Por Rubem Gonzales
Afinal, que mágica ocorreu com os nossos homens públicos? Sempre fazendo leis para ferrar o povo, sempre arrumando uma forma do cidadão pobre e comum trabalhar mais e ganhar menos, cortar seus parcos direitos, e agora se tornaram ferrenhos defensores da saúde do mesmo?
O que leva um sujeito que propôs que restos vencidos de alimentos fossem misturados com rejeitos de empresa para fazer uma ração para dar para os filhos dos necessitados se colocar como um novo herói da sociedade brasileira?
O que leva prefeitos e governadores extremamente corruptos, mantenedores de uma matilha de apaniguados e sugadores de recursos, vendedores de merenda, obras e remédios superfaturados a se tornarem apaixonados defensores da saúde do povo?
Porém, o mais genial nem é isso, genial é como com verbas públicas pingadas nas contas da nossa grande mídia e no bolso de autoridades reguladoras, o povo inteiro engole essa falácia, esse verdadeiro golpe de mágica coletivo, um ilusionismo coletivo patrocinado sempre com dinheiro público.
Um fato novo ocorreu e numa catarse coletiva a Lei de Responsabilidade Fiscal foi abolida, o Judiciário virou parceiro e aí nossos belos espécimes políticos, com uma trajetória digna dos piores bandidos da história, estão fazendo a festa.
Cidades do interior aderem ao oba-oba, carros de som propagam nas ruas atrás dos “atrasados” já prevendo que num futuro em breve esses mesmos serão arrastados à força para ganhar sua cota milagrosa para satisfazer os donos do mundo.
Parece que no Ocidente do Norte, que por gravidade cai no Sul, como já dizia o grande Belchior, já conseguiu vender o seu peixe podre e finalmente em breve em nome da democracia poderemos conviver com uma nova realidade.
Em pouco tempo teremos democráticos campos de concentração — superfaturados e contratados sem licitação, óbvio — para os que se neguem a receber a benevolência dos nossos probos governantes lá permaneçam até aceitarem as ordens do “Grande Irmão”.
Em pouco tempo estaremos todos salvos e felizes sem fundo de garantia, sem CLT, sem assistência médica, sem décimo terceiro, sem emprego. Todos nas ruas andaremos como zumbis, como errantes de uma sociedade que abdicou do direito de exercer os seus direitos.
Nesse dia governantes probos podem voltar com a ideia maravilhosa da “farinata”, a nutritiva farinha de restos dos que ainda possuem algo, misturado a sobras inservíveis para a indústria de ração animal, e quem sabe em gratidão não colocamos o nome dele em cada rua e avenida em todas as cidades do país?