A vida é um bem pessoal, intransferível e é a sua maior riqueza. Porém, existe algo que não passa pela nossa cabeça: o ser humano está muito longe da extinção. Somos quase oito bilhões e se você quer ter uma vida longa e segura, antes de pensar que alguém vai cuidar da sua existência, cuide dela você mesmo.
Essa é a regra número um, de ouro. Você provavelmente é muito mais jovem do que eu. Eu estou no terço final da vida, mas essa aparente desvantagem diz que eu já cheguei aqui e, infelizmente, muitos outros não chegarão. O nosso planeta é hostil. A natureza, apesar de bela, é extremamente hostil.
As nossas construções, nossos avanços, nossas máquinas, também são extremamente hostis para o nosso frágil corpo, um dos organismos vivos mais frágeis são os seres humanos. Somos sensíveis e suscetíveis a tudo: de picadas de inseto a tombos no banheiro.
Não eu não estou surfando na tragédia da menina de Niterói, que morreu numa trilha na longínqua Indonésia. Estou pegando apenas como mote. Não pretendo, em momento algum, partir para a lição de moral, ou aula de sobrevivência. Não é esse meu interesse. O meu se trata de um conselho didático, para as pessoas que interagem comigo, vindo de alguém que conseguiu sustentar a família, dar ensino aos filhos numa das atividades mais perigosas do mundo, que se chama perfuração de petróleo, onde qualquer escorregão, qualquer deslize, significava a morte. Para piorar, ainda fazia essa função, extremamente perigosa, num ambiente extremamente hostil.
Ou seja, a minha profissão já era um esporte radical por natureza, eu não precisava, na folga, procurar nenhuma outra atividade emocionante para adicionar adrenalina à minha existência. Talvez, por isso, eu seja tão dedicado ao ócio absoluto, quando não tenho nenhuma atividade. Não gosto de viajar, não gosto de ir para lugar nenhum, porque todo o mês era obrigado a injetar 15 dias de adrenalina na corrente sanguínea. Quando você faz isso por 16 anos seguidos, todo seu espírito aventureiro vai embora.
Eu vou focar em algo muito mais prosaico: cuidado com o seu corpo ele é frágil. Cuidado com as pessoas: a maioria, à sua volta, só quer levar vantagem. Não se deixe levar por nenhum tipo de modismo e nem pratique, como semiamador, algo em que até os profissionais, que se dedicam integralmente a isso, correm riscos e, não raramente, morrem.
Escolha bem onde você vai fazer o que você deseja fazer, talvez perto da sua casa tenha algo tão emocionante como algo que você tem que desembolsar alguns milhares de reais, apenas porque melhora o status, melhora o story e fornece selfies com mais curtidas. Quando for a outro país, tente enxergar a realidade dele, fazer alpinismo ou trilhas radicais na Suíça, ou na Alemanha, é bem diferente de um país exótico, que tem uma renda per capita um terço da brasileira e um sistema de serviços públicos infinitamente inferior ao nosso. Se você reclama do SUS, imagine países exóticos espalhados pelo mundo, vendidos por ávidos espertalhões como a dose de adrenalina que falta no seu sangue.
A maioria dessas pessoas tem, nessas atividades, o seu nada emocionante trabalho. Para você que vai na empolgação: do outro lado, na maioria das vezes, tem alguém batendo o cartão de ponto, entediado com o seu trabalho aborrecido e, talvez, como você, sonhando em fazer o que mais gosta recebendo por isso. E por incrível que a atividade que ele está desenvolvendo seja, para você, emocionante, para ele é apenas um fardo. Acredite, isso faz uma diferença terrível.
Não escrevo como pai de ninguém, não sou guru de ninguém, não sou nenhum especialista em esportes radicais. Porém, ao fazer 62 anos de idade, já posso pedir a carteirinha de sobrevivencialista tarimbado. Trabalhei 16 anos em atividade de perfuração de petróleo offshore. Vivo no Rio de Janeiro e, a trabalho, já entrei em tudo quanto é comunidade, com quase uma dezena de abordagens de “forças de segurança paralelas”, de arma em punho. A contra gosto, já passei por muitas situações difíceis, as quais não desejo para ninguém. Daí, talvez, a minha intromissão, e vontade de deixar esse recado para meus amigos e seguidores, afinal eu preciso de vocês.
Rubem González
