
O ano é 2026. O Palácio do Planalto amanheceu tranquilo, é início das chuvas em Brasília, a esplanada dos ministérios segue alinhada em seus eixos.
Jair Bolsonaro teve um derrame cerebral e está sedado em uma cama no hospital das forças armadas. De lá mesmo ele tem despachado com a sua assinatura digital. Ele segue firme na liderança da disputa pelo seu terceiro mandato, utilizando imagens holográfica e promovendo uma campanha inteiramente digital. O capitão mantém a alta popularidade e aprovação graças ao auxílio de uma legião de seguidores nas redes sociais.
Lula aparece em segundo lugar nas pesquisas, com 45% das intenções de voto. O candidato segue impedido de concorrer pela justiça. Recentemente, ele foi canonizado como santo profeta pela IAIPUD (Inteligência Artificial Internacional Progressista dos Últimos Dias). A IAIPUD é um braço forte da Pontifícia Academia pela Vida, no Vaticano. O apoio oficial da Igreja Católica tem entusiasmado os seus eleitores.
Os apoiadores tem apostado as fichas no seu vice, Androidde, e seguem confiantes. Os especialistas indicam que ele tem grandes chances de vencer a corrida presidencial. Os seguidores do candidato apostam que o voto sustentável de baixa emissão poderá comover os eleitores a fazerem uma virada histórica contra o atual presidente. Com a instauração do voto distrital, as demais candidaturas não foram identificadas nas pesquisas.
A eleição será realizada totalmente por meio digital. Os deslocamentos seguem proibidos em função do bloqueio continental promovido pela nova mutação Covid-26. As pessoas não precisarão sair de casa para votar.
No Brasil, diversas cidades entraram em colapso, a população saqueou mercados e lojas, muitas delas não tem fornecimento de luz, as estradas estão bloqueadas. Algumas das novas tribos urbanas desenvolveram um culto no qual realizam sacrifícios rituais de canibalismo como símbolo da resistência.
Em função do lockdown permanente, algumas áreas se tornaram zonas autônomas e foram impedidas quaisquer intervenções de agentes estatais nelas. A medida permitiu com que a população tenha a possibilidade de estabelecer sistemas de poder local para auto-gestão. O número de mortes cometidas pela violência policial diminuiu.
A semana foi agitada, com o lançamento das novas máquinas de distribuição de ração humana. Foram distribuídos mais de 60 mil postos de entrega em todo o país, nos quais as pessoas podem apresentar seu voucher pessoal. Cada cidadão tem o direito de retirar até 10 quilos do produto seco por mês. O ministro da estabilidade fiscal comunicou em coletiva de imprensa que está mobilizando esforços junto com a polícia federal para evitar fraudes e o comércio ilegal de ração.
O ministro-gestor norte-americano anunciou o novo “Plano Integrado de Sanitização”, uma parceria com a empresa franco-germânica Humanizeitzen. O projeto vai levar o programa de aborto fiscal para milhões de mulheres em todo o país. A iniciativa permite com que as mulheres grávidas tenham acesso integral ao plano de interrupção voluntária de gravidez, mediante o abono pecuniário total com a clínica de maternidade vinculada ao SDS (Sistema Diferenciado de Saúde).
Ainda no campo da economia, o ministro-gestor destacou o sucesso do projeto Carbono Zero, anunciando uma nova remessa de investimentos estrangeiros por meio da Secretaria Nacional de Inovação Econômica, que em 2026 tem como tema: “Gestão & Armazenamento de resíduos sólidos: iniciativas e oportunidades para um mundo sustentável”.
Na próxima semana, a praça dos três poderes estará agitada. Caravanas do país inteiro se deslocam para manifestações na frente da Suprema Corte. As forças de segurança aguardam multidões, que preparam acampamentos para protestar contra e a favor a um tema que tem causado polêmica nas redes sociais: o uso do pronome neutro.
Grupos radicais tem se posicionado contra a inclusão do gênero neutro na norma admitida em documentos oficiais, tendo mobilizado até um membro da Academia Brasileira de Letras para depor contra o uso de terminologias inclusivas, por considerá-las “uma afronta à norma culta de uso da língua”. Já ativistas do Coletivo pela Inclusão Linguística no Brasil dizem o contrário. Elxs lembram que “a exclusão na língue mutile vivêncies que não são considerades pela violêncie estrutural de linguagem”.
Quatro dos onze ministros já acompanharam o voto do relator, o ministro Luís Roberto Barroso, que votou a favor da inclusão do gênero neutro na norma culta da língua portuguesa. Os demais ministros ainda não votaram. Aparentemente, a semana será bem movimentada na frente do STF. O clima vai esquentar.
Excelente texto! Queria mesmo achar que fosse uma peça 100% ficcional mas a dura realidade que vivemos nos mostra o contrário… Adeus, Brasil! Adeus futuro! 2060 estaremos anexados e/ou divididos em 12 ou 13 nações em guerra permanente.