A fundação de Petrópolis remonta às viagens que D. Pedro I fazia a Minas Gerais, seguindo a trilha da Estrada Real, que ligava a cidade do Rio de Janeiro e de Paraty à Vila Rica de Ouro Preto e a Diamantina. Quando passava pela serra fluminense, o jovem imperador hospedava-se na fazenda do Padre Correias e gostava tanto de lá que ofereceu ao padre diversos pedidos de compra da propriedade, sempre recusados. Acabou então por adquirir terras em uma área próxima, onde a cidade de Petrópolis foi fundada em meados do século XIX.
A construção da cidade coube ao engenheiro e oficial alemão Julio Koeller, amigo pessoal de D. Pedro II, que intermediou a vinda de uma centena de famílias de imigrantes alemães para habitar a cidade, que veio a se tornar, durante o Segundo Reinado e uma parte da República, capital de verão do Brasil, época em que o calor tornava-se muito forte no Rio. De Petrópolis, no Palácio Itaboraí, despachava o grande diplomata o Barão do Rio Branco, nos dez anos em que foi ministro das Relações Exteriores, no início do século passado, mesmo quando toda a administração estava no Rio. No Palácio Quitandinha, que hoje abriga uma sede do SESC, foi realizada em 1947 a Conferências Interamericana, que contou com a presença de todos os chefes de Estado do continente.
Hoje a cidade sofre com a perda de mais de cem pessoas mortas com as enxurradas do dia 15, ao qual se acrescentam os mais de cem que ainda estão desaparecidos, sem contar os desabrigados que conseguiram se salvar, apesar de perderem as casas nos deslizamentos. No centro da cidade e em frente a sede da Prefeitura e da Câmara Municipal, lama e até corpos estão sendo retirados. A população de todo o Estado do Rio se mobiliza para ajudar com doação de alimentos, água e roupas.
De volta de viagem para Rússia e Hungria, o presidente Bolsonaro promete abertura de crédito extraordinário para a reconstrução de, ao menos, parte dos danos e promete um sobrevoo à cidade de helicóptero, apesar do tempo ainda continuar instável. Mas poderia fazer mais, estando presente na cidade, tendo em vista que o Palácio Rio Negro (na foto em destaque), na imponente Avenida Koelller, que leva o nome do construtor da cidade, ainda é residência oficial do presidente da República, assim como a Granja do Torno e a Casa da Dinda, em Brasília.
O último presidente a utilizá-la foi Fernando Henrique Cardoso, no final da década de 1990. Mas Bolsonaro faria muito se reocupasse o Rio Negro e de lá coordenasse a presidência do país e a reconstrução das áreas afetadas pelo último dilúvio, ainda que por alguns dias. Seria uma ação de estadista, o mínimo que poderia se esperar nesta situação.
Assim, poderia prestar a atenção à infraestrutura urbana e de transportes, tendo em vista que boa parte do país, fora do litoral, está assentada em áreas montanhosas, onde as enchentes se agravam. Em janeiro, infelizmente, vimos problema parecido, ainda que em menor magnitude, em outra cidade histórica da Estrada Real, Ouro Preto, em que casarões antigos foram soterrados por deslizamentos.
De Petrópolis, o presidente poderia olhar os problemas da BR-040, sob concessão da empresa Concer, no trecho Rio – Juiz de Fora, em que as obras de construção da nova subida da serra estão paradas há anos, estando os motoristas tendo que usar a mesma estrada que foi inaugurada em 1928, mas que não comporta mais o volume de tráfego, tendo em vista o aumento dos eixos dos caminhões e demais veículos de carga. Apesar disso, a atual concessionária ganhou na Justiça Federal o direito de explorar a cobrança de pedágio no trecho de aprox. 180 kilômetros, apesar do contrato de vinte e cinco de concessão já ter expirado. Assim, acidentes e tombamento de veículos de carga ainda são frequentes na rodovia.
Um encontro com Petrópolis seria uma forma de encontro com o patrimônio histórico nacional.