
FORTALEZA, CE, 30.10.2018 - CIRO-GOMES-ENTREVISTA - O candidato derrotado à Presidência da República pelo PDT, o ex-governador Ciro Gomes, durante entrevista em seu apartamento no bairro Meireles, na Beira-Mar de Fortaleza. (Foto: Jarbas Oliveira/Folhapress)
Ciro Gomes usou seu espaço nas redes sociais para atacar a viagem diplomática de Bolsonaro à Rússia. No Twitter, afirmou que o presidente “entende tanto de política externa como de economia ou de saúde pública” e que “se Bolsonaro falar o que não deve (?), como é corriqueiro, colocará o Brasil em uma posição delicada com parceiros comerciais importantes”.
Ora, Ciro Gomes, “parceiro comercial importante” a Rússia não deixa de ser, tendo em vista que o país euroasiático é um dos grandes fornecedores de fertilizantes, insumo importante para o nosso agronegócio. Além disso, você, que parece entender de política externa, sabe que a objeção em relação a essa viagem não virá da China, o maior parceiro comercial do Brasil, há uma década.

Para aqueles que se vangloriam em ser “experts em política externa” ou em distinguir o que é de interesse nacional no cenário internacional, há uma crise na exportação da potassa, insumo dos fertilizantes agrícolas. Rússia e Belarus são dois dos grandes produtores mundiais, mas Belarus depende de acesso a outros países para exportar. Sob sanções, que visam atingir o governo de Alexsander Lukashenko, os países bálticos resolveram, a pedido dos EUA, bloquear o acesso das mercadorias bielorussas a seus portos, fazendo com que elas tenham que escoar para a zona portuária de São Petersburgo. O que aumenta ainda mais a influência russa sobre o mercado mundial da potassa.
Estranho parece você fazer coro junto com a grande mídia, reverberado pela “mídia OTAN” (BBC, DW, El País etc), junto com a Embaixada dos EUA e Sergio Moro, aquele que você gosta de desancar – e com razão! – sendo que este último classificou a viagem de “fiasco diplomático”. O jornal “O Globo” até dedicou um editorial a isso.
O ex-presidente boliviano Evo Morales costumava dizer que os Estados Unidos tem imunidade a golpes de Estado pois lá não há embaixada deles mesmos. Nesta segunda-feira, dia 14, a embaixada e os consulados dos EUA localizados no Brasil estenderam bandeiras do Black Lives Matter, justamente no dia que Bolsonaro embarcou em um avião para Moscou. Coincidência?
Infelizmente, para falar de política externa como política de Estado falta visão ou, quem sabe, honestidade. A parceria com os BRICS foi montada durante o Governo Lula, devido muito a boa relação que o ex-presidente. A Rússia deve ser encarada, pelo Brasil, não só como parceiro comercial, mas como parceiro estratégico, com uma indústria de defesa de primeira linha, e um país interessado em construir uma ordem internacional multipolar, que também é objetivo estratégico da diplomacia brasileira há décadas.

Estranho essas críticas vierem justamente no momento em que o Itamaraty retoma as rédeas da política externa, conduzindo uma política de Estado e não de uma seita que se aboletou em cargos-chave das relações exteriores.
Parece mesmo que a disputa é mesmo por Brasília, e não pelo Brasil.