
Wellington Calasans
A propaganda de guerra, desde os primórdios do século XX, tem sido uma ferramenta estratégica para moldar narrativas e justificar conflitos. Nas trincheiras da Primeira Guerra Mundial, cartazes incentivavam o alistamento com símbolos como o Tio Sam, enquanto a retórica oficial repetia que o adversário era o “único responsável pela guerra”.
Hoje, quase um século depois, os métodos evoluíram, mas a essência permanece: a demonização do inimigo por meio da repetição sistemática de adjetivos carregados de preconceito.
A imprensa ocidental, em particular, adota um padrão recorrente ao descrever líderes e povos de nações consideradas “adversárias”. Termos como “regime”, “ditador” e “opressor” são repetidos ad nauseam, criando uma imagem monolítica de ameaça.
Essa prática serve para desumanizar o alvo, preparando o terreno para intervenções militares ou sanções. Enquanto isso, os mesmos veículos se autodenominam “defensores da liberdade” e “democracias exemplares”, ignorando os próprios erros e em defesa exclusiva dos próprios interesses geopolíticos.
Essa dualidade não é nova. Durante a Guerra Fria, a propaganda já utilizava adjetivos para dividir o mundo entre “livre” e “totalitário”, mesmo quando apoiava ditaduras alinhadas a seus interesses.
Atualmente, a estratégia ganha força em coberturas de conflitos como os da Síria, Venezuela, China, Rússia e Irã, onde líderes são rotulados como “tiranos” sem nuances, enquanto potências ocidentais são retratadas como “salvadoras da ordem global”.
Tal narrativa não apenas distorce a realidade, mas também silencia vozes dissidentes, criminalizando qualquer crítica ao status quo como “apologia ao autoritarismo”.
A repetição de epítetos pejorativos cumpre uma função clara: transformar a opinião pública em aliada passiva de agendas belicistas. Como destacado por analistas, a propaganda não apenas “legitima” guerras, mas age como “arma moralizante” para deslegitimar o adversário.
Assim, a imprensa ocidental, ao adotar esse modelo, abdica de seu papel informativo e se torna parte integrante da máquina de guerra psicológica. A difusão de informações falsas sobre culturas e tratamento dado às mulheres, por exemplo, intensifica a manipulação.
É urgente questionar essas práticas. Organismos internacionais, como a ONU, deveriam investigar essa manipulação sistemática. O problema é que até estes organismos, muitas vezes, contribuem para o reforço da propaganda de demonização.
Enquanto isso, cabe à sociedade exigir transparência e pluralidade, rejeitando a lógica maniqueísta que reduz conflitos a batalhas entre “bons” e “maus”, mas que nem sempre com critérios honestos.
Afinal, a história mostra que, por trás da cortina da propaganda, escondem-se interesses que pouco têm a ver com liberdade ou justiça. Estejamos atentos.