
Wellington Calasans
Na madrugada de 13 de junho de 2025, Israel lançou a Operação Rising Lion (Leão em Ascensão), desencadeando dezenas de ataques aéreos contra o Irã, focados em instalações nucleares e militares.
O Irã classificou aquela ofensiva como a mais severa desde a Guerra Irã-Iraque (1980-1988), com explosões registradas em Teerã e outras regiões estratégicas.
A justificativa israelense baseou-se no relatório da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA) de 2024, que apontou enriquecimento de urânio a 60% — nível insuficiente para armas nucleares, que exigem 90%.
Contudo, Israel, que mantém um arsenal nuclear não declarado e fora do Tratado de Não Proliferação (TNP), usou o dado para legitimar sua ação militar, contando com o apoio tácito dos EUA.
A Resposta Iraniana ocorreu com a chamada operação militar True Promise-3, uma retaliação. O Irã lançou centenas de mísseis balísticos contra Israel, atingindo Tel Aviv, Haifa, instalações militares e infraestruturas estratégicas em praticamente todo o território israelense.
Surpreendentemente, sistemas de defesa israelenses, como o THAAD americano, falharam em interceptar grande parte dos projéteis, expondo fragilidades na narrativa de “domínio dos céus” propagandeada por Netanyahu.
Os ataques causaram dezenas de mortes e destruíram infraestruturas críticas, incluindo possíveis danos a arsenais nucleares israelenses — cuja extensão permanece incerta. A Guarda Revolucionária Iraniana reivindicou a morte de 78 pessoas, incluindo oficiais e cientistas nucleares, mas a cifra real pode ser maior.
O presidente Donald Trump, que inicialmente prometeu mediação, deu carta branca a Israel após conversas com Netanyahu em 9 de junho. Apesar de retirar funcionários não essenciais da região em 11 de junho, sinalizando cautela, ele afirmou que um ataque israelense “poderia acontecer” — uma autorização indireta para a ofensiva de 13 de junho.
Após os ataques, Trump elogiou a ação como “excelente” e pressionou o Irã a negociar, exigindo o desmantelamento de seu programa nuclear civil sob ameaça de mais violência.
Esse apoio contrasta com sua promessa de campanha de evitar guerras, consolidando-o como cúmplice de um conflito potencialmente global.
A Rússia condenou os ataques e ofereceu mediação, mas seu papel é limitado pela polarização internacional. Putin alertou Netanyahu e Trump sobre os riscos de retaliação nuclear, enquanto a China está cada vez mais próxima do Irã, avaliando oportunidades de influência regional.
A imprensa segue o mesmo script usado na guerra da Ucrânia: valoriza exageradamente qualquer ganho de Israel (antes era com a Ucrânia) e esconde as conquistas do Irã (era a Rússia).
“Especialistas” falam sobre o temor de que o Irã receba mísseis hipersônicos Zircon da Rússia e outros equipamentos da Coreia do Norte, capazes de ameaçar porta-aviões norte-americanos, replicando a estratégia de apoio ocidental à Ucrânia.
Paralelamente, Netanyahu intensifica a narrativa de que o Irã planeja “bombardear a costa leste dos EUA” e “entregar armas nucleares aos Houthis” — afirmações não corroboradas pela AIEA e que servem apenas para atrair os EUA diretamente para a guerra.
E assim, a escalada expõe a fragilidade da narrativa israelense: enquanto Netanyahu vende a imagem de invencibilidade, o Irã demonstra capacidade de resposta massiva, mesmo sem armas nucleares.
Previsíveis, numa declaração conjunta do G7, os “líderes” (modo de falar) do grupo dos países mais ricos do mundo, como Donald Trump (EUA), Emmanuel Macron (França) e Keir Starmer (Reino Unido), “reiteraram o seu apoio” a Israel e acusaram o Irã de ser “a principal causa do terrorismo e da instabilidade regional”. Piada repetida perde a força.
Diante de tudo isso, vemos que a comunidade internacional enfrenta um dilema: pressionar por diálogo ou assistir à expansão de um conflito que já ameaça a estabilidade global. Os atores antagônicos são os mesmos que atuam na Ucrânia.
Com Trump alimentando a guerra e potências como Rússia e China posicionadas no tabuleiro, o Oriente Médio caminha para um precipício sem retorno — onde a paz depende menos de ideais e mais de cálculos de sobrevivência geopolítica.