
Na última semana da campanha presidencial, a atração do programa Roda Viva, da TV Cultura, foi Henrique Meirelles.
Meirelles presidiu o Banco Central durante os dois mandatos de Lula (2003-2010) e foi ministro da Fazenda de Michel Temer (2016-2018). Falou no programa de segunda-feira à noite, se não como ministro, pelo menos como grande porta-voz do provável próximo Governo Lula, no momento em que até Bolsonaro já parece ter jogado a toalha. Situação perceptível pela própria atração do programa em tal momento e pela calmaria reinante na Faria Lima, considerando-se a transição de mandatos, mesmo em um período de turbulência no cenário internacional.
Ao público interessado, Meirelles tentou se mostrar mais capaz que o atual ministro da Economia, que nem de longe tem sua experiência política e administrativa, em fazer avançar pontos que o atual governo não foi capaz, como a Reforma Tributária e Administrativa. Sobre esta última, ter o PT na coalizão de governo pode ser um facilitador político, dada a influência do partido em associações de classe e sindicatos de servidores, para distensionar reações advindas dos servidores, que, como categoria, sairão perdendo.
No mais, o implementador do Regime de “Teto de Gastos” (advindo da Emenda Constitucional 95/2016) apresentou a receita de manter e ampliar as políticas de renda focalizadas (sobretudo o Auxílio Brasil) enquanto aplica o regime de contenção de gastos, nada muito diferente da atual política econômica. Tal como o “museu de grandes novidades” que é atual equipe de Lula, Meirelles apresenta-se como defensor da ordem política e econômica dos últimos trinta anos, pelo menos.
Estaria tudo muito bom se a questão fosse apenas derrotar o atrapalhado Governo Bolsonaro, mas o cenário externo já não é o mesmo. Diante de uma coalizão heterogênea, no ano que vem nem tudo se resolverá com um “Chama o Meirelles!”, para lembrar o bordão usado em 2018.
Quem viver, verá.