
O escândalo no INSS acertou em cheio o governo e o Ministério da Previdência. Esquemas de corrupção aconteceram aos montes, principalmente envolvendo superfaturamento de obras, sobrepreço em compras do governo ou repasses para ONGs. Mas desta vez foi diferente: um conluio entre associações privadas e gente dentro do INSS subtraiu valores pagos pela entidade a milhões de aposentados e pensionistas pelo país, muitos deles que recebem valores entre um e dois salários mínimos.
O esquema foi detectado pela Controladoria-Geral da União (CGU), e há uma investigação em curso pela Polícia Federal que já vem cumprindo mandados de prisão de diversos envolvidos. Não se sabe qual o valor que foi desviado, no total, nem a amplitude do esquema, pois surgem indícios de envolvimento de esquemas de crédito consignado, com participação de empresas de seguros e plano de saúde. É o caso de Maurício Camisotti, preso no dia 23 de abril na Operação Último Desconto, proprietário de companhias nesse ramo, que, segundo o portal “Metrópoles”, teria ligação com diversos políticos e lobistas em Brasília.
Dependendo de quão amplos sejam os esquemas de corrupção, os valores desviados podem passar dos R$ 10 bilhões.
Como o governo reage às denúncias? A primeira reação foi jogar a culpa no governo anterior, com a informação de que o esquema teria surgido em 2019 e detectado pela CGU no Governo Lula 3. No entanto, logo ficou claro que se o esquema começou neste ano, os valores cresceram quase que exponencialmente a partir de 2023, chegando a um pico em 2024.
Por outro lado, o comando do Ministério da Previdência esteve desde o início do governo com o presidente e controlador de facto do PDT, Carlos Lupi. Este assumiu a culpa, dizendo ter identificado “algo de estranho”, mas não imaginava “que seria tão grande”. Acabou demitido, depois do então do presidente do INSS, Alessandro Steffanuto, na época do auge dos desvios. Contudo, a pasta continua com o PDT, com Lupi emitindo uma nota que continuará “acompanhando de perto e colaborando com o governo”. Quem comanda a Previdência é Wolney Queiroz, indicação do ex-ministro com quem trabalhava já na Previdência.
O escândalo no INSS coloca o PDT na lama. Lupi assumiu a responsabilidade pelo que acontecia e até mesmo pela indicação de Steffanuto, que era filiado ao PSB na época em que assumiu o INSS, só deixando este partido pelo PDT em janeiro deste ano. Apesar de ser um servidor de carreira na entidade, não deixa de ser curioso que uma suposta indicação do manda chuva do PDT recaia em um não filiado, apesar do PSB compor a base do governo.
No fim, a entrada do PDT só gerou desgaste político para um partido que lançou candidatura própria nas últimas duas eleições presidenciais e que presencia um esquema de corrupção violento dentro do único ministério que controla. E continua controlando, como se dele dependesse em seu projeto político, dentro da base do governo, em um momento em que até indicado do União Brasil rejeita o Ministério das Comunicações, levando em conta a maré de desgaste do governo, em 2025, desde a tentativa atrapalhada de garfada no PIX.
Como disse Aldo Rebelo, “quando o bezerro rejeita a vaca é sinal de que maus tempos se avizinham”. Ou de que a teta pode estar seca ou o leite contaminado.
Enquanto isso, surge uma estratégia de comunicação dentro das hostes petistas de ataque ao PDT, como se este estivesse manobrando com setores da grande imprensa para viabilizar a candidatura de Ciro Gomes – tal como alguns textos do veículo semi-oficial do petismo, o “Brasil 247” parecem indicar. Para as lideranças do PDT não basta assumir a culpa, ainda têm que ouvir insinuações de que seriam traidores, quando, na verdade, Ciro parece isolado dentro do partido, sem se manifestar oficialmente sobre tudo o que tem acontecido. Logo ele que é um dos mais ágeis em apontar “coisas estranhas” neste governo, tal como o pagamento integral aos precatórios no final de 2023.
Para Ciro Gomes, que ainda tem capital político, conforme algumas sondagens para as eleições de 2026 apontam, a permanência no PDT é um fardo antes de ser uma vantagem, já que faz parte da ala minoritária contrária à participação no governo. E caso o PDT opte em viabilizar sua candidatura, o escândalo do INSS não deixará de ser uma mácula, ainda que ele não tenha nada a ver com os desvios. O envolvimento direto ou indireto do PDT no escândalo será explorado pelos opositores – tanto no bolsonarismo como até no petismo.
Para o grande público, ficará a narrativa que os grandes esquemas de corrupção voltaram com Lula e o PT no poder também, não importa que estes o quanto estes queiram culpar o PDT, Ciro Gomes ou os bolsonaristas. Tudo depende do que aparecerá nas semanas seguintes, com a cobertura da imprensa (já que não há mais como abafar) e das ações da PF. E de quem sejam os envolvidos, no esquema como um todo.