
Matéria publicada no “New York Times” relatou como a Polícia Federal teria desmantelado uma rede de espionagem russa no Brasil. Esses espiões não estariam aqui para coletar informações sobre o Brasil ou para se infiltrar em órgãos brasileiros para esse fim, mas para usar o país como plataforma para construir identidades falsas para partirem para terceiros países – Estados Unidos e países europeus e do Oriente Médio, sobretudo.
Essa atividade foi a causa para que a PF fosse atrás desses nove espiões, que estariam falsificando documentos para forjarem identidade de brasileiros. A ação dar-se-ia em base na já notória busca de estrangeiros por passaporte e identidade brasileiros, pela diversidade étnica do nosso povo, que permitiria a qualquer um, independentemente da aparência física, em se passar por brasileiro.
O desmantelamento da rede teria se dado por meio da Operação Leste da PF, cujas investigações datam de pelo menos 2022, ano em que um agente russo chamado Sergei Cherkasov tentou entrar na Holanda, procurando se infiltrar no Tribunal Penal Internacional como estagiário, usando um passaporte falso brasileiro com o nome de Victor Muller Ferreira.
A PF está correta em agir contra esses agentes de governos estrangeiros que usam cometem crimes no país, incluindo a falsificação de documentos como CPF e RG. Mas o ponto principal que a própria matéria do NYT não deixa de ressaltar é que a nossa polícia agiu sob notificação e orientação de agências de inteligências estrangeiras, envolvidas nessa disputa com a Rússia, responsáveis pela coleta das informações sobre os agentes russos.
De 1999 a 2004, a revista “Carta Capital”, em matérias assinadas pelo jornalista Bob Fernandes, publicou uma série de reportagens sobre a ação de agentes da CIA, do FBI e da Drug Enforcement Agency (DEA) no Brasil. Não usaram o Brasil como plataforma para atividades em terceiros países, mas para grampear o Palácio do Alvorada, para escutar ligações do presidente da República, e o Itamaraty. Uma reportagem mostra como a CIA passou a controlar uma parte da PF a ponto de submeter delegados e agentes a testes de detector de mentiras em Washington. Outra apresentou a lista de agentes operando em território nacional.
O controle vindo de fora foi facilitado pela precária situação orçamentária da PF, que passou a bancar algumas operações. A DEA repassou valores para delegados em ações contra o narcotráfico e a CIA, além de também fazer repasses, instalou uma base para “compartilhamento de informações”, de onde teria saído, segundo as reportagens, o grampo no presidente.

Em 2024, Duarte Raab Pires foi nomeado a direção da cooperação internacional da Polícia Rodoviária Federal. Segundo o porta Pátria Latina o agente da PRF teria três nacionalidades (brasileira, portuguesa e israelense) e teria vivido em Israel e servido na IDF, as forças armadas deste país.
O agente foi investigado em uma operação da PF pela contratação pela PRF da empresa de software israelense Cognyte, notoriamente envolvida em espionagem e coleta de dados, sem processo licitatório, para adquirir um sistema para realizar pesquisas em redes sociais e deepweb, além de invadir grupos de WhatsApp e Telegram, por R$ 5 milhões. Duarte teria pago, em fevereiro de 2018, uma viagem do então diretor-geral da PRF para Tel-Aviv, antes do contrato, que teria tido também a intermediação de Caio Santos Cruz, filho de ex-ministro de Bolsonaro.
Há espiões que falsificam documentos e aqueles que não precisam. Há agentes que usam o Brasil como plataforma para outros países e outros que o têm como alvo. A PF pareceu mostrar serviço na ação contra os agentes russos, mas até que ponto ele pode agir contra os agentes estrangeiros em território nacional?