O governo Lula sofreu uma significativa derrota na Câmara dos Deputados na votação da MP 1303, nesta segunda semana de outubro de 2025. A medida provisória tratava do aumento de tributação sobre operações financeiras, com a finalidade de aumentar a arrecadação do governo federal em R$ 31,5 bilhões – sendo 10,5 neste ano e 21 em 2026.
O governo atribuiu a derrota a quebra de compromisso da oposição e partiu para o ataque, acusando-a de agir em nome de lobbies, das bets e dos interesses dos mais ricos. Chegaram mesmo a colocar a culpa numa suposta articulação do governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, com os parlamentares do Centrão para derrotar a proposta do governo.
No entanto, o que fica é que o Congresso não vê problemas em cortar impostos, como se viu na votação da isenção do Imposto de Renda para quem recebe até R$ 5 mil ao mês. Na ocasião, a proposta foi aprovada na Câmara com mais de 490 votos, sem nenhum contra. O que pesa para o Congresso é conceder ao governo aumento de impostos para engordar a arrecadação, o que dará gordura para o governo queimar no ano de eleição, com recursos necessários para bancar os “programas sociais” que valem muito em termos de custo-benefício eleitoral.
Além do mais, observa-se que com a política de escalada tarifária do governo Lula 3, a carga tributária passou de 31,2%, em 2002, para 32,3% do PIB, em 2025, sendo que a parcela da União subiu de 20,6% para 21,4% do PIB. Mesmo assim, muitos órgãos e entidades da Administração permanecem sucateados, como é o caso das universidades federais e das agências reguladoras, sem falar nos cortes da Defesa, que comprometem programas importantes.
Há também o argumento de piora do “risco fiscal” pelas autoridades econômicas do governo, pois os recursos esperados com a aprovação da MP seriam usados para manter a meta de déficit zero para este ano. Contudo, trata-se de metas que o próprio governo impôs a si mesmo, diante de uma política de aumento de gastos em programas sociais, ao mesmo tempo que submete ao Banco Central uma meta muito baixa de inflação que permite às autoridades monetárias manterem altas taxas de juros. Estas, por sua vez, comprometem os gastos do governo e as tais metas fiscais.
O que esta recente disputa aponta é que o cenário para as eleições daqui a um ano já está armado, com Lula, de um lado, e amplos setores, no governo e na oposição, tentando inserir o governador de SP como o principal candidato da oposição, já que tanto o governo como lideranças do Centrão (Ciro Nogueira e Antonio Rueda à frente) fizeram questão de apontar o papel de Tarcísio na articulação – fato negado por ele em vídeo recente. Muitos querem ungi-lo candidato, impondo-o candidato à família Bolsonaro, apesar do destaque que Michele Bolsonaro vem obtendo nas recentes manifestações contra a prisão de seu marido e pela anistia aos condenados pelo STF.
