O JORNAL PURO SANGUE republica excepcionalmente aqui um artigo escrito por Paulo Guedes. Uma verdadeira carta de amor à Open Society (Sociedade Aberta) de George Soros.
A pergunta que fica é: Como um governo que se declara conservador mantém à frente da economia um discípulo de George Soros? Pra pensar.
Com o aumento do preço dos alimentos, o aumento do preço da gasolina, do gás de cozinha, a insistência em diminuir o poder dos militares dentro do governo, perguntamos: de que lado está Paulo Guedes? Tirem suas próprias conclusões.
“O capitalismo tem algo que alguns apontam como um defeito, e eu considero uma virtude: o sistema não é conservador. O capitalismo detesta o patriarcado, o patrimonialismo, a aristocracia e o cartório. Por essa razão, constantemente fustiga privilégios e está sempre promovendo novas oportunidades, agora mesmo para centenas de milhões de chineses. Ele promove um turnover (circulação) das suas próprias elites. Os Estados Unidos foram colônia da Inglaterra, que depois entrou em colapso e, no século passado, quer se queira ou não, foi recolocada no mundo por Margaret Thatcher. O liberal é tudo, menos um conservador, um aristocrata. Um liberal de verdade é profundamente revolucionário, quase anárquico; ele está sempre olhando para o futuro, nunca para o passado. Eu ousaria dizer que os Estados Unidos chegaram mais próximo dos ideais socialistas do que a Rússia, que é profundamente desigual.”
“O meu ideal político, como professor e empresário, é o da sociedade aberta*, uma ordem extensa, impessoal e cosmopolita. Se eu for nacionalista excessivamente, estou dizendo que sou inimigo do outro. Se privilegio a minha regionalidade, estou pronto para aceitar Estados nacionais que disputam beligerantemente poder político e econômico. Sou, é claro, um democrata, mas reconheço que há um paradoxo interessante entre a democracia e a liberdade. Se a maioria for cristã e a lei da maioria determina o exercício do cristianismo, como aconteceu no passado, ou se a maioria for branca e a lei democrática enunciar que todo branco deve ser diferente do negro, isso seria um regime democrático, por mais contraditório que pareça. Mas antes de ser um democrata eu sou um liberal. Democracia é um método político; o liberalismo é uma doutrina e não apenas um método. Por exemplo: Hitler chegou democraticamente ao poder. Na África do Sul, hoje, como a maioria é negra, poderia haver uma lei que exigisse a expulsão dos brancos. O liberalismo diz que é importante o respeito às minorias; e a democracia, que é o poder da maioria, vai lá e expulsa os brancos. Eu prefiro ser um liberal e ir para um lugar onde haja uma liberal-democracia. O ideal da sociedade aberta é um círculo em expansão. Em Atenas, a democracia ficava restrita aos cidadãos; há cem anos, ela existia para a maioria, à exceção das mulheres, e hoje vale para todos. Nós somos algo que biologicamente evolui, tenta, experimenta, pressiona e permite avanços. A liberal-democracia é a que permite o máximo de experimentações.
Mas o movimento é sempre o de sístole e diástole. A direita mais reacionária retorna na Europa e nos Estados Unidos. No caso americano, há uma espécie de síntese entre situação e oposição – os democratas são um pouco mais trabalhistas e os republicanos são mais voltados para o business. Quando a sociedade se sente mais fragilizada em função da Guerra do Vietnã, vota, nos anos 1970, em um democrata como o Jimmy Carter, que cura a parte social e política. Quando a economia começa a emperrar, nos anos 80, os americanos votam em um republicano como o Ronald Reagan, que reduz os impostos e combate a inflação. Eles oscilam pouco, basta tomar como exemplo o Bill Clinton, que foi um democrata que cortou gastos sociais. No caso da direita na América Latina, a diferença é gritante. Ela é autoritária, corrupta, ditatorial, oligárquica, patrimonialista, sem-vergonha, assaltante oficial de Estado. Nunca teve qualquer ideologia liberal-democrata. Patrocinava golpes militares, produzia avanços de empresas estatais de intervencionismo generalizado não apenas na máquina de produção – como Telebrás, Siderbrás, Eletrobrás e Nuclebrás – como de forma indireta, através da política cambial (regra de minidesvalorização), política salarial (deflatores) etc. Quer dizer, intervenção total em tudo. Ao retornar ao Brasil, depois de cursar o doutorado na Universidade de Chicago, virei um intelectual liberal-democrata e experimentei a solidão. Eu segui o meu caminho, que era o oposto tanto dos economistas que serviam ao regime militar como daqueles que estavam na oposição. Fiz isso sem me preocupar com rótulos – direita ou esquerda.
O termo “sociedade aberta” (open society) foi popularizado pelo filósofo Karl Popper, em seu livro “A Sociedade Aberta e seus inimigos”. Popper foi um dos mentores do mega-especulador George Soros, quando esse ainda era um estudante de Filosofia, antes de adentrar o mundo das finanças.
Não por acaso, Soros criou sua própria fundação com o nome de Open Society, para inicialmente apoiar movimentos de contestação aos regimes socialistas da Cortina de Ferro, depois para apoiar organizações com pauta progressista pelo mundo afora, incluindo as que fazem apoio à legalização das drogas, em prol do aborto, dos LGTB´s e pelo chamado “Abolicionismo Penal”.
Nós sabemos que a sanha pelas finanças une Paulo Guedes e George Soros. Resta saber se o Ministro da Economia também compartilha dos mesmos valores de Soros, sendo um dos principais integrantes do governo “conservador” de Bolsonaro.
Governo Bolsonaro caracteriza-se, teratologicamente, por ser conservador nos costumes, mas, liberal na economia. As ideias de Bolsonaro não correspondem a seus atos. Ele não pensa no Estado, mas, nos êxitos de suas sucessivas campanhas políticas.