Israel aprovou, nesta semana, milhares de casas no assentamento da Cisjordânia, que vive um boom de construção que ganhou força sobretudo durante a presidência de Donald Trump que vem encorajando o processo do Grande Israel e da transformação de Jerusalém na capital de Israel.
Esse boom recente ocorre meses depois que Israel prometeu suspender os planos de anexar partes da Cisjordânia em troca de um acordo de normalização mediado pelos EUA com os Emirados Árabes Unidos.
Algo que chama a atenção no tocante aos assentamentos é que os colonos vem se valendo da estratégia de aumento da natalidade para garantir que o número de judeus ali no futuro seja tão grande que se torne impossível tirá-los de lá. Se a média de nascimentos em Israel é de 3 por casal, na Cisjordânia é de 6.
Cabe destacar inclusive que Israel se vale dos acordos com os Emirados sob mediação dos EUA como diversionismo dentro duma continuidade dos preceitos de Moshe Dayan, ex ministro da defesa de Israel que dizia:
“Nossos amigos americanos nos oferecem armas, dinheiro e conselhos, pegamos as armas e o dinheiro e recusamos os conselhos”.
A maioria das unidades aprovadas hoje, cerca de 2.000, fica na área estratégica entre as cidades palestinas de Ramallah e Nablus. Outra parcela significativa, 775, ficava nos assentamentos ao redor de Nablus. Isso inclui assentamentos que seriam efetivamente enclaves em território palestino sob o plano Trump, em lugares como Yitzhar , Itamar, Alon Moreh e Bracha
Ou seja, Trump se comprometeu a promover a paz na Palestina com a consequente construção do Estado Palestino porém sem deixar de reconhecer a soberania judaica sobre assentamentos ao mesmo tempo que postula a noção dum “estado palestino desmilitarizado” que seria alvo fácil das Forças de Defesa de Israel.
Interessante notar também que em setembro o acordo entre USA, Emirados e Bahrein envolvia o compromisso de que Israel poria freios a anexações de territórios palestinos. Porém a recente autorização sobre assentamentos em Yitzhar e cia. provam que tais acordos visam somente garantir o reconhecimento do Estado Israelita por parte de Emirados e Bahrein a fim de que tais estados, com relações regularizadas com Israel via EUA, fiquem em situação mais difícil no que tange a declarações futuras de beligerância dando ao poder judeu as condições para levar a cabo sua política expansionista. Com tal acerto diplomático Trump assegura o apoio do Lobby Judeu a sua reeleição e dá mais um passo para a consecução do Grande Israel.
Não pensem, contudo, que o articulação em torno deste objetivo perpassa apenas os republicanos de Trump. As grandes empresas do Vale do Silício – que costumam se alinhar ao partido democrata – também fazem parte do jogo.
Você não encontrará centenas de aldeias palestinas, pois não constam nos mapas produzidos pelo Google e pela Apple ou em seus serviços de GPS. Palestina não aparece. Uma década e meia de uma história muito mais recente é apagada quando a divisão da Cisjordânia nas áreas A, B e C, de acordo com os acordos de Oslo, é ignorada.
A posição geral das empresas de tecnologia no mapeamento da Palestina é transferir a culpa para a comunidade internacional. A Palestina é considerada um “estado observador não membro” nas Nações Unidas, e não um estado membro de pleno direito. Eles afirmam que não se deve esperar que tomem uma posição sobre uma questão tão política e polêmica: em vez disso, deve ser discutida nos escritórios da ONU e não nos deles.
No entanto, essa postura é dúbia. A Palestina não é tratada da mesma forma que outros territórios sobre os quais há uma disputa política. Em outras regiões controversas, o Google e o Apple Maps encontram mais flexibilidade. Eles mostram as fronteiras internacionais de forma diferente, dependendo de onde os usuários estão localizados.
Por exemplo, a Turquia é o único país do mundo que reconhece o Norte de Chipre como um país. Ao pesquisar o Norte de Chipre a partir de um endereço IP turco, você verá claramente o Norte de Chipre como seu próprio local com suas próprias fronteiras. Mas quando o Chipre do Norte é visto de qualquer outro país, incluindo Chipre, você vê tudo dentro das fronteiras de um país, Chipre.
Ao pesquisar o estado de Arunachal Pradesh, na Índia, os usuários com um IP indiano veem uma fronteira que está de acordo com a posição do governo indiano. Mas ao pesquisar a mesma região da China, as fronteiras aparecem como “Tibete do Sul”, muito sob o controle chinês.
Como usuários da Palestina, vemos a região de Arunachal Pradesh como sua própria região marcada com uma linha pontilhada, indicando que se trata de uma área disputada. Seguindo o mesmo raciocínio, os serviços de navegação deveriam assegurar tratamento semelhante ao contexto da Palestina.
A “lógica” no mapa da “Iniciativa Trump”, que Netanyahu adotou calorosamente, atribui a Israel e às Forças de Defesa de Israel a construção e segurança de uma nova fronteira três vezes mais longa do que todas as outras fronteiras de Israel.
Esta fronteira alucinatória nasceu para dar vazão política aos messiânicos do Likud e à sua direita, que acreditam no mandamento de “herdar a terra”. A sociedade ultra-ortodoxa – ou haredi -, que tinha apenas 6.000 de seus membros morando na Judéia e Samaria em 1993 (5,5% de todos os israelenses lá), havia se tornado o motor de crescimento da população de colonos. Em 2018, seu número chegou a 150.000 (35 por cento da população de israelenses na Judéia e Samaria) e em uma década espera-se que seja a metade de todos os israelenses na Judéia e Samaria.
Desde os Acordos de Oslo, o número de israelenses que vivem na Judéia e Samaria aumentou 289%, enquanto a população de Israel como um todo aumentou 68%. Concluindo: o projeto do Grande Israel ganhou enorme fôlego nos últimos anos o que representa o avanço do mistério da iniquidade sobre o mundo e, por tabela, a proximidade dos tempos do Anticristo.
Por Rafael G. Queiroz
Publicado no blog Catolicidade em 15.10.2020