Por Roberto Nishiki
Vamos lá: de 1500 a 1850, o Brasil recebeu 6 VEZES mais africanos do que europeus. A quantidade de europeus que entraram no Brasil até 1850 mal chegou a 600 mil pessoas segundo Boxer e Caio Prado Jr.
E a maioria esmagadora desses europeus se dirigiu a Minas Gerais por conta da mineração aurífera. Em 1780, Minas tinha 1/3 de escravos, 1/3 de alforriados e 1/3 de livres, a maioria composta de mestiços, por um simples fato: mais de 90% DOS EUROPEUS QUE CHEGARAM AO BRASIL ERAM HOMENS.
E as poucas mulheres se dirigiram em sua maior parte às pequenas colônias que se estabeleceram no Sul antes da imigração do final do XIX. Óbvio então que a população da maior parte do Brasil que não tinha vindo da África ou que era indígena tinha de ser mestiça, porque, pelo que eu saiba, homens não podem engravidar homens.
Então chegamos ao final do XIX e a chamada “grande imigração” aconteceu. Bom, essa é outra lenda. O Brasil, no final do XIX e no século XX, recebeu apenas 4 milhões de europeus. A Argentina, um país com uma população 5 vezes menor do que a brasileira, recebeu 6 milhões e os EUA receberam 35 milhões (e, ao contrário de Brasil e Argentina, o EUA continua recebendo imigrantes europeus, até mesmo do rico norte da Europa).
Ou seja, a imigração europeia para o Brasil, comparada à imigração para os EUA, foi insignificante. Além disso, desde o século XVII, os europeus iam com suas famílias viver nos EUA e por isso o país não precisou formar uma população quase que totalmente mestiça ou negra e indígena por falta de mulheres europeias, como aconteceu com o Brasil.
Mas continuemos: desses 4 milhões de europeus que entraram no Brasil, 2 milhões voltaram para a Europa ou foram para os EUA e Argentina. Ou seja, o Brasil recebeu, de verdade, apenas 2 milhões de europeus que se estabeleceram aqui. E de todos esses europeus, 60% foram para São Paulo e, contando São Paulo e região Sul, temos 90% dos europeus se estabelecendo em SP e nos estados do Sul. Ou seja, o número de europeus que foi viver no restante do Brasil, fora do Cone Sul, foi insignificante.
Pois bem, em 1872, São Paulo + Região Sul tinham apenas 15% da população brasileira. Somente Minas Gerais tinha uma população 25% maior do que a de São Paulo e região Sul juntas. Ué, queriam embranquecer o Brasil e trouxeram apenas 2 milhões de europeus que se estabeleceram no país e 90% deles foram viver numa região que concentrava apenas 15% da população total do país? Eles deveriam ter ido para o Nordeste, Rio e Minas Gerais, que eram os núcleos populacionais do país. Que embranquecimento estranho esse!
Além disso, ao contrário do que fizeram nos EUA, no Brasil nunca houve esterilização e programas de aborto de pessoas negras. Se queriam embranquecer o Brasil, por que não esterilizaram os negros e estabeleceram programas de abortos para mulheres negras, como fizeram nos EUA? Que estranho….
Até o meio do século XVIII, quando começou o desenvolvimento do capitalismo industrial e economicamente o Norte da Europa disparou em seu desenvolvimento em relação ao restante do mundo, quando se falava em “raça”, se falava em grupos de pessoas, sem muita relação com ancestralidade ou cor de pele. Claro que percebiam que as pessoas eram diferentes, mas essas diferenças eram explicadas mais em relação à dieta, clima, costumes, cultura e até mesmo pobreza e doenças. Ou seja, não eram diferenças pensadas como fixas. John Hunter dizia que o preto era escuro por conta do Sol. Mesmo Boulainvilliers, que dizia que a nobreza francesa, de origem germânica, era diferente do povo francês, de origem celta, não se referia tanto a uma questão de origem genética, mas sim a uma diferenciação por direito de conquista. A inauguração do racismo científico aconteceu nos países do Norte da Europa na segunda metade do Século XVIII. 90% dos chamados racistas científicos são anglo-germânicos. Mesmo durante a maior parte do período escravista a justificação para a escravidão tinha mais relação com a cultura e religiosidade dos escravizados e não com ancestralidade genética. O peso da questão genética e de ancestralidade começa nos EUA na segunda metade do século XVIII, quando a escravidão realmente passa a ser uma questão de raça (até o começo do século XVIII, a maior parte dos negros nos EUA eram servos de contrato e não escravos. E muitos negros livres tinham eles mesmos servos de contrato). Um dos primeiros racialistas, a dizer que as diferenças humanas tinham origem em sua genética e ancestralidade foi um alemão chamado Christoph Meiners. Ele ainda abria uma janela para questões ligadas à dieta e modo de vida, mas essas questões eram secundárias. Para ele, o negro sentia menos dor do que qualquer outra raça e carecia de emoções [ou seja, podia ser mais judiado]. Meiners escreveu que o negro tinha os nervos grossos e portanto não era sensível como as outras raças, ele chegou a dizer que o negro “não tem sentimento humano”. Ele contava uma história em que um negro foi queimado vivo, e, no meio da queima, o negro pediu para fumar um cachimbo e o fumou como se nada estivesse acontecendo enquanto ele continuava sendo queimado vivo. Meiners estudou a anatomia do negro e chegou à conclusão de que o negro tem dentes e mandíbulas maiores do que qualquer outra raça, pois os negros são todos carnívoros [ou seja, selvagens]. Meiners afirmava que o crânio do negro era maior, mas o cérebro do negro era menor do que qualquer outra raça. Meiners afirmou que o negro era a raça menos saudável da terra por causa da dieta pobre do negro, modo de vida e falta de moral [ainda um resquício das antigas classificações humanas baseadas nos costumes e dieta]. Mas ele não apenas dizia que negros eram inferiores. Segundo ele, o eslavo era “menos sensível e satisfazia-se em comer comida áspera”; ele descreveu histórias de eslavos que comiam fungos venenosos sem sofrer nenhum dano. Ele alegou que suas técnicas médicas também eram retrógradas, como os eslavos assando doentes em fornos e fazendo-os rolar na neve. Nós sabemos como terminou essa visão alemã sobre os eslavos, com 23 milhões sendo mortos na Segunda Guerra
Pardo de Schrödinger.
Basicamente é a ideia de que um pardo pode ser preto ou branco de acordo com a conveniência do Movimento Afro-Ford-Soros do Bostil: Pardo preso? Preto. Pardo na Universidade? Branco. Pardo dando tiro usando farda? Branco. Pardo levando bala no rabo? Preto. Pardo apoiando o Bolsonaro? Elite Branca. Pardo apoiando o PSOL? Preto Oprimido. Pardo recebendo altos salários? Branco. Pardo trampando de gari? Preto.
Segundo as novas descobertas da física brasileira, a decoerência quântica da molécula parda só se resolve com a observação do ixquerdista. Até que um identitário resolva observar o pardo, ele é branco e preto ao mesmo tempo. Só quando o membro da ixquerdinha colorida dá um chilique, a decoerência parda se resolve e o pardo assume uma identidade.
Por exemplo, o Fernando Henrique Cardoso. Apesar de ter boca de preto e ventas de africano, ele é branco, pois foi presidente do Brasil e agora está rico com apartamento em Paris. Se estivesse morando numa favela, ele seria um preto oprimido. Mas até o ixquerdista observá-lo, ele é as duas coisas, preto e branco.
Isso vale para qualquer pardo. Se estiver tomando um enquadro da polícia, ele é preto. Se estiver dando o enquadro, ele é branco. Se estiver num cargo de gerência dando esporro num funcionário, ele é branco. Se estiver tomando o esporro, ele é preto. Se estiver traficando ecstasy em festa de bacana, ele é branco. Se estiver traficando crack no Bairro da Luz, ele é preto. Se estiver em comício do Bolsonaro, ele é branco. Se estiver no comício do PSOL, ele é preto. Se for dono da Odebrecht, ele é branco. Se for à falência e ir morar na rua, ele é preto. Se for entrar no cálculo do IBGE ele é preto, se for tentar as cotas ele é branco.
Muito Interessante !
Gostei muito da explicação do uso oportuno do pardo. Curta e grossa. Recomendaria alguma públicação sobre as questões de imigração dos europeus para o Brasil?