Por Andrew Korybko
Os EUA se consideram a “polícia do mundo”, daí suas ações arrogantes, mas nunca ganhou mandato da comunidade internacional para cumprir tal papel. Ao contrário, é mais um ator perigosamente delirante do que um policial legítimo.
O Secretário de Defesa Nacional das Filipinas advertiu na semana passada que seu país “estará envolvido, goste ou não”, caso “aconteça uma guerra de tiros” entre a China e os EUA no Mar do Sul da China. Em vez de especular de que lado do conflito as Filipinas estariam nesse cenário, é muito mais relevante se perguntar por que os EUA estão no Mar da China Meridional em primeiro lugar. Afinal, é o envolvimento militar dos Estados Unidos nesta região que aumenta o risco de guerra, não o da China.
O Mar do Sul da China não é apenas uma região histórica da China, mas a maior parte dele também é uma parte legítima de seu território. A presença militar dos EUA, portanto, não está apenas na porta do país, mas literalmente dentro de sua casa, por assim dizer, apesar de não ter sido convidada por Pequim. Washington afirma que está protegendo a chamada “liberdade de navegação”, mas para continuar a metáfora, na verdade, ele invadiu a casa da China por causa de uma disputa com alguns de seus vizinhos.
Os EUA se consideram a “polícia do mundo”, daí suas ações arrogantes, mas nunca foram delegados pela comunidade internacional para cumprir tal papel. Em vez disso, é mais um ator perigosamente delirante do que um policial legítimo. Alguns dos vizinhos marítimos da China se opõem às suas reivindicações territoriais, mas todas essas são disputas bilaterais que devem ser tratadas entre Pequim e cada uma das partes relevantes. Os EUA não têm por que se envolver nessas questões, mas o fazem de qualquer maneira para dividir e governar a região.
Muito se falou na mídia americana sobre as atividades da China em várias ilhas, recifes e baixios, mas o fato é que a China tem o direito de desenvolver seu território da maneira que achar melhor. Não representa risco para terceiros, muito menos para legitimar a liberdade de navegação, mas pretende defender seus interesses como todo país tem o direito de fazer. O posicionamento e as manobras militares da China sobre e ao redor desses pedaços de terra e suas águas na verdade protegem o Mar do Sul da China, não o desestabilizam, ao contrário de ações semelhantes dos EUA.
Nenhuma vez a China ameaçou impedir o livre fluxo de embarcações comerciais em seu território marítimo, mas as autoridades americanas falaram publicamente sobre atacar as embarcações chinesas e até mesmo isolá-las do Oceano Índico, por exemplo, através do Estreito de Malaca. Os movimentos militares dos EUA no Mar do Sul da China são uma extensão dessa estratégia, com o objetivo de intimidar e intimidar a República Popular a se submeter às demandas de política externa de Washington. Eles têm por objetivo obstruir a liberdade de navegação da China, não facilitá-la.
O assunto foi discutido tanto na última década que muitas pessoas seriam perdoadas por cair na falsa impressão de que isso sempre foi um motivo de preocupação. Não foi, porém, mas é apenas um desenvolvimento relativamente recente que começou seriamente durante o chamado “Pivô para a Ásia” do governo Obama, que foi intensificado agressivamente sob o atual presidente dos EUA, Trump. Os EUA até começaram a pressionar seus aliados para seguirem seus passos e se juntarem a eles na violação da soberania territorial marítima da China.
Publicado em One World Global Think Tank.
Andrew Korybko é autor de “Guerras Híbridas: das Revoluções Coloridas aos Golpes”.
Rubão, é um gol do Jornal Puro Sangue trazer artigos do Andrew Korybko traduzidos para o português para o público brasileiro.
As escolas brasileiras, desde a mais fundamental, deveria ter o ensino de Geopolítica (geoeconomia, geoestrategia,…) para mostrar as nossas crianças que não estamos sós no mundo. Enquanto isso não ocorre o Jornal Puro Sangue presta esse serviço de formiguinha, que espero transforme-se num formigueiro.