
Por Lorenzo Carrasco.
Entre os especialistas não comprometidos com a visão da guerra na Ucrânia proveniente das capitais da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN), há poucas dúvidas de que o conflito esteja aproximando-se da sua fase final. E o motivo é simples: o virtual esgotamento das reservas humanas ucranianas diante de um adversário amplamente superior em recursos humanos, novas tecnologias e táticas e, em especial, uma infraestrutura econômica física que pode ser rapidamente convertida em economia de guerra e se mostra superior a qualquer combinação que lhe possa ser oposta pela OTAN em conjunto.
Para ficar apenas em um número, a Rússia produz hoje mais que o dobro de granadas de artilharia de 155 mm do que todos os países da OTAN combinados, cujos estoques estão quase esvaziados. O último envio de tais munições à Ucrânia, proveniente da Romênia, foi destruído em um ataque de precisão com mísseis Iskander, pouco depois do seu desembarque no porto de Odessa.
A rápida conversão da indústria para a produção militar foi proporcionada pelo drástico aumento do orçamento de defesa (que já supera um terço do orçamento do governo federal), com créditos com juros favorecidos direcionados às empresas do setor, mas, sobretudo, pelo fato de a economia física russa não ter sido prejudicada pela orientação “pós-industrial” das suas contrapartes ocidentais. Isto apesar da inclinação neoliberal do Banco Central, do qual também se ventila a possibilidade de uma reconfiguração para o modelo soberano do banco central chinês.
A recente troca do general Sergei Shoigu pelo economista Andrei Beloussov no Ministério da Defesa, que surpreendeu e desorientou muitos observadores estrangeiros, revela não apenas uma intenção de reforçar o complexo industrial de defesa, mas também assegurar que os avanços tecnológicos refletidos em uma variedade de novas armas e equipamentos se reflitam em aplicações e usos civis, ao contrário do que ocorria com a tecnologia militar da extinta União Soviética. O porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov, citou a necessidade de o órgão incorporar conceitos de inovação e progressistas.
Beloussov é um veterano pesquisador do antigo Instituto Central de Matemática Econômica da Academia de Ciências da URSS e do Instituto de Prognósticos Econômicos da Academia Russa de Ciências. No governo, serviu em várias posições de destaque, inclusive as de vice-ministro de Desenvolvimento Econômico e Comércio e vice-primeiro-ministro.
Em relação às tecnologias de ponta, as Forças Armadas russas têm demonstrado a sua vasta superioridade no tocante aos mísseis hipersônicos e capacidades de guerra eletrônica, além de terem aperfeiçoado amplamente o emprego de drones de reconhecimento e combate, no que já é um dos aspectos mais relevantes da revolução de meios militares em curso nos campos de batalha ucranianos. Drones que não chegam a custar mil dólares têm sido usados para inutilizar veículos blindados de milhões de dólares, inclusive os decantados tanques estadunidenses Abrams e os alemães Leopard.