Por Roberto Nishiki
A Globo patrocina as “djamilas” da vida. Penso que é tudo muito suspeito. Quem começou essa história de bancar a esquerda cultural brasileira para desbancar Gilberto Freyre foi a CIA, em parceria com o Departamento de Estado e a Fundação Ford.
Existe até uma tese defendida na própria USP sobre isso: “O Brasil e a Recriação da Questão Racial no Pós-Guerra”, de Wanderson da Silva Chaves. O que a gente vê, nessa tese, é a disputa no campo da hoje chamada “guerra fria cultural”, expressão adotada no rastro da historiadora inglesa Frances Saunders, que escreveu um livro pioneiro sobre o tema, The Cultural Cold War: The CIA and the World of Arts and Letters (publicado no Brasil como o título “Quem pagou a conta? A CIA na Guerra Fria da cultura”).
A disputa pesada entre os Estados Unidos e a então União Soviética chegou ao campo das relações raciais. Os Estados Unidos se apresentavam ao mundo como sociedade aberta, democrática, em contraposição à União Soviética, sociedade fechada, ditatorial. E a União Soviética soube ferir os Estados Unidos em dois flancos. Num deles, caracterizando os Estados Unidos como nação belígera, exemplificável, na época, por conta da Guerra da Coreia. De outra parte, a União Soviética jogou com o problema racial. Dizia que os Estados Unidos se apresentavam no plano internacional como uma democracia, mas internamente massacravam os negros.
Os Estados Unidos nunca foram exemplo para ninguém nesse campo das relações raciais. Hoje, são copiados aqui no Brasil, o que é um atestado do poder da nação imperialista e, ao mesmo tempo, atestado da subserviência, do capachismo mental de países periféricos como o nosso.
Naquela época da Guerra Fria, em termos raciais, a União Soviética, que russificava brutalmente nações como a Ucrânia, confrontava os Estados Unidos com um problema interno e dois externos. No plano interno, havia o racismo de Estado e a segregação oficial dos negros. Externamente, a África do Sul e o Brasil. A África era então um espaço a ser duramente disputado, e os comunistas mostravam, aos negros africanos, a realidade da África do Sul, do apartheid. Diziam que, se os Estados Unidos dominassem a África, iriam instaurar o apartheid em escala continental.
Além disso, mostravam que o caminho norte-americano era um escândalo social perfeitamente evitável. Os Estados Unidos massacravam seus pretos – mas o Brasil, não. No Brasil, apesar de todas as assimetrias, violências e crueldades, tínhamos um paradigma de mistura, mesclagem, convívio.
Os Estados Unidos tinham, portanto, de enfrentar dois problemas internacionais. De se livrar do karma do apartheid sul-africano e de explicar por que não tinham conduzido as coisas como os brasileiros. A jogada norte-americana, então, foi mostrar que o Brasil era racista, o que é óbvio – e que o racismo brasileiro era até pior do que o norte-americano, o que é uma estupidez.
Naquela época, a menina dos olhos da CIA, da Fundação Ford e do Departamento de Estado era Florestan Fernandes. Foi a Fundação Ford que viabilizou a tradução para o inglês do livro “A Integração do Negro na Sociedade de Classes”, de Florestan, que foi publicado pela Alfred Knopf, editora que tinha ligações com a CIA. Da década de 1970 para cá, os Estados Unidos investiram cada vez mais pesado para convencer o próprio Brasil e o mundo de que o nosso racismo era o mais terrível de todos. Além disso, desde a época de Jânio Quadros o Brasil tenta fazer negócios e defender seus interesses na África, coisa que sempre desagradou aos EUA. E tentar provar que o Brasil é mais racista do que os EUA é uma forma de tentar atrapalhar os negócios do Brasil em África.
O ex-integralista Abdias do Nascimento foi, inicialmente, o pregador escolhido para a tarefa. Hoje, você vê como a Globo e a Folha de S. Paulo (para não falar de outras áreas, com a Natura, o Magazine Luíza, etc., no campo empresarial, por exemplo) militam nessa direção. O que há é jornalismo espertíssimo, craques na manipulação da informação. A Globo e a Folha são drasticamente seletivas em sua pauta cromática, em seu colorismo.
É o mesmo cachimbo torto da época da ditadura militar, só que agora para defender, afirmar e sobretudo louvar os “oprimidos”. Vejam a diferença entre as notícias: quando fala da senadora Kamala Harris, aquela dupla eugênica do Jornal Nacional, assim como as comentaristas da Globonews, enchem a boca para dizer: uma mulher NEGRA. Já na hora de falar de uma deputada NEGRA (pelo critério norte-americano adotado pela Globo), Flordelis, acusada de mandante do assassinato do marido, a turma da Globo e da Folha em momento algum a trata como NEGRA. E olha que, na escala cromática, Flor de Lis é bem mais “amulatada” do que Kamala.
Mas a Globo se finge de morta e esquece rapidamente essa conversa de cor. Claro: para serem rainhas (e porta-vozes) do identitarismo, a Globo e a Folha seguem uma regra de ouro: preto só pode ser vítima, herói ou santo. Ladrão, estuprador, assassino – nunca. Oculta-se ou falsifica-se assim a realidade. Isso não é só consciência culpada. É manipulação da informação.
“Gabrielli Mendes da Silva, de 19 anos, foi assassinada no dia 02 de agosto de 2020 por um policial, em Rio Claro, interior de São Paulo. A manchete da UOL falou então de uma “jovem baleada”, sem qualquer referência racial. Gabrielli era branca. Se fosse preta, a manchete seria: “jovem NEGRA é baleada”. Logo, a manchete, no caso de Gabrielli, deveria ter sido: jovem BRANCA é vítima de violência policial – e a matéria teria de informar, logicamente, sobre a cor do policial que fuzilou a moça, que apenas estava numa esquina esperando um táxi.
Então, minha pergunta é: por que a mídia brasileira – em especial, a Rede Globo e a Folha de S. Paulo, só diz que alguém é branco quando o branco em questão está na posição de agressor ou opressor – e só diz que alguém é negro, inversamente, quando o negro em questão se acha na posição de herói ou vítima? Ora, se querem fazer jornalismo, jornalismo mesmo, ou não digam a cor de ninguém ou deem a cor de todo mundo. O que não dá para engolir é este seletivismo cromático.
Quero ver as coisas certas. Por exemplo: branco estupra jovem negra na Lapa, assaltante preto esfaqueia jovem branca nos Jardins, negros espancam amarelos no centro histórico de Salvador, etc., etc. Enquanto a mídia brasileira (a Globo e a Folha em especial, repito) não nomear a cor de todos os envolvidos, mas somente a cor dos que interessam às suas atuais liquidações ideológicas, aos seus “black fridays” político-ideológicos, eu não tenho como levá-la a sério nesse quesito.
Esse texto, está simales mente incrível