Depois de dez anos no partido, Ciro Gomes sai do PDT, de malas prontas para o seu antigo partido na década de 90: o PSDB.
O que se diz é que influíram nessa decisão a proximidade que sempre manteve com seu velho aliado, Tasso Jereissati, e abertura que o partido lhe dará se quiser mesmo disputar o governo do Ceará em 2026 como líder de oposição contra o governador petista Elmano de Freitas.
Sua passagem pelo PDT serviu para dar uma renovada no partido em um momento em que o PT estava na defensiva, durante o impeachment de Dilma Rousseff e os processos que levaram à prisão de Lula. Esse movimento resultou na boa votação em 2018, que não se manteve em 2022, quando a candidatura de Lula arrebatou muito apoio dentro da esquerda e mesmo dentro do PDT.
Ciro fez de mote para seu retorno às eleições presidenciais nos últimos dois pleitos com o “Projeto Nacional de Desenvolvimento” (PND), título de livro homônimo de 2019. Propunha atualização das ideias nacional-desenvolvimentistas, com políticas industriais e papel forte do Estado na indução da economia, dentro do campo da esquerda e da legenda política que o abrigou. Mesmo assim, nunca foi unanimidade no PDT, sendo contestado por membros da Executiva Nacional no PDT, que se ressentiam de sua oposição ao PT e achavam mais politicamente vantajosa a aliança com os petistas.
A trajetória de Ciro encontra paralelos com a de Jair Bolsonaro, no fato de que ambos, a despeito da popularidade e capacidade atrair o eleitor – cada um a seu grau – são itinerantes em termos de filiação política: politicamente são destaque, mas jamais controlaram os partidos pelos quais passaram. O que demonstra um fenômeno politicamente relevante para se entender o sistema partidário brasileiro: a natureza cartorial dos partidos, cada qual comandado por um ou mais caciques, que decidem os rumos políticos, quais alianças e qual apoio o partido dará em tal eleição. Legalmente são instituições privadas, apesar de necessárias para o exercício de qualquer tipo de mandato, já que a legislação eleitoral não admite candidaturas avulsas.
Na queda de braço com Carlos Lupi, Ciro perdeu a disputa política dentro do PDT, a despeito do envolvimento do presidente do partido no Escândalo do INSS, como ministro que foi da Previdência Social.
Por outro lado, a formação de novos partidos é dificultada, de modo que dificilmente se verá o que aconteceu em outros países: na França, Emmanuel Macron saiu do tradicional Partido Socialista e formou seu próprio partido En Marche para vencer as eleições presidenciais em 2017; na Argentina, Javier Milei e um punhado de colaboradores montaram o Partido Libertário em 2018, que deu origem à coalizão La Libertad Avanza, em 2021, assim conseguindo se eleger presidente, dois anos depois.
Assim, cientes de que a criação de um novo partido poderia ser um processo kafkiano, lideranças políticas se esforçam para se adaptar aos partidos que já existem. A Ciro restou o PSDB como alternativa, um partido que já foi grande, mas que corria o risco de se extinguir, fundindo-se com outro partido maior, tendo em vista a fuga de lideranças recentes dele, como os governadores do RS e PE, para o PSD de Gilberto Kassab. Assim, talvez encontre maior liberdade no PSDB para seguir com seu projeto político, com maior abertura para críticas a Lula e ao PT, no PDT parte inseparável da base aliada, com direito a ministério, a despeito do que venha a fazer com seu PND.
