
Lorenzo Carrasco
A investida do presidente Donald Trump contra a Universidade de Harvard não é um gesto gratuito e reacionário contra a autonomia universitária ou a liberdade de pensamento, mas um golpe contra um dos principais centros de difusão da nefasta “correção política”, que tanto mal tem causado aos EUA e a todo o mundo.
E a quase quadricentenária Harvard (foi fundada em 1636) não é uma universidade qualquer, mas um dos principais centros de preparação das elites que ditam os rumos dos EUA e influenciam muitos outros, sem falar de suas inestimáveis contribuições para o avanço do conhecimento, como atestam os seus 161 agraciados com o Prêmio Nobel.
Não por acaso, aportou importantes contribuições para a globalização financeira das últimas décadas, das quais uma das mais relevantes foi precisamente o aprimoramento das pautas “identitárias”, uma das técnicas da engenharia social que ajudaram a mergulhar todo o Ocidente no atual impasse civilizatório, marcado pela atomização de sociedades assoladas pelo individualismo exacerbado a erosão do sentido de transcendência, propósito e percepção de um futuro positivo.
Ou seja, trata-se do centro simbólico de geração da mitose oligárquica, a forma de reprodução do pensamento dos futuros operativos e lideranças da sociedade “globalizada”, cujos próceres acusaram a virtual declaração de guerra de Trump à matriz desse impulso anticivilizatório.
Por isso, não admira que o tradicional jornal “O Estado de S. Paulo” tenha dedicado ao tema um editorial sugestivamente intitulado “O assalto de Trump à razão” (18/04/2025), acusando o presidente de pretender “asfixiar o mundo acadêmico americano, com indisfarçável propósito de subjugá-lo”.
E que, no mesmo “Estadão” de 20 de abril, o presidente do conselho administrativo do Bradesco, Luiz Carlos Trabuco Cappi, tenha feito elogios rasgados à Brazil Conference, promovida pelos estudantes brasileiros de Harvard e do Massachusetts Institute of Technology (MIT). Foi ali que, recentemente, o ex-presidente do Banco Central, Armínio Fraga, propôs o congelamento do salário mínimo real por seis anos, para “combater o déficit fiscal” brasileiro.
De acordo com Cappi, “o evento anual promove reflexões e apresenta as experiências entre aqueles que já alcançaram ou estão em plena realização dos seus objetivos, e os que ainda se preparam para empreender ou aplicar sua formação no mundo corporativo”.
Em português claro, começam a carimbar o seu ingresso na Faria Lima e sua esfera de influência, para ajudar a perpetuar a globalização em terras brasileiras.
Não é à toa que estão todos em polvorosa com a investida de Trump.