Por Martin Jay, do Strategic Culture
O bloqueio ao RT e à Sputnik é simplesmente errado e as ideias por trás disso são draconianas. Quais provas adicionais são necessárias para perceber que a União Europeia (UE) é uma elite antidemocrática que odeia ter de prestar contas sobre suas ações?
Estaria a mídia exercendo um papel na guerra na Ucrânia? E se estiver, estaria ela ajudando um dos lados ou informando seu público sobre fatos importantes? Ou então estaria alimentando o ódio, desinformando as elites e os tomadores de decisão e empurrando a Rússia e a Ucrânia para longe de qualquer possibilidade de um cessar-fogo e de negociações?
Recentemente, fui surpreendido por uma afirmação quase cômica do diplomata-chefe da UE, Josep Borrell, que disse que a RT e a Sputnik seriam banidas dos países que compõem o bloco. Seus motivos, publicados pela RT, eram de que “elas são campeãs de manipulação de informações”.
A ironia aqui é surpreendente, dado que Borrell é ele mesmo um campeão de desinformação e de manipulação da mídia, e que sabe sobre o que está falando quando usa frases como “propaganda total de guerra” e similares. Na verdade, qualquer jornalista que tenha trabalhado em Bruxelas credenciado à UE vai dizer que os esforços das equipes de relações públicas das instituições da UE – em especial, a Comissão Europeia – configuram uma colossal manipulação midiática que culmina em notícias falsas sendo despejadas diariamente junto ao público que sempre destacam a relevância e o status da UE, em um processo no qual jornalistas replicam informações que lhes são concedidas sem nunca questionar sua validade.
A afirmação de Borrell é um triunfo da ironia e do descaramento. O descaramento deste político “socialista”, que tem um passado duvidoso em seu próprio país, é espetacular, dado que a própria UE gasta bilhões subsidiando custos de produção de jornalistas e suas equipes em Bruxelas para reportar minuciosamente as atividades cotidianas de suas instituições, forçando esses mesmos jornalistas a, no que tange às suas reportagens, “não morderem a mão que os alimenta”.
Além disso, nos últimos anos, com mais e mais membros de partidos populistas denominados de “extrema-direita” ocupando as fileiras do parlamento europeu, a mesma União Europeia votou para levantar mais dinheiro para injetar nas agências de notícias eurófilas, pretendendo aumentar ainda mais o volume de recursos disponíveis aos jornalistas a cada dia. Houve, na verdade, um relatório em 2016, tendo sido inclusive aprovado, que se tornou um quadro de referência para a criação de uma unidade midiática secreta anti-Rússia por membros do Parlamento Europeu raivosos e obcecados com o gigante da Eurásia. É incerto quanto dinheiro foi destinado para esse projeto, e mesmo qual sua função, embora na minha visão essa verba foi destinada para financiar indivíduos na internet a fim de “informar” o público em geral por meio de publicações em caixas de comentários de artigos online que trouxessem uma visão anti-Rússia.
Talvez mais preocupante que essa obsessão com a RT seja como os membros do Parlamento Europeu deram voz às suas próprias opiniões por meio de “relatórios feitos por iniciativa própria” para financiar a mídia pró-UE com dinheiro em espécie. O parlamento não apoiou oficialmente essa iniciativa, mas pode-se argumentar que o relatório de 2016 motivou que mais dinheiro ilícito fosse destinado às empresas jornalísticas que cobrem a União Europeia, e deve-se perguntar se a unidade midiática secreta anti-Rússia criada pelos eurodeputados já não faz exatamente isso. A UE, que se diz líder dos direitos humanos, liberdades e valores democráticos, é tão corrupta e retrógrada que não revela nenhum dos detalhes sobre o programa.
Mas o que o movimento por parte da UE diz tanto sobre a guerra na Ucrânia quanto sobre a atitude da UE em relação a como os cidadãos devem ser informados (e até mesmo se devem ser informados)? Eu diria que o Ocidente em geral está tão assustado com a perda de poder de suas elites que acredita que a obstrução de qualquer cobertura midiática que não esteja de acordo com sua narrativa é o único recurso que está apto a usar. A afirmação de Borrell mostrou que a UE está em uma posição particularmente fraca uma vez que precisa descer a um nível tão baixo a ponto de tentar impedir a cobertura jornalística realizada pela RT na Ucrânia. Borrell quer que a UE controle mentes exatamente da forma que ele acusa Putin de fazer as vezes de “Polícia do Pensamento” na Ucrânia, via manipulação midiática.
Já vimos que isso aconteceu na Síria. Tanto os governos e líderes de países orientais quanto ocidentais consideram um grande alívio e acham confortável um sistema de cobertura de mídia polarizado, que não encoraja os jornalistas a verem o outro lado da situação da qual estão fazendo a cobertura. O resultado é que as reportagens de ambos os lados são, na melhor hipótese, “manchadas” e, na pior, veementemente tendenciosas. Entretanto, pelo menos os leitores podiam olhar para ambos os lados da cobertura e tentar preencher as lacunas eles mesmos – dificilmente a forma ideal de reportar ou ler sobre conflitos complicados, mas, ainda assim, melhor do que nada.
A decisão de banir a RT e Sputnik é o “modelo de mão única” que Borrell quer. Seu objetivo é calar quaisquer outras visões, de qualquer natureza, para os cidadãos europeus que estão procurando pelos fatos e que querem analisar a versão do outro lado sobre os eventos. Argumentar que a perspectiva da RT é distorcida por representar o Kremlin é estúpido, ingênuo e hipócrita; o Departamento de Estado norte-americano tem reportado guerras com um viés fervoroso pró-EUA por décadas, assim como a BBC tem um ponto de vista britânico ou a F24, um francês, ou até mesmo a DW, um alemão. E daí que o russo é tendencioso? O Ocidente, os banindo, mostra a todos nós o quão ineficiente são instituições como a Comissão Europeia, já que elas reproduzem comportamentos que supostamente desprezam.
A União Europeia quer manipular as notícias para sua própria agenda política e aprendeu em Bruxelas que, se você eliminar todos as coberturas divergentes, é possível manipular um batalhão de jornalistas para reportarem seus pontos de vista, ideias e opiniões fanáticas e basicamente “criar notícias em atacado”. Desde 2005, quando o jornalista investigativo alemão Hans-Martin Tillack foi preso – sim, preso – pela polícia belga sob acusações duvidosas, simplesmente porque ele rejeitou o modelo que praticamente todos aderiram de noticiar a UE, nenhum jornalista cobriu com alguma frequência a corrupção relacionada ao bloco desde então. Ou seja, o modelo de “desinformação” a que Borrell se refere quando fala sobre a Rússia é, precisamente o modus operandi de Bruxelas.
A UE é, em resumo, uma campeã de notícias falsas e sua reação em relação à RT é a de um time que está perdendo, tomado pela insegurança, inveja e petulância daqueles que odeiam prestar contas tanto quanto odeiam a verdade. Típico da UE. Fiquem atentos às coberturas “chapa-branca” da imprensa diretamente de Bruxelas, as quais estou certo de que começarão em breve. Mas não espere que os jornalistas revelem que suas viagens foram completamente financiadas pela UE, provavelmente da unidade midiática secreta anti-Rússia.
O que a mídia ocidental está fazendo é criminoso, além das tradicionais mentiras, estão fazendo uma campanha histérica de russofobia (ódio contra a Rússia e o povo russo).
Demitiram um maestro na Alemanha apenas por ser russo. Retiraram uma foto de uma árvore de um concurso pois a árvore foi plantada por um escritor russo. Uma universidade na Itália cancelou um curso sobre Dostoyevski, por ser russo. Impuseram sanções até contra os gatos russos.
Os brancos anglo-saxões são imbecis, então esse tipo de comportamento vindo deles não é surpreendente. O surpreendente é que todos os ocidentais achem isso normal.
Qual foi o resultado da russofobia na Ucrânia depois do golpe de 2014? Um governo nazista.