Por Pedro Augusto Pinho.
O projeto de destruição do Estado Brasileiro não começa com Jair Bolsonaro, mas ganha menos sofisticação e maior velocidade em seu governo. Podemos atribuir, de algum modo, aos seus discursos de campanha, à ausência de um projeto de soberania e desenvolvimento nacional na oposição e ao apoio da maioria analfabeta política, midiaticamente construída desde os governos anteriores ao do Partido dos Trabalhadores (PT), algumas das razões que lhe deram a vitória eleitoral.
O mais incrível é que já durem quase dois anos de alienações patrimoniais, desemprego e empobrecimento sem que não tenha surgido uma oposição que apresente alternativa para que se reverta este desmonte do Estado. Estaria a oposição política unicamente restrita à conquista do governo, de um poder formal? Pretende dar continuidade a este desmonte ?
Esta questão é bastante pertinente quando verificamos que muitos discursos ditos oposicionistas não atingem este processo de conformação do Estado Nacional a um Estado Colonial explícito. Onde a retomada da soberania nacional e a construção da cidadania não encontram medidas concretas para efetivação.
Analisemos separadamente estas condições atuais, mesmo sabendo da inquestionável interconexão das medidas em prol da soberania e da cidadania. Como caracterizar a soberania hoje? No mundo que transforma os modos de produção e impõe manifestações culturais para as quais o uso de novas tecnologias é condição viabilizadora?
A nosso ver a soberania reside em vários campos sendo prioritários o desenvolvimento e a apropriação das principais tecnologias do século XXI, a saber: tecnologia nuclear, tecnologia da informação, tecnologia aeroespacial e tecnologias da energia. Mas sua estruturação não pode ser simples cópia de modelos liberais. Precisamos desenvolver um projeto a partir de nossas raízes, do que já nos ensinou este maior intérprete e grande construtor do Brasil, Darcy Ribeiro.
Continuemos na ótica geral, antes de nos aprofundar nas questões específicas de produção e usos destas tecnologias.
A soberania é a condição de autonomia decisória do Estado Nacional. Precisamos, desde logo, sair do casulo da bipolaridade da guerra fria, do olhar o outro como um vassalo ou um inimigo, na mais profunda herança do pensamento liberal europeu. A eleição da dupla Joe Biden/Kamala Harris para o executivo estadunidense nos leva a pensar em novo estado de guerra, a continuidade das guerras dos Estados Unidos da América (EUA) desde a guerra contra a Coreia, após a II Grande Guerra.
O Brasil tem sido vítima deste liberalismo de farsas, fraudes e corrupções, desde as lutas pela independência e pelos golpes que se sucederam a partir de 1822. Por outro lado, uma ideologia também importada da Europa, o marxismo, domesticou-nos para a alienação das condições únicas e específicas da Nação Brasileira, colocando-nos, país agrícola até a Revolução de 1930, como se tivéssemos lutas operárias e não coloniais.
É indispensável voltarmos para nossa realidade e dela elaborar o projeto de reconstrução nacional. Há, no mínimo, quatro modelos, no que se refere à soberania, entre os Estados hodiernos. O modelo imperial/financeiro dos EUA, o modelo socialista nacionalista da República Popular da China (RPC), o do nacionalismo capitalista, com a condução pragmática do Estado Nacional, na Rússia, e os modelos religiosos, encontrados nos Estados islâmicos e no Estado judaico de Israel.
Por conseguinte, não há uma hegemonia que nos seja inelutavelmente imposta, mas, ao contrário, esta diversidade de opções abre espaço para a construção de um Estado Nacional Brasileiro, erigido sobre os fundamentos culturais de nosso país.
A este respeito, nossa história apresenta diversas contribuições de pensadores e políticos desde a Independência, como as de José Bonifácio de Andrada e Silva, o Patriarca, de Alberto Torres, dos positivistas gaúchos, de Josué de Castro, do genial Darcy Ribeiro e do nosso maior Estadista, Getúlio Vargas. Ou seja, não precisamos continuar copiando, em más cópias, pensamentos europeus, que hoje também sustentam a formação dos EUA, um estado belicista, onde a luta contra o inimigo é ponto basilar.
E este inimigo, na maioria das vezes, é fabricado, construído por motivos econômicos, geopolíticos e para eleições internas. Manteremos nossa nem sempre pacífica sociedade, mas permanentemente aberta à conciliação, tendo a paz como um valor do Estado que queremos construir.
Analisemos, então, as tecnologias para soberania. Já estabelecemos o ideal pacífico do Estado e da sociedade. Mas deve haver a compreensão que existem Estados belicosos, que ainda há o interesse colonizador de outras nações, e que o Brasil deve estar pronto para responder estas agressões e, mais ainda, ter poder suficiente para evitar que elas ocorram.
A tecnologia nuclear se espalha por ampla gama de aplicações na sociedade atual, umas voltadas para o desenvolvimento industrial, outras para as condições de saúde e mesmo para a alimentação. Assim, a capacitação para construir o artefato bélico é somente uma das aplicações tecnológicas. Mas aumentará nosso poder dissuasório.
A tecnologia da informação ganha crescentemente importância no cotidiano das pessoas. Além das estratégicas aplicações na defesa nacional, permite, entre outras aplicações, o aperfeiçoamento democrático com maior participação da sociedade nas decisões e no controle das ações públicas e em consultas quase instantâneas que o governo, em todas as áreas e instâncias, poderá fazer.
Desde que o primeiro homem foi ao espaço, a tecnologia aeroespacial só fez acrescentar mais poder ao domínio do espaço aéreo e das comunicações por satélites. Também os múltiplos usos para os drones juntam as tecnologias aeroespaciais e da informação. É sempre necessário ter em mente que as ações são sempre sistêmicas, ou seja, participam em outras com interações e produção de resultados mais complexos. Organizar uma sociedade sem a perspectiva sistêmica é levá-la para desajustes.
As energias são indispensáveis ao desenvolvimento. O consumo de energia por habitante, extraordinariamente baixo no Brasil, é sempre apontado como indicador de estágio de desenvolvimento. O Brasil tem abundantes fontes primárias de energia e tecnologia de ponta para explorá-las; apenas as questões político-ideológicas têm se oposto ao amplo consumo nacional de energia. Também as energias da biomassa, igualmente com ampla capacitação nacional, oferecem solução para diversas questões ambientais e para novos projetos de desenvolvimento econômico.
Mas é indispensável o controle nacional de todas as fontes de energia, o que torna necessário reverter as alienações para empresas e governos estrangeiros de nossas fontes primárias, dos órgãos e unidades de processamento, de distribuição, transporte e comercialização das energias.
Igualmente importante no campo da soberania é o controle e destino dos nossos recursos minerais e das condições de uso dos aquíferos e outros recursos naturais. É imprescindível o controle nacional sobre todos estes recursos.
O outro pilar onde se assenta a Nação é a cidadania. Sua construção não pode aguardar a soberania integral, mas deve ser juntamente erguido, mesmo quando temos a convicção que sem soberania as conquistas da cidadania são facilmente destruídas. Não se sustentam. Mas a cidadania irá atuar em favor do fortalecimento da soberania, numa simbiose benéfica à Nação.
Três são as ações construtoras da cidadania: as relativas à existência do cidadão, aquelas que lhe dão consciência do ser e desenvolvem suas habilidades e conhecimentos e a que permitirá a comunicação em todos os sentidos e para todos os demais habitantes e para as instituições do Estado.
A existência significa a vida digna e confortável. Nela estão a proteção ambiental, a urbanização, o saneamento básico, as edificações adequadas aos climas brasileiros, as facilidades de deslocamento, a saúde e a garantia de vida com renda básica e geração de emprego.
A consciência incorpora o conhecimento de si, a aceitação das diferenças, o orgulho nacional e todos os letramentos e conhecimento das manifestações culturais brasileiras. Para que tenhamos uma noção de nosso atraso nesta área, onde penetra a pedagogia colonizadora, a Rússia Czarista tinha na estrutura do ensino básico o orgulho nacional, ou seja, havia aulas de nacionalismo.
Na primeira reforma introduzida no ensino, após a vitória de Mao Tse Tung, os cursos jurídicos chineses passaram a ter em seus currículos a História da China, a história das doutrinas econômicas e a economia politica, as teorias políticas e do poder, além das filosofias e tecnologias jurídicas e da legislação nacional.
Vocalização é o amplo campo das comunicações. Inclui manifestações individuais de caráter artístico, participação em debates e decisões políticas, votação, reclamações e congratulações, ou seja, a mais ampla, abrangente e democrática possibilidade de todos se expressarem para todos.
Fechando o conjunto da cidadania, temos a proteção dos direitos, uma visão diferente do que seriam as seguranças individual, coletiva e patrimonial. Dentro do mesmo conjunto da cidadania, pois as leis e suas aplicações devem ter o cidadão como principal preocupação.
Darcy Ribeiro, o mais genial intérprete e criativo construtor do Brasil, com a escola do futuro, o Centro Integrado de Educação Pública – Ciep, foi o mais brilhante e profundo analista e propositor de um Brasil brasileiro. É não apenas um intérprete mas, igualmente, um construtor do Brasil que queremos. E o desenvolvimento das ideias apresentadas neste artigo, teve e terá a imensa contribuição deste político, pedagogo, cientista social e realizador, distribuída por seus livros e seus trabalhos.
Pedro Augusto Pinho, administrador aposentado.
Com informações Monitor Digital
“A solução para o Brasil são cotas e representatividade, seu faxistaaaa!”
Sério? E onde os cotistas vão trabalhar se não existem indústrias, empresas e empregos? 4 anos na faculdade para entregar comida de moto? Você tem projeto para criar empregos, empresas, indústrias no Brasil? Ou vão surgir magicamente só porque a Maju agora apresenta o Jornal Nacional? Teu patrulhamento da fala e da consciência alheias vão transformar o Brasil numa potência tecnológica como China, EUA, Japão, Alemanha e Coréia do Sul? Vamos virar uma potência militar como a Rússia, com mísseis hipersônicos, porque agora a mulatada de São Paulo descobriu o turbante só porque pretos americanos começaram a usá-lo? Vamos começar a produzir transistores de alta tecnologia porque agora falamos “brasileires fodides” em vez de “brasileiros fodidos”. Os 50% dos “brasileires fodides” sem saneamento básico vão deixar de viver no século XIV porque agora temos programa sobre diversidade na Rede Globo? Brasil tem 60 mil homicídos todo ano, como você pensa em resolver isso?