Por Andrew Korybko, no OneWorld
O Ministro da Defesa russo, Sergey Shoigu, anunciou na última terça-feira (1º/3) que seu país sediará seu primeiro Congresso Internacional Antifascista em agosto para coincidir com o fórum internacional de tecnologia militar do Exército em Moscou. Esse é um importante movimento de poder brando (“soft power“), pois ajudará a comunicar de forma mais convincente uma das principais motivações da operação especial da Rússia na Ucrânia. O presidente Vladimir Putin já havia declarado anteriormente que um de seus objetivos é desnazificar o país depois que forças fascistas apoiadas pelos EUA capturaram o controle do Estado no início de 2014, após uma onda de terrorismo urbano popularmente conhecida no Ocidente como “EuroMaidan” ou ainda “Revolução da Dignidade”.
A operação especial na Ucrânia tornou-se um dos principais alvos da campanha de guerra de informação contínua do Ocidente liderada pelos EUA, que também alveja a Rússia de forma mais ampla. A Grande Mídia está ativamente tentando fazer com que o público pense que, na verdade, é Putin o verdadeiro fascista e não as autoridades ucranianas pós-golpe de 2014. Ela chegou ao ponto de introduzir uma narrativa mambembe que sustenta que dizer que há o renascimento do fascismo na Ucrânia seria um tipo de “antissemitismo”. O procurador-chefe da República Tcheca deu um passo sem precedentes ao advertir os cidadãos que expressar publicamente apoio à posição da Rússia poderia violar a lei e resultar em três anos de prisão.
A imensa pressão que está sendo exercida sobre a população ocidental para colocar-se a reboque de seus governos neste conflito, inclusive através do bloqueio imposto pela União Europeia dos órgãos aos veículos russos RT e Sputnik, sugere que poucos europeus comparecerão ao Congresso Internacional Antifascista em Moscou devido a preocupações com sua própria segurança jurídica e talvez até física ao voltar para casa depois. É por essas razões que a Grande Potência Eurasiana deveria considerar seriamente facilitar a migração rápida dos dissidentes europeus para seu território mediante a oferta de pacotes generosos de incentivo àqueles que estão sinceramente comprometidos em dedicar suas vidas a essa nobre causa na Nova Guerra Fria.
Mesmo que isso não ocorra imediatamente, ou pelo menos na medida do necessário para que esses dissidentes se estabeleçam no território russo e posteriormente contribuam para a política de comunicação estratégica de longo prazo a respeito desse tema, a Rússia deve ainda encontrar uma forma de garantir que suas mensagens-chave cheguem a esse público. A população europeia deve, de uma forma ou de outra, tornar-se mais consciente das perigosas tendências fascistas em sua sociedade que se manifestam cada vez mais por meio de uma xenofobia perniciosa, incluindo a islamofobia e mais recentemente a russofobia. Também devem aprender como algumas das políticas de seus governos emulam, de modo preocupante, as antigas políticas fascistas do período entre guerras.
Considerando as limitações em termos de quem provavelmente comparecerá ao próximo congresso russo daqui a meio ano, é possível que esse evento tenha a presença principalmente de especialistas, funcionários e ativistas não-ocidentais. Isso porque os governos de países não-ocidentais não se colocaram contra Moscou na mesma intensidade que os ocidentais, em parte porque percebem a importância estratégica de tentar o equilíbrio entre vários poderes no que pode ser descrito com mais precisão como o atual período de bi-multipolaridade. Como resultado, os europeus podem aprender mais sobre as ameaças fascistas dos tempos modernos com os africanos, asiáticos e latino-americanos do que com seu próprio povo, se bem que isso definitivamente não é uma coisa ruim.
Isso só serviria para mostrar que o Congresso Internacional Antifascista da Rússia teria realmente atraído a atenção global, já que o mundo obviamente não é mais centrado no Ocidente, mas está finalmente experimentando a ascensão de centros de influência e poder multipolares não-ocidentais. A participação de delegados chineses, por exemplo, poderia levar a renomada mídia internacional de seu país, como a CGTN, a garantir que o resto do mundo tome consciência desse evento crucial, apesar dos pesados esforços de censura ocidental. Isso compensaria bastante algumas de suas operações de guerra de informação e ajudaria a despertar gradualmente as massas ocidentais com o tempo.
É de urgente importância que o público ocidental perceba que as autoproclamadas redes “Antifa” em toda sua “esfera de influência” civilizacional são na verdade um falso antifascismo, pois muitas de suas táticas equivalem à imposição de políticas fascistas sob o rótulo orwelliano de supostamente serem “antifascistas”. Essas células não têm o monopólio exclusivo sobre o que constitui o verdadeiro antifascismo, embora muitos tenham sido enganados a pensar erroneamente que elas têm. Portanto, um dos primeiros objetivos que a Rússia deve alcançar através de seu próximo congresso é aumentar a conscientização deste fato, a fim de facilitar o resto de sua política de comunicação estratégica de longo prazo a esse respeito.
Na preparação do planejado congresso, provavelmente veremos a Rússia sediando uma Marcha do Regimento Imortal sem precedentes, uma referência à nova tradição de seus cidadãos marchando pelas ruas após o desfile do Dia da Vitória no dia 9 de maio, sustentando cartazes de seus parentes que lutaram na Grande Guerra Patriótica (nome que a Rússia dá à Segunda Guerra Mundial). Essa tradição genuinamente “antifascista de base” é muito emocionante de se observar, quanto mais de participar, por isso espera-se que a Rússia amplie a cobertura desses eventos nacionais naquele dia especial para preparar o público global para seu próximo Congresso Internacional Antifascista em agosto.
Com o tempo, a Rússia espera desnazificar toda a psique ocidental que se tornou corrompida pelo revisionismo da Segunda Guerra Mundial, como a comparação da ex-URSS com a Alemanha nazista, sugerindo erroneamente uma equivalência moral entre o genocida que iniciou aquele conflito global e o país que mais se sacrificou para libertar o continente. O problema saiu completamente de controle nos últimos anos, mas a operação especial da Rússia na Ucrânia pode ser interpretada como o primeiro passo prático para desafiar esta tendência perturbadora. Essas novas linhas de divisão ideológicas entre a Rússia abertamente antifascista e o Ocidente abertamente pró-fascista (embora não declarado), moldarão os contornos narrativos da Nova Guerra Fria.
A Rússia está combatendo o fascismo no mundo real. O engraçado é que os histéricos da esquerda caviar que adoram “cancelar” os outros e chamam todo mundo de fascista estão apoiando o regime nazista ucraniano.