ofensiva de Noboa contra o crime organizado revela-se seletiva. Embora promova operações midiáticas contra grupos menores, ele evita confrontar cartéis poderosos como o Sinaloa, o CJNG (Cartel Jalisco Nueva Generación) e as redes dos Balcãs.
Essa estratégia sugere a existência de pactos tácitos para garantir a circulação de drogas e dinheiro, enquanto a dissidência é brutalmente reprimida.
O assassinato do ativista anticorrupção Fernando Villavicencio, em 2023, pelo cartel Los Lobos, expôs o preço de desafiar essas redes.
Sob o manto da austeridade fiscal, o Estado equatoriano — dominado por uma narcopolítica — prioriza a estabilidade financeira dos cartéis em detrimento da justiça social.
A lavagem de dinheiro e integração global equatorianos atingem também outros países, inclusive o Brasil que hoje é um dos principais consumidores de cocaína e um dos maiores centros de distribuição do planeta, razão para o papel do sistema financeiro ser tão presente nas políticas econômicas, fiscais e aduaneiras.
O jornalista Andrés Durán, exilado após revelar as ligações de Noboa com o narcotráfico, documentou como o Equador se tornou um epicentro de lavagem de dinheiro.
A dolarização da economia, aliada à fragilidade regulatória, permite que bilhões de dólares provenientes do tráfico sejam injetados no sistema bancário internacional, conectando-se a operadores criminosos no Kosovo, no México e em outros paraísos de lavagem.
Essa engrenagem não apenas corrompe as instituições locais, mas também integra o Equador a uma rede global de capital ilícito, essencial para sustentar a liquidez de mercados formais em crise.
Enquanto isso, cortes orçamentários enfraquecem ainda mais o Estado, facilitando a captura de agências de segurança e do Judiciário pelos cartéis.
Nota complementar
Hoje, o Equador é um Estado à beira do colapso, com os cartéis infiltrados em todas as esferas — do Congresso à polícia.
A impunidade reina: políticos, empresários e autoridades financeiras atuam como sócios ocultos do crime organizado, enquanto a população enfrenta violência, pobreza e desespero.
A reeleição de Noboa, sustentada por uma máquina de propaganda e repressão, simboliza a consolidação de um regime narcocrático.
Sem uma ruptura radical, o país caminha para se tornar um narcoestado pleno, onde a democracia é apenas um simulacro para legitimar a dominação das drogas.