
Wellington Calasans
A história da Guerra Fria está cada vez mais viva e os conflitos atuais resgatam padrões que ressoam perigosamente no cenário de escalada entre grandes potências.
Em 1949, os Estados Unidos elaboraram a Operação Dropshot, um plano para destruir a União Soviética com mais de 300 bombas nucleares e 20 mil toneladas de explosivos.
Embora a China não fosse o alvo principal, documentos sugerem que sua inclusão era estratégica, antecipando um conflito global.
Hoje, a situação parece uma versão atualizada desse plano: a Europa pressiona a Rússia na Ucrânia, enquanto os EUA redirecionam recursos para conter a China, vista pelo Tio Sam como uma “ameaça existencial”.
Essa divergência de prioridades expõe aparentes fissuras na OTAN, mas pode significar apenas mais uma estratégia de entretenimento, assim como a revelada com os acordos de Minsk que foram usados para consolidar interesses ocidentais, não para pacificar conflitos.
A Rússia, enredada em uma narrativa ocidental que a culpa pela guerra, enfrenta uma Europa que prolonga o conflito para minar sua economia e influência.
Devemos recordar que os Acordos de Minsk II (2015), inicialmente concebidos como cessar-fogo, serviram para que a OTAN reorganizasse forças e transformasse a Ucrânia em um campo de batalha por procuração.
Enquanto isso, as negociações estagnam: Putin insiste em um “Acordo de Grandes Potências” que reconheça suas anexações, mas a OTAN mantém a ilusão de diálogo, enquanto sabota qualquer possibilidade de cessar-fogo.
A narrativa de que as sanções explicam o impasse oculta um cálculo mais sinistro: os EUA fingem sair da Ucrânia, mas apenas para tentar criar novos caminhos para uma guerra contra a China. Enquanto a Europa tenta ocupar a Rússia em uma guerra interminável contra a Ucrânia, mesmo arriscando ser engolida por crises migratórias e energéticas.
A OTAN, enquanto fala em cessar-fogo, reforça sua presença no Leste Europeu, realizando exercícios conjuntos que contradizem sua retórica diplomática.
A escalada já não pode mais ser escondida pela máquina de propaganda, conhecida como imprensa, pois as autoridades dos EUA falam abertamente sobre a China como uma “ameaça existencial”.
A Rússia, por sua vez, intensifica sua capacidade militar. Em 2024, sua produção de drones kamikaze saltou de 300 unidades/mês para 500/dia, permitindo ataques massivos com até 1.000 drones simultaneamente.
Essa escalada sugere preparação para uma guerra de desgaste, pressionando a Ucrânia e seus aliados a repensarem estratégias da Operação Dropshot 2, em que a OTAN tentará uma guerra total contra a Rússia, China e aliados de ambos.
A competição entre EUA e China transcende a Ucrânia, mas o conflito serve como laboratório para testar influências. Os primeiros ensaios foram realizados através de uma Guerra Comercial, mas isto é apenas o começo.
Os EUA mantêm grande capacidade militar, mas peca na obsolescência tecnológica de porta-aviões, sistemas antimísseis e drones de vigilância (como o MQ-9 Reaper), quando até mesmo o Iêmen impediu que os norte-americanos sustentassem a ideia de hegemonia.
A ajuda militar à Ucrânia (US$ 75 bilhões desde 2022) visava conter a Rússia, mas os resultados não foram o esperado. A Rússia mostrou ser extremamente resiliente e hoje, contra todos os prognósticos ocidentais, está mais forte.
No Indo-Pacífico, onde os EUA querem travar uma nova guerra, a China expande sua marinha (355 navios) e investe em mísseis hipersônicos (DF-26) e guerra cibernética. O cenário esboçado na região é de nova derrota e humilhação, pois a OTAN é sinônimo de corrupção e despreparo.
A China, acusada de fornecer componentes para drones russos, explora o vácuo deixado pela distração ocidental. Seu plano de autossuficiência tecnológica (“Made in China 2025”) ameaça a dependência ocidental de semicondutores e IA, fator determinante para as novas armas de guerra.
Enquanto os EUA dispersam esforços entre Europa e Pacífico, a China consolida alianças, como o acordo militar com o Irã e a Coreia do Norte, potencializando um eixo revisionista. A Rússia também segue o mesmo roteiro e, juntos, estes países seriam hoje imbatíveis.
Um cenário em que Irã e Coreia do Norte se unem à Rússia e China não é ficção. O Irã já fornece drones e mísseis à Rússia, enquanto a Coreia do Norte possui munições e armas que podem ser determinantes nas guerras da OTAN (Dropshot 2) na Ucrânia e na China.
Essa coalizão, embora subestimada, poderia desafiar a ordem ocidental em múltiplas frentes: do Ciberespaço ao Mar do Sul da China. Para a OTAN, a estratégia de “sequencializar” conflitos (focar na China após ou simultaneamente à Ucrânia) negligencia a capacidade de potências rivais de sincronizar resistências.
A repetição de erros históricos — como pactos sem garantias (Minsk) ou planos de dominação (Dropshot) — revela a incapacidade do Ocidente de aprender com o passado.
A OTAN deveria lembrar que a Rússia, mesmo sob sanções, mantém poder de desestabilização, enquanto a China emerge como a principal adversária dos EUA.
A paz global depende de negociações que reconheçam as realidades de poder, não de ilusões. Do contrário, o mundo caminha para uma escalada sem precedentes, onde a sombra de alianças antigas e novas poderá definir o século XXI.