Por Aldo Rebelo.
A cidade de Belém receberá nos dias 8 e 9 de agosto a Cúpula da Amazônia, integrada pelos oito países que compõem o espaço amazônico: Bolívia, Brasil, Colômbia, Equador, Guiana, Peru, Suriname e Venezuela.
O presidente Luiz Inácio Lula da Silva convidou para o encontro representantes da França, pela presença da Guiana Francesa no mundo amazônico, da República do Congo e República Democrática do Congo, e da Indonésia, países ricos em florestas tropicais e biodiversidade.
O objetivo do governo brasileiro é construir uma posição conjunta desses países para ser levada à Conferência do Clima das Nações Unidas nos Emirados Árabes, a COP 28, marcada para ocorrer entre 30/11 e 12/12 de 2023, na cidade de Dubai.
Em entrevista ao jornalista Marcos Uchôa no programa Conversa com o Presidente, o chefe do governo brasileiro pediu ajuda ao mundo para proteger a floresta. Segundo ele, prometeram US$ 100 bilhões em 2009, mas os US$ 100 bilhões nunca saíram.
A ambiguidade tem sido a marca dos pronunciamentos do presidente Lula sobre a agenda do clima e do meio ambiente. Ora proclama que a Amazônia não é um santuário, mas ao mesmo tempo prestigia a agenda santuarista de seus ministros e de seu governo; ora defende o desenvolvimento, mas parece que transformar a Amazônia em reserva legal e jardim botânico dos países ricos é só uma questão de preço.
Os amazônidas são silenciados no debate sobre seu destino, com exceção de lideranças cooptadas pelos fartos recursos do financiamento internacional. O mundo do trabalho e o mundo da produção são completamente ignorados. É como se houvesse uma supremacia moral e civilizatória dos burocratas de Brasília, dos governos dos Estados Unidos e da Europa Ocidental com suas ONGs, que os autorizaria a impor soluções julgadas adequadas à Amazônia, aos seus governantes e à sua população.
Mas parece que finalmente desperta na Amazônia uma profunda indignação diante da arrogância supremacista que nega aos amazônidas qualquer protagonismo nas decisões sobre seu futuro.
A Conferência do Meio Ambiente, COP 30, anunciada para Belém em 2025, só terá sentido de acontecer para a população da Amazônia se reunir os temas da preservação ambiental e do direito ao desenvolvimento. O Brasil não pode aceitar que sobre o subsolo mais rico do País viva uma população submetida aos piores indicadores sociais. A mais promissora fronteira mineral do mundo, a maior reserva de biodiversidade e de água doce do mundo afrontadas pelos maiores índices de analfabetismo, de mortalidade infantil, de doenças infecciosas e pelas menores taxas de saneamento básico, de água tratada e luz elétrica por domicílio do País.
Se os governantes brasileiros e as ONGs excluem os amazônidas das decisões sobre o seu destino, só restará o enfrentamento aberto em defesa dos seus direitos. Que o governo brasileiro considere que a mesma Amazônia que acolherá a COP 30 conheceu as chamas da revolta, na Cabanagem, quando se sentiu traída e abandonada pelos governantes no século XIX.