
Por Antonio Júnior
É notório que a elite dominante (globalista) ocidental foi a grande responsável pela ascensão da China através de investimentos maciços naquele país, até mesmo com transferência de grande parte do parque industrial, assim como de tecnologia, em troca de incentivos fiscais e mão de obra barata, entre “otras cositas más”.
Contudo, com o passar do tempo, começaram a surgir divergências entre os dois lados. O próprio George Soros, um dos porta-vozes e lacaio de primeiro escalão dos donos do mundo, admite que eles perderam o controle sobre os chineses há muito tempo (mais exatamente a partir dos primeiros anos de governo Xi Jinping). Isso pode ser confirmado através da mudança no teor dos discursos do velho bilionário trapaceiro.
Nos anos 2000, Soros dizia: “Acho que já está na hora de envolver a China na criação de uma Nova Ordem Mundial, uma ordem financeira global. Os chineses são um membro relutante do FMI. Participam, mas não dão muita contribuição porque não é uma instituição sua. Os seus direitos de voto não correspondem ao seu peso, então eu acho que é necessária uma Nova Ordem Mundial de cujo processo de criação a China participe e com a qual concorde. A China tem de ser dona da nova ordem da mesma forma que, digamos, os EUA o são do Consenso de Washington.”
Em novembro de 2010: “Há uma mudança realmente notável e rápida de poder e influência dos Estados Unidos para a China”, disse Soros, comparando o declínio dos EUA ao do Reino Unido após a Segunda Guerra Mundial. “A China cresceu muito rapidamente cuidando de seus próprios interesses”, disse ele. “Eles agora têm que aceitar a responsabilidade pela ordem mundial e pelos interesses de outras pessoas também (…). Hoje a China tem não apenas uma economia mais vigorosa, mas na verdade um governo que funciona melhor do que os Estados Unidos.” (2)
Já em junho de 2015 (dois anos e três meses após Xi Jinping assumir): “Se as reformas orientadas para o mercado de Xi Jinping falharem, ele pode promover alguns conflitos externos para manter o país unido e se manter no poder, o que poderia levar a uma aliança militar e política sino-russo (enquanto agora eles estão principalmente apenas cooperando financeiramente).” (3)
Em 6 de fevereiro de 2016 uma matéria do site da Nikkei Asia iniciava desta forma: “Uma batalha feroz eclodiu entre o presidente chinês Xi Jinping e o investidor bilionário George Soros sobre o futuro da economia chinesa, a segunda maior do mundo depois dos EUA. Soros de repente mudou sua postura em relação à China, pintando um quadro sombrio da economia do país e efetivamente jogando o desafio contra Xi (…).” (4)
Discurso de Soros em Davos (janeiro de 2019): “Apesar da China não ser o único regime autoritário do mundo, é o mais rico, poderoso e tecnologicamente avançado. Isto torna Xi Jinping no mais perigoso inimigo das sociedades abertas. Trump desenvolveu uma política coerente em relação à China. O governo dos EUA identificou corretamente o regime chinês como um rival estratégico. Washington definiu o país como a sua principal ameaça, apostando numa estratégia de contenção das ambições chinesas que ameaça bipolarizar o cenário internacional. A China é um importante ator global. Uma política eficaz, em relação à China, não pode ser reduzida a chavões. Temos de ser muito mais sofisticados, detalhados e práticos; e devemos incluir uma resposta econômica norte-americana à ‘Iniciativa do Cinturão e Rota’.” (5)
Janeiro de 2020 também em Davos: “Trump é vigarista e narcisista, o destino do mundo está em jogo em 2020. Acho que existe uma espécie de operação informal de ajuda mútua ou acordo entre Trump e Facebook. Irei investir US$ 1 bilhão em um projeto de rede de universidades para lutar contra os ditadores atuais e em gestação. A sobrevivência das sociedades abertas está ameaçada. Lamento que China, Estados Unidos e Rússia estejam nas mãos de ditadores (…)”
Em artigo publicado no Wall Street Journal, em 13 de agosto de 2021, o bilionário fez novas críticas ao secretário-geral do Partido Comunista da China (PCC), Xi Jinping: “Sofre de várias inconsistências internas que reduzem muito a coesão e a eficácia de sua liderança”, escreveu Soros que, sem criticar o PCC, sustentou que Xi é o inimigo mais “perigoso do Ocidente” e estabeleceu um paralelo entre os antigos membros da legenda de extrema esquerda.
Ainda de acordo com o empresário, Xi Jinping destoa do estilo do seu antecessor Deng Xiaoping, cujo foco recaía na abertura econômica. “Longe de ser diametralmente oposto ao sistema global dominado pelo Ocidente, Deng queria que a China crescesse dentro dele. Sua abordagem fez maravilhas”, argumentou George Soros.