Paulo Guedes entende muito de como sabotar o Estado, como roubar o Estado, como aniquilar empresas públicas, é um verdadeiro PhD na matéria, só tem um problema: Paulo Guedes não entende nada de administração pública e muito menos daquele detalhe chamado povo, que se faz necessário, pelo menos de 4 em 4 anos, para manter a farsa da democracia em dia. E só sabe lidar com “uaustrite”, com Chicago Boys e discutir, no máximo, com a turma de Harvard. Esse é o máximo de socialismo e populismo que Paulo Guedes entende.
Bolsonaro entende muito de rachadinha, entende muito de como se eleger deputado, dormir, roncar, arrumar diárias e outras coisitas mais de políticos do baixo clero. Bolsonaro, por um acidente da natureza, foi colocado no topo do mundo. Um acidente sazonal provocado em parte pelo discurso identitário da esquerda brasileira que levou o Bolsonaro a condição de mito, um ícone viril e cheio de testosterona, que, na realidade, até hoje só mostrou apetite mesmo para não fazer nada e pouco entender do nada que faz.
Também entende pouco de como se manter no poder e para isso se ombreou com Paulo Guedes, e deu a esse o timão de toda a sua política, calcado e baseado em cima de uma fé inabalável no seu público, embevecido, enredado na popularidade que sem querer o congresso nacional colocou no seu colo, com ajuda financeira ao povo na pandemia.
Desconhecendo totalmente o que seria uma matriz de causas e efeitos na política e confiando cegamente, talvez pela sua crônica ergofobia e total desconhecimento de como funciona uma máquina eleitoral, Bolsonaro dá plenos poderes a Paulo Guedes em plena pandemia e cai na armadilha de não aprovar, via congresso, ajuda emergencial para 2021.
Eu previ isso dia 20 de outubro (programa completo aqui), falei que em janeiro o país entraria em parafuso porque um país que carrega mais de 25 milhões de desempregados e ao mesmo tempo se nega, em plena pandemia, a ajudar o seu povo. Ajuda essa que salvou inclusive o pescoço de Paulo Guedes ao não permitir que o PIB brasileiro naufragasse próximo de 15%. Negando a volta do auxílio, abre-se uma brecha de descontentamento, não entre o povo e seus opositores mas exatamente entre a sua base.
Como cereja do bolo, quer aprovar a PEC emergencial 187/19, tentando tirar os parcos recursos da maioria dos funcionários públicos – dinheiro para pagar a conta dos desvalidos, levando de roldão junto, nada mais nada menos, que policiais e as Forças Armadas. Seria esse o remédio amargo a ser tomado, como disse o Mourão.
Ocorre que já estamos em campanha eleitoral e falar em apertar o cinto a alguém que embolsa mais de R$ 50.000 por mês como Mourão ou Bolsonaro, que acumula várias aposentadorias, ou seu filho que tem coragem de comprar, em plena investigação contra a sua pessoa, um imóvel muito acima de suas posses, demonstra que vai ser difícil encarar essa retórica, emplacar essa retórica.
Estamos indo para um beco aonde quem decide a eleição não é a ideologia, é o estômago, o contraponto para coroar mais ainda o momento trágico que o Brasil vive. Os asseclas e capangas de Paulo Guedes cortaram a Huawei do leilão da 5G, isso fará que, num curto espaço de tempo, o agronegócio brasileiro inteiro, maciçamente apoiador do Bolsonaro, passe a comer farelo de soja ou as tripas dos seus bois, porque a China nunca brincou nem nunca vai brincar em serviço: a retaliação virá e virá pesada, não mais no lombo do povo, virá no agronegócio que precisa desse dinheiro para rolar sua produção e pagar sua santa dívida anual com o Banco do Brasil.
Para melhorar tudo, para transformar o mês de março em algo inesquecível para Bolsonaro, eis que a elite que prendeu, humilhou e arrasou com a figura de Lula, saca o mesmo da cartola e o coloca como protagonista, e como possível provável e virtual presidente eleito no processo quase plebiscitário em 2022.
Lula será aclamado, não será eleito, Lula está na memória do povo como alguém que pode ser até corrupto, mas presidia em uma época em que todos comiam, todos sorriam, todos faziam um churrasco na laje, todo mundo se divertia, o Brasil era mais alegre, o Brasil era mais feliz, o Brasil não tinha a figura de Paulo Guedes cagando na cabeça do brasileiro, não tinha a figura do Bolsonaro proferindo palavras mal-educadas para eleitores
Nada disso me anima muito, pois devemos levar em consideração que quem soltou o Lula, o colocou de novo no páreo foi exatamente quem o prendeu, e podem fazer isso de novo mostrando que tudo no Brasil nesse exato momento tem cheiro do MMA de Dana White, o empresário de todos os lutadores, do que ganha a luta e do que perde. Se vocês assistem isso e se empolgam com isso parabéns — eu não consigo, da mesma forma como não consigo me empolgar muito com a política nacional no momento devido a essa semelhança um tanto quanto trágica e assustadora.
Aos fatos, precisamos falar que efetivamente o março negro chegou para Bolsonaro, suas chances existem, mas são muito reduzidas, o seu eleitorado não tem gasolina mais barata que o resto do povo, seu eleitorado também está vendo o dólar bater R$ 7, o Euro já bateu R$ 7. Sete reais a um euro: finalmente devolvemos o 7 a 1, só que da forma mais trágica possível.
Rubem Gonzalez