por Fernando Calzzani
Ao emitirmos alguma opinião negativa sobre a privatização dos Correios, é muito comum ouvirmos respostas exaltando o sucesso na experiência das privatizações no setor de telecomunicação. Mas é justa tal comparação entre a privatização dos Correios e a privatização das telefônicas? Pontuo aqui alguns motivos pelos quais considero tal comparação totalmente injusta e desonesta.
Numa analise superficial, a primeira diferença gritante é a reserva de mercado presente antes do início das privatizações das empresas de telecomunicação, exclusivamente nas mãos das empresas estatais. Tal exclusividade já não existe no caso dos Correios há décadas e, atualmente, o “monopólio” dos correios só se mantém por falta de interesse em investimento privado visto que é muito difícil atingir um preço menor que o já praticado se o investimento necessário for integralmente aplicado. Ou seja, se realmente interessasse a alguma empresa privada criar a infraestrutura para oferecer um bom serviço e competir com os Correios, já poderiam tê-lo feito. Por que não o fizeram? A resposta é simples, é mais interessante comprar o que já está consolidado pelos Correios por uma ninharia, provavelmente financiada com a ajuda estatal do próprio BNDES. O interesse do mercado é obvio, visto que as vendas online explodiram recentemente devido não só à pandemia, mas a todo processo de digitalização nas vendas que vem acontecendo progressivamente nas últimas 2 décadas. O que ocorre hoje é a simples apropriação descarada de um bem comum estatal eficiente e lucrativo.
Outro grave problema na comparação é o próprio desenvolvimento tecnológico que, por consequência, diminuiu os equipamentos de telecomunicações na ordem de grandeza de milhares, senão milhões de vezes. Isso, por consquência, barateou os preços dos equipamentos na mesma proporção, impactando no seu preço final. Além disso, atualmente a telefonia precisa de muito pouca mão de obra pra operar, coisa impossível de se fazer com as entregas dos Correios. Ainda assim, se comparado à média mundial, o Brasil ainda possuía uma das telefonias mais caras do mundo até relativamente pouco tempo atrás e hoje não passa de mercado consumidor de tecnologia defasada em comparação com o mercado mundial. Outro fato a se atentar é que as TELECOMUNICAÇÕES são meio necessário e parte fundamental da técnica de controle e manipulação através da propaganda e acabam também sendo subsidiadas pelos grandes conglomerados capitalistas – considere, por exemplo, a gratuidade da TV aberta, onde o produto é você, sua mente e seu corpo.
Particularmente, não sou contra determinados tipos de privatização. Inclusive penso que a privatização da telefonia tenha sido acertada até certo ponto. Entretanto, vejo alguns problemas muito sérios com relação à privatização dos Correios que ainda é uma ponte de comunicação e integração muito forte entre os grandes centros e os rincões do Brasil. Na simples busca pelo lucro imediato, a tendência é a manutenção dos serviços nos grandes centros e a precarização dos serviços Brasil adentro. No caso da telefonia, ainda hoje há cidades cujas operadoras simplesmente não implantam torres de telecomunicação. Há casos onde o município tem que bancá-las através de uma cooperativa entre os usuários, muito parecido com o que a CETERP fez em Ribeirão Preto e tantas outras cidades fizeram Brasil afora.
Mas, de fato, o preço dos correios é ruim? O serviço de entregas é realmente ruim? Naturalmente, há sempre o que se melhorar, mas é motivo para essa loucura privatista? Ainda haveria alguma desculpa se os Correios fossem deficitários. Entretanto, recentemente, apuraram lucro de cerca de 1,5 bilhões de reais. Vale notar também que o governo estrangula a empresa na intenção de precarizá-la e vendê-la há muito tempo (quando foi o último concurso para admissão de novos funcionários?). Ainda assim, conseguem fazer um serviço, no mínimo, muito bom.
Infelizmente, com a privatização, não vejo espaço para melhora com a inevitável diminuição de pessoal e troca por terceirizados. Só vejo mesmo PROPAGANDA massiva financiada pelos interessados – incluindo partidos políticos comprovadamente contratando gente para atacar os Correios na rede desde antes de 2013 – e muita gente iludida com a tal propaganda. O mesmo tipo de propaganda que prometeu combustíveis mais baratos que os 2,80 no final de 2015 e já batendo os 6,00 em 2021.
De qualquer forma, preparem-se para fechamento de unidades a pretexto de “eficiência”, atendimento presencial sendo trocado por espera telefônica infinita, precaridade de serviços em áreas mais remotas (quando houver), terceirizados mal treinados e muito mal pagos e, talvez e quase que certamente, encarecimento de preços.
Belo texto….sempre usei Correios e não tive problema, no máximo um atrasinho aqui, ali….mas a grande massa sem cérebro ainda acha que o monopólio é responsável pelos erros que eventualmente ocorrem……a última vez que comprei fora, paguei um frete altíssimo pra FedEx, mas advinha quem foi que entregou?