Do Movimento de Solidariedade Íbero-americana.
O interesse externo, em especial, dos EUA, em promover a agenda das “finanças verdes” no Brasil, ficou evidenciado pela visita ao País da secretária do Tesouro dos EUA, Janet Yellen. Além de reunir-se com o ministro da Fazenda Fernando Haddad e encher de elogios a reforma tributária recém-aprovada pelo Congresso, ela deu o recado: “Vou falar aqui no Brasil com minhas contrapartes de formas de fortalecer cadeias de suprimentos e sobre assuntos de cooperação relacionados à Amazônia. Estamos trabalhando para apoiar mercados emergentes em diferentes iniciativas, de investimento ecológico, seja por meio de reestruturação ou evolução de emissões de carbono.”
Evidentemente, não poderia faltar na agenda da secretária um encontro com a ministra do Meio Ambiente Marina Silva, o que ocorreu em uma conferência promovida pela Câmara Americana de Comércio (Amcham Brasil) em São Paulo, na terça-feira 27. Na ocasião, Marina destacou a redução de 50% do desmatamento na Amazônia em 2023 e reiterou que “o compromisso do presidente Lula até 2030 é zerar o desmatamento”, sem especificar se se referia tanto ao ilegal como ao legal, permitido pelo Código Florestal (20% no bioma Amazônia e 65% no Cerrado).
Marina lembrou também a criação do recém-anunciado programa de proteção cambial para investimentos “verdes”, com a participação do Banco Central e do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). Segundo ela, é a primeira vez que há uma sinergia entre as políticas econômica e ambiental no Brasil.
Em uma atitude inusitada, talvez, para bajular a visitante, a ministra elogiou a decisão do governo de Joe Biden de reduzir as exportações de gás liquefeito de petróleo (GLP) para a Europa, altamente prejudicial para as economias europeias que abriram mão das importações de gás e petróleo da Rússia, em uma custosa retaliação contra a guerra na Ucrânia. “Isso é uma ação corajosa”, disse ela, sem qualquer consideração sobre o impacto da medida para os europeus.
O otimismo róseo com as finanças “verdes”, trombeteado à exaustão por Marina e seus colegas de governo, contrasta fortemente com o recuo que os investimentos vinculados à notória agenda ESG (ambiental, social e governança corporativa) vêm experimentando nos EUA e na Europa. Por isso, os mentores das “finanças sustentáveis” não podem dar-se ao luxo de que o Brasil se junte a esse impulso negativo.