Como eu não sou nem lulista e nem bolsonarista, muito pelo contrário, vou fazer uma análise aqui dos discursos de ontem sem o compromisso de agradar a ninguém.
Lula abriu a fala dele reforçando as teses eugenistas dos uspianos, pregando divisão birracial do Brasil, uma das piores faces do petismo.
Depois agradeceu ao Foro de São Paulo e chamou os olavetes de terraplanistas. Ora, mas não são eles que denunciam isso e são chamados de conspiratórios? Ambos continuam sendo bons e fieis discípulos de Norberto Ceresole, apostando no binômio amigo-inimigo de Carl Schmitt.
Agradeceu a governantes estrangeiros por seus direitos políticos, França, EUA, Argentina, Bolívia, Venezuela. Disse que a liberação de armas é para “fazendeiros”, como se depois do desarmamento o número de mortes por armas de fogo não tivesse aumentado.
Nota-se que foi uma fala direcionada para a classe média, urbana, acadêmica, para a grande mídia e o mercado financeiro; atacando de maneira desnecessária valores populares do Brasil Profundo.
Bateu no ponto certo em relação à Lava Jato e os interesses estrangeiros na Petrobrás, que é a locomotiva econômica do Brasil. Acertou na crítica ao Obama em relação ao dólar, mas foi omisso em relação a Biden, que foi o grande articulador jurídico da operação, via Robert Miller.
Elogiou a Globo e agradeceu a grande imprensa, bateu palmas para Haddad e estrategicamente escondeu a Dilma. Pareceu que ela nunca existiu e que o professor do Insper não faz parte do grupo político dela, a tal “mensagem ao partido”.
Inclusive, ignorou a responsabilidade da Nova Matriz Econômica pela catástrofe econômica da última década. Chegou a elogiar o Guido Mantega no fim do discurso. Esta tragédia que vivemos definitivamente não começou em 2019.
Mandou as pessoas desrespeitarem as decisões do governo, mas somente do federal, as arbitrariedades dos governadores para ele estão corretas. Negou as possibilidades de atendimento emergencial para reduzir a hospitalização e a mortalidade pela covid, mesmo com colapso na saúde.
Disse que as pessoas são movidas por “fanatismo” e “fake news” e que as pessoas criticam o petismo porque acreditam em “terra plana”. Quer dizer, o fanatismo e as fake news petistas são do bem, as outras são do mal.
Na sequência, colocou a culpa das mortes nos evangélicos e atacou a fé popular. Disse que o “ciclo das commodities” foi uma obra do petismo e não do sucesso da agricultura brasileira, nosso maior ativo geoestratégico e último setor econômico de capital nacional.
Ressuscitou a falácia do “concessão não é privatização”. Tem razão, em diversos aspectos é pior, pois o prejuízo ficam com o Estado e somente os lucros e benefícios são privatizados.
Acertou de novo sobre o modelo de partilha do pré-sal, mas “faltou combinar com os russos”, ou melhor, com os ianques. Faltou lembrar daquele dia fatídico no senado, 16/06/2015, quando a Dilma mandou alterar a posição do governo. Até hoje ela mente.
Foi muito bem de novo quanto a necessidade urgente de recuperar o crescimento do PIB, o superávit primário e o imperativo do investimentos públicos para fazer isso. Não tem outro jeito! De novo, falta crítica à NME e o desempenho de 2011 a 2015, que foi 4x pior que a pandemia.
“Mais Estado na periferia, sim”, mas e a “segurança pública, não”. De novo o papo ridículo de “país de milicianos”. Oras, e sobre o narcotráfico, as facções criminosas? Elas são “apenas poder local”, como diz o narcoparlamentar do Comando Vermelho? Silêncio ensurdecedor.
Bateu com precisão na política de PPI (Preço de Paridade Internacional), inclusive, o Bolsonaro indicou um novo presidente para a Petrobrás para mexer exatamente nisso, e ainda demandou investigação. Esse é o ponto-chave da recuperação econômica. Ambos estão certos.
Mentiu vergonhosamente sobre a gestão de José Gomes Temporão na epidemia de H1N1. Inclusive, foi um dos responsáveis pelo descrédito popular em instituições de saúde, já que aparelhou no Ministério com identitários fazendo lobby pró-aborto e LGBT. “São questões de saúde”, diziam.
Jurou de pés juntos que “a verdade venceu”. Menos, colega, a verdade está longe de aparecer e nem vai. Disse que “o Brasil não tem governo” e na mesma frase falou que precisam “tomar alguma atitude para o Bolsonaro parar de governar”. Afinal, tem ou não tem governo?
Tocou no ponto fundamental de reindustrializar o país, mas ignorou o fato de que a desindutrialização brasileira começou em 1986. Nos 13 anos de governo petista isto não foi revertido nenhum milímetro. Juros altos, economia primária e política distributiva não industrializam.
Disse que “o Brasil não tem projeto de Nação” e realmente não tem faz mais trinta anos. O petismo até hoje tem um projeto de poder, não de nação, inclusive, muitos de seus teóricos, como Marilena Chauí, Márcia Tiburi, Jessé Souza et caterva são antinacionais.
Disse que quer conversar com todo mundo, com empresários, mercado financeiro e agronegócio. Sim, é o que precisa fazer mesmo, conversar com todo mundo. O país precisa urgente de união. Difícil vai ser convencer a militância petista, já que “fanáticos” são somente os outros.
Avançou para a retórica do identitarismo, mas pediu “tolerância” (com os “canceladores”, óbvio, porque os “cancelados” são os responsáveis por tudo de mal que acontece no Brasil). Vai ser difícil conciliar.
Pediu para agilizar a compra das vacinas. Concordo, inclusive, pode conversar com os 67 parlamentares do partido pra ver se eles colaboram ao invés de sabotar. Porque um sabota de cada lado e o país está sofrendo.
Falou que vai discutir uma “frente ampla” e não somente uma “frente de esquerda” mais pra frente, na hora de de fazer as alianças. E está mais do que certo, não estamos em ano eleitoral. Seria bom se o PT abrisse mão da cabeça de chapa, mas não acredito que isso vá acontecer.
Elogiou o José de Alencar com muita elegância e dignidade. Foi muito bom! O melhor vice na Nova República. Um homem decente e importante na nossa histórias, que merece todo o respeito.
Falou de “colocar os petistas para conversar com o povo”. Tô curioso pra ver, porque o petismo não tem mais contato algum com o povo. Isso tende a ser a mais absoluta catástrofe, com tendência ampla de derrota vergonhosa. O tal “banho de povo” deve virar um mero “banho de gato”.
Disse que “o PT sempre polariza, seja com quem for” (olha o Ceresole, o Carl Schmitt e o austríaco do bigodinho aí). O partido em si vai sempre lutar ou pra ganhar, ou pra manter a hegemonia no segundo lugar, e não deixar surgir nenhuma 3ª via. “O PT acima de tudo”.
Foi bem ao defender uma aliança sul-americana independente dos governos passageiros. Foi a única vez que falou da Dilma e agradeceu à ela e ao Nicolás Maduro na mesma frase. Tá tirando sarro com a cara de todo mundo.
Ontem a Venezuela pediu à ONU uma intervenção contra o Brasil para “parar a tragédia e proteger a América do Sul”. Olha a audácia desses miseráveis! Vai lá, agradece ao Foro de São Paulo.
Na sequência falou de “dívida histórica com a África”. Quantas colônias o Brasil teve por lá? O projeto é transformar a América Ibérica em várias potências como Congo, Zimbábue, Tanzânia, Angola, Moçambique, África do Sul, Nigéria, Serra Leoa, etc?
As pessoas falam muito de Venezuela, Cuba, agora a Argentina, mas o país americano que melhor representa este modelo colonial é o Haiti. “Pense no Haiti/ Reze pelo Haiti/ O Haiti é aqui/ O Haiti não é aqui”. Pois então…
Na bomba de contradição cognitiva, falou novamente do projeto muito acertado de criação de uma moeda forte no BRICS para fugir do dólar. Difícil é falar isso no palanque ao lado do Boulos, já que o PSOL foi um dos principais sabotadores deste projeto.
Falou da independência política das Nações e elogiou o Celso Amorim. Bom, o chanceler do lulismo na semana passada assinou uma carta pedindo intervenção internacional contra o Brasil. Isso é esperado vindo de grandes traidores como Leonardo Boff, mas de um ex-chanceler?
Para arrematar, atacou novamente os evangélicos ao pessoa em que pediu à Deus para levar o coronavírus embora. Mas não era a vacina que iria resolver?
A melhor parte foi sobre Ciro Gomes, a frase foi assim: “Ele pensa que é professor de Deus, então a mim ele tem que aprender a respeitar”. Ciro vive dizendo que “Lula pensa que é Deus”. Acertou, miserávi!!!
Bateu com vontade no “jogador de figurinhas” do Luciano Huck e na “frente ampla” do PSDB. Bateu com gosto também na Míriam Leitão e os Marinho fizeram ela chamá-lo de “sensato” na coluna de opinião (rs!). Não teve dó nessa pancadaria e eu sinceramente gostei!
Os jornalistas do Brasil 171(247) mostraram a sua falta de caráter na pergunta sobre os militares. A fala sobre o Gal. Villas-Boas foi covarde e injusta. Acenou para a ala do pai do Mercadante, disse que investiu nas forças armadas (o que é verdade), e criticou a ala governista.
Apesar do aceno ao mercado, disse que “quem comprar a Petrobrás está correndo risco”. Bravata! Ele sabe que não pode cumprir. Fico me perguntando se os petistas que estão comprando o que o Guedes está vendendo também estão correndo risco. Já falei disso aqui.
A cereja que completou o bolo foi a retórica falsa dos ungidos petistas de que “os ricos tem medo da melhoria de vida dos pobres”, só faltou falar de “rodoviária e aeroporto”, mas acho que não cola mais. Como se não bastasse, defendeu o modelo de sindicalismo bandido do petismo.
Só pra deixar claro, não sou contra o sindicalismo, mas sou contra esse modelo que o petismo criou. Ah, claro, deu mais uma elogiada no Mantega na saída.
No fim das contas, apostou no divisionismo do país com muitas afirmações contraditórias. A meia verdade também é uma meia mentia. Pelo nível de cobertura da mídia, pareceu a saída do hotel de Curitiba e não um cara que tá quase todos os dias falando abobrinha nos blogs petistas.
Lula, pelo menos, fala de carteira de trabalho, de projeto nacional, de economia, de geopolítica, ao invés de ficar só no papo identitário ou dissertando sobre o c*, como faz a militância petista que ele quer colocar pra conversar com o povo (risos).
Não foi o discurso de um grande estadista, mas como estamos carentes dessa categoria de líderes, podemos dizer que passa. Ainda está parecendo um animador de torcida, meio “deputadx do piçol”, mas tende a melhorar muito.
O maior efeito da fala do Lula foi a reação do Bolsonaro, que agora é obrigado a mostrar serviço e melhorar muito. Isso é bom para o Brasil. No fundo, ele está fazendo as coisas, mas vai precisar se comunicar melhor e ser muito mais firme.
O “acabar com tudo que tá aí” ou o “não vai sobrar pedra sobre pedra” não enchem barriga. A economia precisa melhorar muito, pois o estômago vazio costuma ser um péssimo conselheiro. O Bolsonaro reagiu ao discurso do Lula e mudou um tanto de postura.
Ontem (dia 12/3), o Presidente falou dos recursos que foram repassados aos estados e dos hospitais que foram equipados, assim como das operações para conter fraudes e desvios desse orçamento, o que é de fato verdade.
Falou do pagamento do auxílio emergencial, que foi bem executado, mas faltaram as medidas para amparar os pequenos comerciantes, que agora estão sendo trucidados pelos governadores. Deveria estar emitindo títulos a fundo perdido para esse pessoal, mas tem que se livrar do Guedes.
Falou dos recursos investidos na produção de vacinas desde junho de 2020 e de tudo que foi comprado e encomendado em caráter emergencial. Mencionou o desenvolvimento de uma vacina brasileira e de usar a nossa ainda existente capacidade industrial para a amparar a América do Sul.
Reforçou a orientação para que as pessoas procurem atendimento nos primeiros sintomas da doença ao invés de esperarem o quadro clínico se agravar, o que é correto. Todo mundo de máscara e com tom mais sóbrio. Devem ter tomado um pito da equipe do Netanyahu. Parece que agora vai.
Bola no centro, jogo empatado e está valendo! Finalmente existe alguma oposição real e isto é bom porque obriga que está com a caneta na mão a trabalhar. A frente ampla dos tucanos fez água, mas ainda tem influência no juiz e no VAR. A mídia segue com disforia de identidade.
PS: Desculpem terminar com a analogia com o futebol, mas é mais forte do que eu. E viva o Brasil!!!
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