Por Raphael Machado.
A Rússia é o lado certo no conflito atual. Não existe equivalência com a OTAN. Eles não são “santos”, tampouco “salvadores do mundo”. Mas pela própria natureza do conflito mundial, a Rússia leva consigo certas expectativas de inúmeros países.
A OTAN, que sempre se vendeu como “aliança defensiva”, não tem servido mais que como um instrumento do imperialismo estadunidense ao redor do mundo. Através da OTAN, os EUA destruíram a Iugoslávia, apelando inclusive a mentiras sobre atrocidades.
Depois, no Iraque, recorrendo não apenas ao estratagema da “intervenção humanitária” e à mentira das “armas de destruição em massa” para invadir o Iraque em benefício de Israel e para ampliar o cerco à Rússia.
Na Líbia para evitar a consolidação da União Africana e a instituição de uma moeda única africana não vinculada ao dólar (ou ao franco), destruíram o país, assassinaram de forma covarde o seu líder e agora o comércio de escravos é uma das principais atividades econômicas do país.
Na Europa, ela serve para manter uma rede de bases militares que mantêm o continente subjugado, fora do jogo geopolítico, sem identidade geopolítica, eternamente mordomos dos EUA.
Na América do Sul, ela impõe um cerco à Amazônia e ao Atlântico Sul, tentando nos garantir como quintal e como fonte de recursos naturais. Para isso, nos jogam uns contra os outros e promovem políticas de desintegração do tecido social (progressismo pós-moderno).
A OTAN, que nasce para consolidar uma força militar dirigida contra o Bloco Comunista, tornou-se após o colapso do comunismo o protótipo de um Exército Mundial. Isso é comprovado porque para além de seus membros oficiais, a OTAN possui uma ampla rede de parceiros não membros. É essa pretensão de ser um protótipo de Exército Mundial que deu à OTAN o “mandato moral” de promover ou planejar intervenções em todo o planeta. Afinal, a Paz Perpétua kantiana do Fim da História tem que ser implementada, pelo dólar ou pelo fuzil.
E esse “mandato moral” de quem pretende falar em nome da “humanidade”, livra a OTAN para cometer as maiores atrocidades, já que o inimigo está sempre além do diálogo, além do entendimento, por ser sempre um paradigma do mal absoluto, eternamente o “novo Hitler”.
E esse “novo Hitler” só pode ser despedaçado ou enforcado, com seu povo trucidado e suas cidades vaporizadas e os sobreviventes forçados a se prostituir, a comer cachorros e a revirar lixo, em nome dos direitos humanos universais.E tudo isso sob o escudo do Direito Internacional, da chamada “ordem internacional baseada em regras”, com o Tribunal de Haia sempre pronto para dar o carimbo da legalidade a toda anatemização atlantista do inimigo.
Afinal, que inimigo do Ocidente não foi condenado ou pelo menos acusado de crimes de guerra? E que presidente ou general de países da OTAN já foi condenado pelos tribunais internacionais?
Por causa das teorias geopolíticas de Mackinder, Spykman e Mahan, o Ocidente atlantista selecionou a Rússia como inimigo principal. Monarquia Feudal, Federação Comunista, República Liberal ou República Cesarista, para a geopolítica anglo-saxã não faz a menor diferença a forma de Estado ou a ideologia oficial da politeia que se estende do Dnipro à Sibéria.
O Estado q ocupa essa posição estratégica, central, do Heartland eurasiático, precisa ser destruído. A importância da posição é múltipla: imensas reservas de recursos, fácil acesso à Europa, Oriente Médio, Ásia Central, Índia e Extremo Oriente, saída para várias águas, etc. Boa parte dos esforços do Ocidente no último século, de colocar Lênin em um trem até os eventos que envolvem a Ucrânia e o Cáucaso hoje, estão pautados nessa estratégia de cerco e desintegração do Estado russo-eurasiático.
O sucesso da empreitada atlantista levaria a uma reação em cadeia, com o inevitável colapso do Irã, da Síria e da Armênia. A África voltaria aos Senhores neocoloniais. Os países que tentam jogar os dois lados se ocidentalizariam. A China teria que se fechar e se preparar para um cerco por mar e terra.
Que esperança teria o Brasil nesse cenário? Temos interesse claro na vitória russa.