
Lorenzo Carrasco
Há várias horas, grandes partes de Portugal e da Espanha estão às escuras, devido a um blecaute de grandes proporções, que foi prontamente atribuído a um “fenômeno atmosférico raro”.
“Devido a variações extremas de temperatura no interior de Espanha, verificaram-se oscilações anômalas nas linhas de muito alta tensão (400 KW), um fenômeno conhecido por vibração atmosférica induzida por Ging. Essas oscilações provocaram falhas de sincronização entre os sistemas elétricos, levando a perturbações sucessivas em toda a rede europeia interligada”, explicou a operadora portuguesa REN.
Ora, pois, só faltou fazer alguma referência às onipresentes mudanças climáticas.
Porém, horas depois, a própria operadora voltou atrás e informou que o problema ocorreu pelo desligamento de uma linha que passa pela França.
Especulação por especulação, aqui vai uma: na hora em que o apagão começou, Portugal e Espanha em conjunto estavam gerando mais de 80% do seu abastecimento elétrico com centrais eólicas e solares, notórias pela sua intermitência e pelos problemas que causam quando a eletricidade gerada por elas (em corrente contínua) é introduzida nas redes de base, que operam em corrente alternada. Recordemos que, no Brasil, essa foi a causa do apagão de 15 de agosto de 2023. Quem sabe, a França, que gera 90% da sua eletricidade com usinas nucleares, hidrelétricas e termelétricas, tenha sido mesmo a origem do problema, pois os sistemas elétricos têm dispositivos de proteção das linhas contra sobrecargas e oscilações de corrente, típicas das fontes intermitentes.
Talvez, mais que um “fenômeno raro”, o problema esteja na falta de bom senso de pretender abastecer sociedades urbanizadas e industrializadas com “fontes atmosféricas”(vento e sol) tão permanentemente instáveis.