Enquanto o STF e a Procuradoria Geral da República se unem para enquadrar o deputado federal Daniel Silveira (PSL-RJ), estreante em seu primeiro mandato, o alvo da oposição recai, além das histrionices dessa Sara Winter anabolizada e com mandato, sobre as Forças Armadas, com seus supostos gastos nababescos em carnes de primeira, bacalhaus, cervejas e leites condensados.
Estranho momento em que no mesmo momento em que a alta cúpula do Judiciário se une para desconstruir (palavra bastante na moda) a Lava Jato, contando com apoio de setores da grande mídia, volta à baila o famoso twitt do General Villas Boas na eminência do julgamento em segunda instância da condenação de Lula, no início de 2018.
Enquanto isso, seguimos sem a aprovação do Orçamento de 2021, a lei anual que estabelece todos os gastos da União – que só podem ser realizados com autorização legal – incluindo os gastos militares que causam polêmica em redes sociais e espaços congêneres. O que não impediu a aprovação da autonomia do Banco Central no dia 10, logo depois da volta do recesso parlamentar de janeiro, pauta cara à equipe econômica que dá as cartas nesse governo.
Equipe econômica essa que além de fiscal de gastos, segundo o dogma do Teto de Gastos (o “Novo Regime Fiscal” de 2016) está de olho, na verdade, não nas despesas correntes do Ministério da Defesa, com valores dentro dos preços de mercado, mas dos fundos voltados para as despesas de capital, necessárias para a modernização das Forças Armadas, como os fundos Aeronáuticos, Naval e do Exército. A equipe econômica também tem obstaculizado a aquisição de aeronaves, o que é mais grave ainda em um contexto de pandemia e elevados números de casos graves e mortes ocasionadas pela Covid-19.
Desde a famosa reunião ministerial de abril de 2020, vazada pela imprensa pelo STF, na qual Bolsonaro desferiu sua saraivada de palavrões, ficou claro para todos que há um racha entre uma ala neoliberal ortodoxa, chefiada por Paulo Guedes, e outra mais desenvolvimentista, representada pelos militares e pelo ministro da Infraestrutura. Ala esta que parece frustrar alguns planos neoliberais de venda de todo o patrimônio público possível, algo que eles tem logrado fazer, por exemplo, na Petrobras, mas não no setor elétrico, por exemplo. Setores com visão estratégica parecem ter noção de que um desmembramento total da presença do Estado no setor elétrico poderia causar danos sérios à saúde do setor. Não custa lembrar o caso do Amapá, ainda no ano passado.
No mais, sabe-se que foram “fontes ligadas ao Ministério da Economia” que deram combustível a um portal eletrônico para escrever a famosa matéria do gastos com leite condensado, levando a crer que, ainda por cima, este estivesse superfaturado. A grande mídia e amplos setores da oposição compraram a narrativa, na esperança de que se produzisse algum arranhão na imagem de Bolsonaro, tido com rude, grosseiro, porém honesto, assim como um tiozão do interior. Bem ao seu estilo, o presidente, como um animador de torcida, assumiu o rótulo de Leite Moça como item de decoração nas suas lives, provocando mais revolta na oposição, que como sempre, previsivelmente, morde a isca.
Enquanto isso, Paulo Guedes sorriem enquanto se constrói a desmoralização dos militares, que comem carne e leite condensado, mas não são sócios de grandes bancos de investimento e não tem teclados da Bloomberg em suas salas de trabalho.