Lorenzo Carrasco
A guerra na Ucrânia e o recente confronto de 12 dias entre Israel e o Irã demonstram de forma bastante concreta o grande impacto representado pelos mísseis hipersônicos, quase invulneráveis aos sistemas de defesa antimísseis existentes no Ocidente e em Israel. Juntamente com o uso maciço de drones de combate, os hipersônicos estão configurando uma importante revolução nas tecnologias militares, que está, inclusive, colocando em questão muitas das funções atribuídas às forças aéreas e navais.
A Ucrânia, cuja força aérea tornou-se quase irrelevante, tem usado drones para confrontar as forças russas, com considerável sucesso. Ao mesmo tempo, mostra-se incapaz de evitar os mísseis russos. A força aérea de Israel demonstrou uma grande capacidade de driblar as defesas antiaéreas do Irã, que, por sua vez, usou seus mísseis com grande sucesso em ataques contra a infraestrutura militar e civil israelense, cujas sofisticadas defesas antimísseis se revelaram impotentes para detê-los.
Até mesmo o Iêmen, o mais pobre dos países árabes, conseguiu neutralizar a poderosa Marinha dos EUA com seus drones e mísseis, forçando-a a retirar-se do Mar Vermelho, enquanto seguia atacando navios destinados a Israel.
Essa revolução tecnológica, que está sendo atentamente estudada nos estados-maiores de todo o mundo, está deixando para trás doutrinas, convicções e imagens de poder há muito cultivadas e consolidadas. E ela oferece ensinamentos relevantes também para países como o Brasil, às voltas com uma indústria de defesa sucateada ou controlada por empresas estrangeiras, capacidade de inovação limitada, prioridades de reequipamento equivocadas, autolimitado por acordos internacionais restritivos (p.ex., o Regime de Controle de Tecnologia de Mísseis) e outros problemas que afetam a sua capacidade militar. É hora de repensar muita coisa, pois o cenário global está cambiando com a rapidez dos hipersônicos e o País não pode deixar de se preparar para ele.
É o momento para um novo impulso como o proporcionado por pioneiros visionários como o marechal Casimiro Montenegro, criador do complexo ITA/CTA, embrião da indústria aeroespacial brasileira, e o almirante Álvaro Alberto, “pai” das pesquisas nucleares nacionais, dignos representantes do destacado papel das forças armadas no avanço do País.
