Por Thiago Espindula
A notícia que repercutiu neste final de semana foi a delação de Dario Messer, o dito “doleiro dos doleiros”, que afirmou que fez um repasse de 2 bilhões de reais à Família Marinho, dona da Rede Globo. A probabilidade dessa delação ter um fundo de verdade é bastante grande, posto que tanto o doleiro quanto a Família Marinho aparecem em um escândalo anterior de remessas ilegais de dinheiro para fora do país, o Caso Banestado.
Foto de Dario Messer, o doleiro que citou a Família Marinho em delação.
O estranho da situação foi a repercussão que, de repente, o caso ganhou na grande mídia e até em inúmeras mídias ditas progressistas, que sempre se recusaram em discutir questões como a do Banestado. É justamente por isso que é necessário desconfiar a respeito dos grupos que estariam interessados em promover barulho em torno da questão de Dario Messer, e por que estariam fazendo isso justamente agora. Além disso, não podemos deixar de perceber que Jair Bolsonaro foi às redes para pressionar a Rede Globo a falar sobre o assunto, fato esse que pode nos induzir a algumas reflexões importantes a respeito de quem teria movimentado a delação de Dario Messer.
Postagem de Bolsonaro pressionando a Globo no Twitter.
Para entendermos como pode a fala de Messer estar ligada ao bolsonarismo, precisamos lembrar que a homologação da delação foi feita pelo bolsonarista Marcelo Bretas, que faz parte do lavajatismo do Rio de Janeiro. Por ser uma figura próxima a Jair Bolsonaro, podemos deduzir que o estímulo à delação possa se prestar a produzir pressões políticas sobre certos agentes da direita, bem como a tendência é de que, realizado o efeito da pressão, o caso seja depois diluído no esquecimento por “falta de provas”. Precisamos rememorar que, nos últimos dias, o mesmo Bretas também liberou a saída de Michel Temer do país para ser o representante da comitiva brasileira, destacada por Bolsonaro, no Líbano (provavelmente, como um afago ao centrão).
Quem homologou a delação de Dario Messer foi Bretas, o mesmo que liberou a saída de Temer do país.
A confluência da liberação da delação por Bretas e do entusiasmo de Bolsonaro em pressionar a Rede Globo pode representar o fato de que o movimento para trazer a questão justamente agora tenha partido do bolsonarismo para promover um fortalecimento interno desse setor dentro da direita política, para que Bolsonaro possa criar espaço político para si e reduzir as pressões que tem crescido sobre ele. Fazendo isso, conseguiu empurrar a Globo e grupos da direita tradicional para trás, posto que a emissora sempre é utilizada pela elite, quando se quer pressionar Bolsonaro em certa direção, para divulgar novidades sobre o esquema envolvendo o filho de Bolsonaro, Flávio. Não à toa, o bolsonarismo aproveitou o ensejo para espalhar nas redes que o esquema da Globo era uma “rachadona”.
Para entender essa disputa interna na direita, é preciso compreender que, dentro do complexo arranjo direitista que foi constituído para que a elite pudesse retornar ao poder com um projeto antipopular, impera um certo caos de interesses que é, com muito trabalho, mantido sob controle. Justamente por isso, não se pode falar de uma luta pelo poder, mas sim uma luta de certos grupos da direita para que possam representar o interesse da elite, o que não significa que as divergências não aconteçam concretamente… Muito embora não possamos chamar de uma polarização real por representar o interesse unicamente da burguesia. Mesmo assim, é importante que assinalemos que o arranjo geral mantém essas divergências sob um certo nível de não-implosão de si próprio, e é por isso que vemos disputas e pressões internas, como as protagonizadas por Bolsonaro e pela Globo. Esses são dois agentes da burguesia que, embora troquem farpas e se digladiem em questões pontuais, convergem sempre na agenda antipopular e de reformas neoliberais. É dentro desse arranjo que podemos entender que o movimento usando Dario Messer pode ter sido disparado para que Bolsonaro pudesse ganhar alguma musculatura e reduzir a pressão sobre si dentro do arranjo direitista.
Por fim, cabe ressaltar que é preciso também estar atento aos movimentos que buscam resgatar elementos dos escândalos passados, ainda vivos e ativos na política atual, pois são de suma importância para se compreender os arranjos atuais e para estabelecer uma luta mais sólida. Por isso, é possível que o movimento utilizando Dario Messer possa resgatar as origens suspeitas da Lava-Jato, que estão atreladas à forma como o Banestado foi forçado ao esquecimento, bem como é provável que a extrema-direita manobre o Caso Banestado para pressionar ou mesmo enfraquecer todo o sistema político brasileiro, posto que muitas empresas e figuras políticas estão envolvidas naquele escândalo, sobre o qual foi jogada uma pá de terra. O erro fundamental aqui talvez tenha sido da esquerda não ter se organizado previamente para resgatar mais profundamente temas que poderiam promover danos mais sérios às estruturas de poder, deixando isso a cargo de grupos que irão utilizar para aprofundar o golpe no Brasil.
Se a implosão de um sistema político corrupto é algo a ser levado em consideração para se transformar a política no país, é preciso tomar cuidado para que a extrema-direita não se aproprie não só da arma de implosão como do vácuo produzido pelo processo, posto que a tendência não é de que a esquerda ocupe esse espaço, destruída e desunida como está.
A seguir, vídeo sobre o assunto discutido no texto.
Com informações Verdade Concreta