
Lorenzo Carrasco
Caro leitor, apesar da retórica inflamada, não é regime clerical do Irã ou a legião de “antissemitas” que considera os judeus como integrantes de uma conspiração mundial. Hoje, a maior ameaça à existência do Estado de Israel é o primeiro-ministro Benjamin Netanyahu e o grupo de fundamentalistas belicistas que o apoia e decidiu lançar o país em uma aventura bélica potencialmente suicida contra o Irã, com o apoio da CIA, o MI-6 e a inteligência francesa.
Para qualquer pessoa racional, é evidente que, a despeito de todo o seu poderoso arsenal, inclusive nuclear, Israel não tem condições de enfrentar uma guerra de atrito com o Irã. Um país que tem território, população, economia e recursos naturais muito maiores que Israel, com uma liderança coesa e articulada com uma força militar capaz de sustentá-la, sem esquecer-nos de uma população orgulhosa de sua história de milhares de anos e que, apesar da oposição de boa parte dela ao regime liderado pelo aiatolá Ali Khamenei, está unida contra a agressão externa.
E, se Netanyahu levar sua aposta às últimas consequências e apelar para a “Opção Sansão”, com o lançamento de armas nucleares contra o Irã, estará condenando Israel à condição de pária global e incorrendo no risco extremo de uma retaliação nuclear por um Estado como o Paquistão, que já antecipou a intenção, caso tal cenário apocalíptico se concretize.
E não se diga que Israel não tem políticos lúcidos. Na última sexta-feira, em entrevista à CNN, o prefeito de Haifa, Yona Yahav, sintetizou o pensamento dos israelenses que não se deixaram arrastar pelo belicismo e pelo ódio: “Eu estive em dez guerras… o nome do jogo é paz.” Para ele, o prazo de duas semanas dado pelo presidente Donald Trump para negociações com o Irã (que ele próprio romperia no dia seguinte) era muito curto. “Não temos tempo, veja o que está acontecendo por aqui”, disse ele, referindo-se aos efeitos devastadores dos ataques de mísseis iranianos, que já avariaram seriamente o porto, a refinaria e a usina termelétrica da cidade, além de vários outras instalações e construções. “Eles têm que sentar agora e negociar um tratado, não é uma coisa difícil”, acrescentou. E concluiu dizendo que não confiava em Trump para uma resposta rápida: “Eu gosto de estabilidade” – afirmou, sugerindo a evidente instabilidade do presidente estadunidense.
Diante disso, é o caso de se perguntar: que forças em Israel e na estrutura de poder ocidental que o país integra levaram Tel Aviv à insanidade do ataque não provocado ao Irã?
O cenário é tão bizarro que poder-se-ia suspeitar de que a oligarquia transnacional que tem sustentado Israel como uma ponta de lança dos seus interesses no Oriente Médio estaria inclinada a abandonar o “projeto Israel”, pelo elevado custo da sua manutenção, em seguida a destruição dissuasória de seu até então invulnerável Domo de Ferro.
E é uma lástima que, no Brasil, o confronto Israel-Irã e as questões do Oriente Médio em geral estejam sendo tratadas sob o viés da estéril polarização político-partidária.
Imagem: CNN.