Daqui a um mês, os plutocratas celebrarão os vinte e sete anos de instauração dos metâmeros que configuraram os alicerces do Plano Real. Neste trecho primordial, os fatores mais enaltecidos são os presságios de que a inflação brasileira seria expressamente abolida e que o país se livraria das falhas econômicas mediante a alteração da unidade monetária nacional.
Passado este quarto de século, é justo proclamar que a inflação foi exterminada com a admissão do Plano Real, tal como é feito pelos governantes; investidores e por quase toda a opinião pública?
Periodicamente, é comunicado que a moeda do Brasil irá alcançar níveis de deflação cada vez maiores, concretizando a estabilização monetária. Caso fosse verdade, isso seria esplêndido. Todavia, esse é mais um componente arquitetado para iludir o povo acerca de um evento que nunca aconteceu — e a sindemia que fundiu partículas virais com rascunhos de líderes e políticos negligentes acentuou a sua fragilidade.
Em julho de 2020, no aniversário de inauguração deste prospecto, um texto que redigi sobre tal assunto foi exclusivamente publicado aqui, mas julguei que havia certa insuficiência no ensaio. Destarte, tencionarei nesta cobertura uma abordagem mais espessa e holística a respeito da questão.
Em um sentido lacônico, o que realmente ocorre no perímetro econômico do Brasil é o seguinte: a inflação contemporânea efetiva apresenta uma gravidade profundamente superior àquelas de períodos antecedentes ao Plano Real. A comprovação disso está nas taxas de juros exorbitantes que custeiam a dívida mobiliária do país. Esse coeficiente é o preponderante na estruturação do vórtice fabricado pela turgidez cambial — e que a mídia corporativa se desdobra para esconder.
A famigerada tranquilidade que o Plano Real ocasionou é semelhante à quietude encontrada em uma necrópole, haja vista que a economia brasileira foi dilacerada e acarretou um óbice trabalhista que lançou o país no abismo. Prosseguindo com a destruição nacional, os governos passaram a entregar os bens públicos e comuns às facções transnacionais por quantias desprezíveis. Toda a população sente os efeitos assustadoramente maléficos que emanam dessas atitudes criminosas — inclusive os que negam tais lacunas e os que desconhecem qualquer parte do tema.
Que projeto de moeda é esse que atua de maneira claramente estática? Sem aquisição; comercialização e emprego? Aliás, o surto descomunal das mais variadas formas de miséria têm confinado milhões de brasileiros em suas residências por temerem o risco de um eventual assalto e/ou homicídio. Portanto, vamos às denotações que irão revelar o feitiço contido neste arranjo e como tal elemento é utilizado para impelir algo fajuto e pernicioso à sombra de um antídoto celestial.
Em um princípio quase orgânico, a inflação é um dispositivo que fomenta o acréscimo gradual dos preços devido a uma série de parâmetros circunstancialmente estabelecidos. Segundo uma apuração do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) no que tange ao desenvolvimento humano em 2019, o Brasil possui aproximadamente 65% dos habitantes vivendo sob uma economia indigente. A cada cinco pessoas, três relatam uma degradação nas condições de sobrevivência primária e não reconhecem as melhoras financeiras tão drapejadas nos últimos anos.
Temos no parágrafo anterior um indício de falsidade embutida nesta detração e em suas prédicas que asseguravam o cumprimento de uma reforma econômica irrestrita a partir do momento em que a inflação do Brasil não é constituída por demanda e oferta, e sim por custos! Os impostos e as alíquotas dos juros são hiperconjugados ao valor final das mercadorias, o que inibe a supressão da elasticidade produtora de neoplasmas no câmbio brasileiro por conta das taxas excessivamente danistas mescladas às tributações estratosféricas que vigoram em território nacional.
Considerando o módulo supracitado, por quais motivos classificam o Plano Real como um milagre? É simples: logo depois que o mesmo foi encetado, a inflação atingiu índices próximos de 1% ao mês sem que houvesse uma ingerência nos verdadeiros responsáveis pelo edema nas finanças públicas, isto é, os tributos gerais e as alíquotas da dívida mobiliária. Então, de um modo subitamente nebuloso, o Palácio do Planalto fez com que a moeda do Brasil sobrepujasse a unidade monetária dos Estados Unidos frente aos títulos de crédito e endosso. Porém, as tarifas de importação foram reduzidas a fim de ingurgitar o mercado nacional com uma batelada de traquitanas estrangeiras viabilizadas pelas taxas microscópicas em sinergia com a erosão do dólar. Sendo assim, a indústria brasileira não teve outra alternativa senão congelar os preços no intuito de permanecer concorrendo com as multinacionais.
Temendo as consequências do ostracismo, as empresas do país não repassaram este sumpto aos consumidores porque o circuito mercantil interno estava repleto de produtos advindos do Hemisfério Norte, frequentemente louvados como itens de melhor qualidade por obra das propagandas vertiginosamente alucinantes. Sintetizando, a inflação brasileira foi hipoteticamente diminuída e interditada em virtude da alta do câmbio, o que provocou a falência das usinas nacionais.
Aproveitando o ensejo sobre o câmbio, é válido destacar que as remunerações implodiram desde que o Plano Real foi introduzido. De acordo com a nota técnica 218 do Departamento Intersindical de Estatística e Estudos Socioeconômicos (DIEESE), a defasagem média dos estipêndios já ultrapassa os 77% em um paralelo inerente ao cálculo do salário mínimo necessário formulado pela mesma entidade. Isso começou durante a transição do cruzeiro para a moeda vigente sem que a Unidade Real de Valor (URV) facultasse qualquer correção monetária com o apoio de suas escriturações. Não obstante a escalada de preços, os reajustes dos vencimentos na década de 1990 praticamente não existiram no Brasil. Esse vitupério também ajudou na cristalização das úlceras inflacionárias na economia, dado que não havia dinheiro em circulação. E apesar das jornadas de trabalho extenuantes, é de conhecimento universal que as dificuldades financeiras nupérrimas afetam a maioria dos cidadãos. O número de brasileiros capazes de honrar suas obrigações é exponencialmente subtraído, pois foram as menos amparadas diante das sequelas que a insolvência trouxe ao país.
O que se qualifica como “salário mínimo” no Brasil é uma vulgaridade tétrica! Escalonar como rendimento uma mesada análoga à esmola, sem poder de compra autêntico e que dificilmente garante as refeições de cunho fulcral é uma desonestidade macabra! Sua exiguidade morfológica é proveniente da mesma volatilidade implícita que alquebrou moedas remotas, a exemplo dos Cruzados e Cruzeiros. Sua rentabilidade incipiente foi a propulsão dessa engrenagem sorrelfa, já que o lastro do Real é perfeitamente simulado desde o início em prol de camuflar as desigualdades sociais que assolam o Brasil.
As taxas de juros correspondem a outro aspecto fundamental deste problema em razão de sua singularidade astronômica. Elas impossibilitaram que os empréstimos contratados pelos trabalhadores rurais fossem quitados, impulsionando assim uma chuva de protestos realizados por agricultores de todo o Brasil. Os camponeses não transferiram seus dispêndios para os alimentos porque o Governo Federal também havia importado uma gama de vitualhas por mérito das alíquotas fixadas em um padrão similar às dos países cisplatinos à época. Em resumo, a inflação foi sonegada por causa do baixo custo das mercadorias agrícolas, tal como já ocorria com os produtos industrializados.
Essas são as plataformas que sustentam o eixo do Plano Real: câmbio instável; salários obsoletos; produção industrial suplantada e uberdade rural dissolvida. Isso tudo é uma ratificação de que o sucesso deste câncer está diretamente conectado à ruína da nação brasileira. E o Poder Executivo Federal sequer cogitou uma retificação nos impostos; tampouco buscou consertar o vértice substancial desse imbróglio: as taxas de juros.
Conforme o último relatório mensal divulgado pela Secretaria do Tesouro Nacional (STN) através da Coordenação-Geral de Planejamento Estratégico da Dívida Pública (COGEP/STN), os passivos que compõem o endividamento público vêm sendo comutados por novos desde o fim do primeiro trimestre de 2014 naquilo que é denominado como “renegociação automática”. Em 2017, a União desembolsou a assombrosa quantia de R$ 400 bilhões no pagamento dos seus juros. Isso equivale a pouco mais de R$ 33 bilhões mensais, ou quase R$ 1,2 bilhão por dia, significando algo em torno de R$ 500 milhões por hora. Um indivíduo que recebe R$ 1,500 por mês — rendimento que excede o piso salarial corrente no Brasil em 2020 de maneira diáfana — precisaria trabalhar durante trezentos e trinta e quatro mil anos para obter a importância despendida a cada sessenta minutos de proventos referentes à especulação sobre tais ativos circulantes! Em termos de comparação, a humanidade não dispõe de períodos tão vastos em sua cronologia histórica.
O comitê da Auditoria Cidadã da Dívida exibiu em gráficos remetentes à 2019 que o orçamento da União executado nesse mesmo ano (R$ 2,711 trilhões) sofreu uma partilha de 38.27% (R$ 1,038 trilhão) em busca de lidar com os serviços do endividamento nacional. Essa fração, que transcende o Produto Interno Bruto (PIB) de países desenvolvidos, atesta que nenhuma sociedade contém dinamismo suportando um fardo tão hediondo.
Independente dos apontamentos levantados, a privatização de células estatais foi defendida — e continua sendo — por diferentes governos com o pretexto de minimizar a dívida interna. No entanto, centenas de órgãos públicos já foram defraudados e a usura não cessa! Vejamos o extrato da imensurável lista que engloba o patrimônio brasileiro alienado:
• Companhia Aços Especiais de Itabira (ACESITA);
• Companhia Siderúrgica Nacional (CSN);
• Usinas Siderúrgicas de Minas Gerais (USIMINAS);
• Aço Minas Gerais (AÇOMINAS);
• Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações (CPQD);
• Empresa Brasileira de Telecomunicações (EMBRATEL);
• DATAMEC Sistemas e Processamento de Dados;
• Banco Meridional do Brasil, etc.
No que concerne aos bancos, a pilhagem na órbita estadual também confiscou facilmente uma porção deles com o respaldo de maquinações espúrias como o Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento do Sistema Financeiro Nacional (PROER) e o Programa de Incentivo à Redução do Setor Público Estadual na Atividade Bancária (PROES). Eis alguns:
• Banco do Estado do Rio de Janeiro (BANERJ);
• Banco do Estado de São Paulo (BANESPA);
• Banco do Estado de Minas Gerais (BEMGE);
• Banco do Estado do Paraná (BANESTADO);
• Banco do Estado da Bahia (BANEB);
• Banco do Estado de Pernambuco (BANDEPE);
• Banco do Estado do Ceará (BEC);
• Banco do Estado do Amazonas (BEA);
• Banco do Estado de Goiás (BEG), etc.
E como se tamanha catástrofe não fosse o suficiente, os atuais governantes — bem como uma farândola de aspirantes aos jiraus da República — pretendem oferecer as organizações remanescentes do Brasil ao sistema financeiro internacional, tais como:
• Centrais Elétricas Brasileiras (ELETROBRÁS);
• Telecomunicações Brasileiras (TELEBRÁS);
• Centro Nacional de Tecnologia Eletrônica Avançada (CEITEC);
• Serviço Federal de Processamento de Dados (SERPRO);
• Empresa Brasil de Comunicação (EBC);
• Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT);
• Empresa Brasileira de Aeronáutica (EMBRAER);
• Casa da Moeda do Brasil (CMB);
• Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP), etc.
Observação: entidades não incluídas oficialmente neste catálogo também estão ameaçadas pela hecatombe neoliberal, vide a Empresa de Petróleo Brasileiro (PETROBRAS); o Banco do Brasil (BB); a Caixa Econômica Federal (CEF) e uma miríade de instituições públicas de ensino.
A decadência do parque industrial brasileiro originou uma reação em cadeia sem precedentes. Empresas de logística e de fornecimento de matérias-primas acabaram subjugadas pelos oligopólios transnacionais. Em 1998, a União vendeu a Rede Ferroviária Federal (RFFSA) por módicos R$ 1,764 bilhão. Malgrado a sua exuberante campanha mercadológica, esse montante não quitou, em débitos líquidos consolidados, nove dias de juros. Reiterar a alocução de que a Companhia Vale do Rio Doce (CVRD) foi doada é satisfatoriamente razoável; visto que trocaram o seu controle administrativo e operacional perante o subsolo mais valioso da Terra por míseros R$ 3,338 bilhões. Isso não conteve a especulação onzenária nem por um bimestre.
Mesmo assim, nada se compara à displicência que proporcionou o rompimento das barragens de rejeitos nas cidades de Mariana e Brumadinho. Os distritos adjacentes aos locais que comportavam os reservatórios foram virtualmente riscados do mapa por um deslizamento de lama tóxica, com inúmeras mortes; desabrigados e incalculáveis danos rotulados como os piores desastres ambientais da história do Brasil. Ambas as represas comprometidas — Fundão (Mariana) e Mina Córrego do Feijão (Brumadinho) — eram de propriedade da Vale, sendo que a primeira estava sob os cuidados da mineradora Samarco, um empreendimento conjunto da australiana BHP com a ex-estatal brasileira. Nas duas situações, assomadas em 2015 e 2019, o Gabinete da Presidência da República se omitiu e justificou todas as incúrias para não socorrer as vítimas deste massacre.
Esse vendaval de delitos ilustra os ataques brutais contra o Estado e a sociedade de forma pura e objetiva. A riqueza que pertence aos brasileiros de hoje e do amanhã está se deteriorando em uma velocidade frenética. Mas apesar das infindáveis medidas de contenção, essa dívida asquerosa é prorrogada sem o menor critério. O portal do Tesouro Transparente (TT) sinaliza que a mesma já extrapolou os R$ 4,8 trilhões.
Outro anátema que o Plano Real elaborou é o discurso a favor da privatização do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). O monólogo que os asseclas do neoliberalismo usam para difamar os artigos do título VIII da Constituição Federal provêm de uma nuvem de falácias e estultícias que desmoralizam a previdência brasileira a fim de esfarrapa-la. Os boatos que afirmam a existência de organismos deficitários neste âmbito são prontamente eliminados quando o Centro de Estudos Tributários e Aduaneiros (CETAD) da Secretaria da Receita Federal do Brasil (RFB) lavra que a Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (COFINS) arrecada, sozinha, mais que o dobro do tal prejuízo confeccionado pelas desinformações.
O que forjou esse tumulto foi a separação teórica — e proposital — do faturamento obtido pelo INSS. Entretanto, o fracionamento dessa verba é legalmente proibido. Caso a Desvinculação das Receitas da União (DRU) estivesse incorrendo, o déficit previdenciário teria um volume seis vezes maior. Outros tributos e prospectos associados ao Ministério da Economia também ajudam a desmantelar essa farsa, tais como o Imposto sobre Operações Financeiras (IOF); o Imposto sobre a Renda das Pessoas Físicas (IRPF); o Imposto sobre a Renda das Pessoas Jurídicas (IRPJ); o Imposto sobre a Renda Retido na Fonte (IRRF); o Programa de Integração Social (PIS); o Programa de Formação do Patrimônio do Servidor Público (PASEP); a Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL); as Contribuições Gerais de Salários e Folhas de Pagamentos, etc.
O fato é que a Previdência Social do Brasil é outra célula extremamente lucrativa. Amortizar a dívida externa do país com seus títulos é uma das principais ambições das gangues multinacionais alojadas no território brasileiro. Como é de praxe, tudo se desenrola em função dos juros abusivos que terminam por lançar a sociedade na mendicância. Uma ordem de documentos que analisam esse prisma foram difundidos pela Associação Nacional dos Auditores Fiscais da Receita Federal do Brasil (UNAFISCO) constatando que a fundação gregária não registra saldos negativos desde 2004. O único descompasso que a UNAFISCO identificou encontrava-se nas sandices que o próprio Secretário Especial de Previdência e Trabalho vinha declamando.
O sistema financeiro intervém de modo ostensivo nos grandes veículos de mídia para convencer os brasileiros de que as taxas de juros devem ser conservadas em um patamar elevadíssimo sob o argumento plástico de que essa farfalhada é uma ação indispensável para que o capital adquira motricidade devido aos rombos no orçamento público. Todavia, não reportam à sociedade que a devastação fiscal do país advém justamente do pagamento hiperbólico das alíquotas concatenadas à dívida mobiliária e sua aparelhagem especulativa!
Contrassensos dessa estirpe já transformaram o chavão “o Brasil anda em círculos” em um provérbio obsoleto; isso porque o cataclismo socioeconômico foi multiplicado com tanta violência que o mais correto é declarar que a nação está marchando rumo ao precipício! Mas, com a realização de uma auditoria rigorosa e transparente no erário, é inteiramente possível solucionar esse quadro de disfunções tão preocupantes. Uma averiguação detalhada em todas as expensas da República e em suas esferas possibilita que as taxas de juros sejam refreadas ou até mesmo extintas. Isto posto, o endividamento público nacional será imediatamente atenuado ou decerto apagado da contabilidade brasileira juntamente com os supostos reveses.
É imprescindível frisar que uma auditoria nos gastos efetuados pelo Brasil também expõe as manobras inconstitucionais que todos os entes federativos perpetram continuadamente via instrumentos de sociedade anônima. Esses sodalícios são forjados de maneira desenfreada para que assumam a tarefa de gerenciar os ativos públicos e a emissão de debêntures. Tais ferramentas, porém, não estão subordinadas aos governos, o que faz os palácios estaduais recorrem à contratação de dívidas externas a fim de quitar seus débitos com a União. Vale ressaltar que, ao contrário da parvoíce que descreve a auditagem como uma espécie de calote, tal procedimento aziendal é homologado pela Constituição de 1988 no artigo 26 do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias (ADCT).
A origem dessa avalanche de fraudes nas reservas públicas das subdivisões federais está incondicionalmente atrelada às comorbidades do PROES. Esse objeto deletério é irremediavelmente culpado pela estagnação dos investimentos em diversas áreas essenciais e pela subtração de direitos intrínsecos à cidadania, uma vez que os recursos são absorvidos pelos juros incorporados ao endividamento sórdido, defeituoso e acintosamente prolongado; oriundo dos passivos contábeis dos antigos bancos estaduais transfigurados em impostos superlativos.
O implacável ônus do Estado brasileiro é categoricamente ilegal porque se trata de um esquema que amplifica a capitalização de juros. Isso transgride as especificações do Decreto nº 22.626/1933, coloquialmente intitulado como “Lei da Usura” por combater a locupletação. Desse modo, é fácil perceber que essa dívida é um claro mecanismo de extorsão anexado às diretrizes fazendárias do Banco Central do Brasil (BACEN), indefinidamente mal orientado por um Comitê de Política Monetária (COPOM) flutuante, superficial e cúmplice do ágio pecuniário. Tamanho encargo não pode ser depreendido como um processo congênito, posto que o atual modelo de administração econômica do país outorga que o endividamento seja medrado de forma enigmática e arbitrária.
Essa urdidura que beneficia o rentismo está dilapidando o Brasil, pois além de fazer mau uso do STN ao emitir papéis que concedem reembolsos macroscópicos sobre as taxas de juros que não involuem, também remete às alíquotas preambulares aos novos títulos desde 1994, asseverando que todo esse descalabro neutralizaria a inflação para sempre. Contudo, o que a realidade exibe é teratologicamente oposto às promessas que se arrolavam como desenvolvimentistas: proliferação de impostos; desemprego estentórico; depreciação salarial e uma infinitude de recordes abissais que o sistema financeiro trespassa regularmente.
No meio dessa tormenta, a grande mídia irradia ftalatos publicitários na intenção de ocultar dos brasileiros que o cenário hodierno está sendo mantido artificialmente. Nada obstante, o encerramento da primeira década do Século XXI imprimiu o que já era previsto: o câmbio altamente vulnerável do Real foi estilhaçado com a conversão da dívida externa em interna. As múltiplas adversidades que incidem no Brasil detêm esse mesmo símbolo em comum. O panorama é absolutamente terrível e ficará ainda mais complexo se as intervenções necessárias para a restauração socioeconômica do país continuarem retidas. Também é lamentável inferir que, por culpa de uma horda de demagogos recenseados como políticos, uma inestimável parcela da sociedade é composta por analfabetos funcionais, desinformados e egoístas. São indivíduos que toleram uma enxurrada de agressões morais com uma indiferença estarrecedora porque se acostumaram com o sofrimento; com a exploração e com a falta de empatia. A disseminação de anúncios em busca de favorecer o consumo indômito de quinquilharias é praticada em detrimento da prosperidade nacional, exercendo um rígido comando de manipulação dos desejos sobre itens elencados como o zênite da felicidade. O resultado deste glioma é a indigência popular, haja vista que todas as mazelas aumentaram drasticamente. No entanto, isso é apenas um nódulo manietado às síndromes carcinoides do Plano Real.
Essa conjunção facínora também pulverizou a agricultura nacional ao tonificar os privilégios que já blindavam as malditas oligarquias do agronegócio. No tocante às premissas laborais, uma metástase foi implementada em todos os ângulos empregatícios e transverteu os prolegômenos da subsistência em uma missão impossível, sem descartar os renques empresariais de grau basilar e intermediário, dado que a quantidade de títulos protestados; aberturas de concordatas; transferências de débitos e pedidos de falência jamais foram tão solicitados e propensos a se expandirem com tanta veemência. Entretanto, que a responsabilidade não seja alocada nos endividados, pois é um disparate grotesco imaginar que esta intempérie não prejudicaria os assalariados e que estes não arcam com todos os deveres por mera indolência. Os compromissos atrasam porque os brasileiros não têm dinheiro! Seus rendimentos são ínfimos e se manifestam abaixo de dois salários mínimos. Ademais, o pandemônio sindêmico já almeja desequilibrar a renda de 25% das famílias com as despesas acarretadas pelo “home office”, o que levará o povo ao sacrilégio de ter que pagar o expediente trabalhado ao invés de auferir um vencimento que faculte um contexto de vida decente.
As dificuldades enfrentadas pelos cidadãos que ousam tentar competir de forma legítima contra a avidez das quadrilhas financeiras institucionalizadas é uma batalha definitivamente insana. E como se a debilidade plural já não bastasse, esse latrocínio socioeconômico é constantemente ovacionado pelos Três Poderes da República Federativa do Brasil; por importantes setores do horizonte acadêmico e pelas emissoras de radioteledifusão que fascinam a sociedade com platitudes em troca de audiência. Ao passo que tais instâncias procuram se alinhar com a especulação e comemoram um relacionamento interdependente, elas vão se tornando incapazes de verificar que o tal modernismo da economia — traduzido como “globalização” — é uma fábula ridícula, posto que os avanços factuais são minuciosamente idealizados a fim de preservar o despotismo das elites, integralmente dissonantes com os atilamentos de justiça social e exposição dos fatos concretos. Sandices neoliberais como o Plano Real desvelam o escopo do sistema financeiro internacional, que é o de enganar os brasileiros diuturnamente.
Após essa multitude de infrações explanadas, quero propor algumas reflexões:
• Até quando os produtores rurais suportarão esse maremoto de instabilidade econômica?;
• E a indústria nacional? Até que ponto irão rebaixá-la?;
• Os lojistas e empresários de pequeno e médio porte, o que farão para não sucumbirem?;
• Quantos brasileiros perderão suas ocupações na zona agrícola ou urbana e serão arremessados na informalidade com os outros 14,1 milhões?
• Qual será o limite do desfalque nos proventos que enxovalha a dignidade de todas as classes proletárias há tempos?
• O que acontecerá com os que recebem um salário mínimo de aposentadoria, como tantos idosos e deficientes, ou requisitou o auxílio emergencial de parcos R$ 600 e que foi cruelmente abatido pela metade, sem estimativas de retorno?
Não existe nenhum brio ou magnificência nesse despautério capitalizado! É somente um cadafalso que aparenta ser um palco e faz a sociedade brasileira se enforcar concomitante à publicidade que transmite essa malevolência como um espetáculo apoteótico. Isso é um desrespeito abjeto para com toda a nação! Um desaforo torpe, crasso e marginal! O Plano Real é um artefato perverso, mendaz e antinacional, uma vez que:
• Desmanchou as atividades de produção do Brasil em todas as dimensões;
• Jogou os brasileiros em um frêmito caótico enquanto prometia ser o método infalível de equacionamento macroeconômico;
• Fez surgir o desespero material e o consumismo fútil nos grupos localizados no engaço da pirâmide social, mantendo a angústia causada pelos salários paupérrimos e ampliando a descrença em relação ao trabalho, à educação, à cidadania, às leis, à ética, à solidariedade, aos compatriotas — especialmente os desfavorecidos —, ao Estado e ao futuro do país.
Autor do Texto: Piterson Hageland — Jornalista literário no segmento metapolítico e sociocultural. Pesquisador de assuntos históricos, filosóficos e aspectos econômicos do Brasil e da Ásia Oriental. Colaborador de periódicos geopolíticos e podcasts. Tradutor, locutor e dublador ocasional. Membro da Ordem dos Jornalistas do Brasil (OJB).
Com informações Agência Mbrasil