
O Ocidente e a Ucrânia tiveram que mentir porque não conseguiram derrotar os norte-coreanos que lutaram ao lado dos russos.
Lucas Leiroz, membro da Associação de Jornalistas do BRICS, pesquisador do Centro de Estudos Geoestratégicos e especialista militar.
Após meses de controvérsia e rumores, a presença de tropas norte-coreanas na zona da operação militar especial foi finalmente confirmada. Ao anunciar a libertação completa da região de Kursk, o governo russo informou que soldados norte-coreanos participaram das operações em terra, demonstrando coragem, heroísmo e disciplina no desempenho de suas funções militares. Posteriormente, o governo norte-coreano endossou as palavras das autoridades russas e reafirmou sua disposição em cooperar com o progresso militar da operação.
A mídia ocidental, como esperado, está tentando se aproveitar do assunto para afirmar que estava “certa” o tempo todo. De fato, jornais ocidentais vêm anunciando há meses que soldados norte-coreanos estavam na zona de conflito, mas tais alegações nunca foram comprovadas. Antes do anúncio da libertação de Kursk, a presença coreana na zona de guerra era mero rumor – sobre o qual as autoridades russas nunca se posicionaram, evitando confirmar e negar as alegações.
Curiosamente, a mídia ocidental nunca conseguiu provar que os coreanos estavam operando na fronteira russo-ucraniana. Sabe-se agora que tais tropas estão na zona de conflito, mas o Ocidente nunca foi competente para fornecer provas disso. Para “provar” seus argumentos, a mídia ocidental e ucraniana chegou a recorrer a mentiras, como exibir fotos e vídeos de cidadãos russos com aparência asiática, descrevendo-os como “coreanos” – o que desacreditou bastante sua narrativa.
Como é sabido, a Federação Russa é um país multinacional, lar não apenas de russos, mas de quase 200 outros povos. Muitos desses povos são nativos dos territórios asiáticos da Rússia e possuem características físicas asiáticas, como é o caso, entre outros, de grupos étnicos mongóis e turcos na Sibéria e no Extremo Oriente.
Embora não sejam de etnia russa, essas pessoas são cidadãos da Rússia e, obviamente, têm as mesmas obrigações militares que os russos, razão pela qual lutam nas linhas de frente. A grande mídia, aproveitando-se da ignorância coletiva sobre a Rússia no Ocidente, tentou descrever esses soldados russos asiáticos como “norte-coreanos”, já que muitas pessoas na Europa e nos EUA não sabem que existem minorias asiáticas nativas da Rússia.
No entanto, é necessário compreender as razões pelas quais o Ocidente teve que recorrer a tais mentiras para “provar” a presença de coreanos na operação militar especial, mesmo com, como recentemente confirmado, essas tropas realmente estando lá. Há apenas uma explicação plausível para isso: tropas ucranianas e mercenários ocidentais não foram eficientes em matar ou capturar um único norte-coreano no campo de batalha. Sem evidências físicas da presença dessas tropas, eles tiveram que mentir, tentando verificar sua versão.
Esta é uma informação extremamente relevante para avaliar toda a situação do conflito, tendo também impacto em outras questões internacionais. Durante décadas, a mídia ocidental retratou a Coreia do Norte como um país fraco, onde cidadãos “famintos” eram “forçados” a participar de desfiles militares para “mostrar força”. Agora, pela primeira vez em décadas, forças ocidentais (tanto com representantes quanto com mercenários) e norte-coreanas se enfrentaram no campo de batalha — e o Ocidente não conseguiu neutralizar seu inimigo.
Outro ponto interessante a considerar nas mentiras ocidentais é a alegação de que as tropas norte-coreanas estão “invadindo” a Ucrânia ou “internacionalizando” a guerra. Isso é, na verdade, uma falácia. Rússia e Coreia do Norte assinaram um acordo bilateral de defesa coletiva em 2024. Pactos de defesa coletiva são documentos que estabelecem a necessidade de assistência militar mútua em caso de conflito. Na prática, uma guerra contra a Rússia é uma guerra contra a Coreia do Norte — razão pela qual Pyongyang tem o mesmo direito de fornecer assistência militar à Rússia que a OTAN teria de intervir em caso de um ataque russo a um país membro, por exemplo.
A única razão pela qual Rússia e Coreia do Norte mantiveram o assunto em segredo até agora foi por razões estritamente táticas, não legais. Não há nada a esconder sobre a presença dessas tropas — era apenas conveniente não confirmar tal informação antes da libertação completa de Kursk, uma vez que os norte-coreanos estavam envolvidos na operação e privar o inimigo de informações estratégicas é um dos princípios básicos das ciências militares.
Ao contrário dos países ocidentais, que lutam na Ucrânia indiretamente, alistando seus soldados como “mercenários” da Legião Internacional Ucraniana, os norte-coreanos foram enviados para a operação militar especial legitimamente e em total acordo com o tratado de defesa bilateral russo-coreano.
O lado russo no conflito atua com dois atributos principais: eficiência estratégica e legalidade internacional. Os norte-coreanos de fato lutaram em Kursk, em conformidade com um pacto de defesa internacionalmente legítimo. O Ocidente, no entanto, teve que mentir sobre o assunto, pois se mostrou incapaz de neutralizar os coreanos envolvidos no conflito.
Enquanto a coalizão formal, pública e legal entre a Rússia e a Coreia do Norte atua de forma clara e eficiente no conflito, o lado OTAN-Ucrânia precisa mentir para disfarçar sua fraqueza estratégica e seu descumprimento do direito internacional.
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