
PX 96-33:12 03 June 1961 President Kennedy meets with Chairman Khrushchev at the U. S. Embassy residence, Vienna. U. S. Dept. of State photograph in the John Fitzgerald Kennedy Library, Boston.
Por Movimento de Solidariedade Iberoamericana.
O risco de uma escalada na guerra da Ucrânia, que leve a uma confrontação nuclear entre a Rússia e as potências nucleares ocidentais, é sério, real e não deve ser subestimado.
A advertência – gravíssima – veio do chanceler russo Sergei Lavrov, em uma entrevista à rede Canal 1, em 25 de abril. Segundo ele, o momento atual das relações entre a Rússia e os EUA é tão perigoso como a Crise dos Mísseis de Cuba de 1962, que durante duas semanas deixou o mundo em suspense pelo receio de um confronto nuclear entre as duas superpotências.
Não obstante, Lavrov fez uma distinção crucial: “Durante a Crise dos Mísseis de Cuba, não havia muitas regras escritas, mas as regras de conduta eram bastante claras. Moscou entendia como Washington estava atuando e Washington entendia o comportamento de Moscou. Hoje, poucas regras permanecem. (…).”
Ademais, ele reiterou que, naquela ocasião, havia um “canal de comunicação” no qual os dois líderes – o presidente estadunidense John Kennedy e o premier soviético Nikita Krushchov – confiavam. “Agora, não existe esse canal. Ninguém tenta criar um. As tímidas tentativas ocasionais realizadas em uma primeira fase não deram muito resultado” – afirmou.
Subentendida nas palavras de Lavrov, está uma diferença fundamental e potencialmente decisiva em relação aos acontecimentos de 1962, a qual, na realidade, torna o atual cenário bastante mais perigoso: a qualidade abissal das lideranças ocidentais contemporâneas, que nem de longe se comparam aos seus antecessores da década de 1960, em Washington e nas principais capitais europeias. Na época, além de Kennedy, estavam em serviço estadistas do porte do francês Charles de Gaulle, o alemão Konrad Adenauer, o britânico Harold MacMillan e outros, ao lado dos quais seus atuais sucessores não passam de comediantes mambembes políticos.
Em 1962, também havia “falcões” e piromaníacos em Washington e Moscou, mas, ao contrário de hoje, as lideranças políticas e os diplomatas atuaram com um empenho sério, decidido e, afinal, bem sucedido, para contornar a crise. Nada comparável ao comportamento inconsequente, entre outros, do secretário de Defesa estadunidense Lloyd Austin, ex-lobista da megaempresa de armamentos Raytheon, ao admitir que o objetivo dos EUA no atual conflito é “enfraquecer” a Rússia. Ou o do ministro das Forças Armadas britânico James Heappey, sugerindo que a Ucrânia utilize os armamentos fornecidos pelo Reino Unido para atacar alvos dentro da Rússia, rechaçado como uma “provocação direta” pelo Ministério da Defesa russo.
Em essência, a intenção ostensiva da Organização do Tratado do Atlântico Norte (OTAN) é prolongar o conflito ao máximo, ou combater a Rússia “até o último soldado ucraniano”.
Seis décadas atrás, nem Kennedy nem Krushchov precisaram fazer uma advertência como a do presidente Vladimir Putin, em 27 de abril, ameaçando reagir “com a velocidade do raio” – em referência às novas armas avançadas russas – “se alguém de fora decidir intervir nos eventos em curso e criar ameaças estratégicas inaceitáveis para nós”. Uma dessas armas é recém-testado míssil intercontinental Sarmat RS-28, capaz de disparar planadores hipersônicos termonucleares Avangard contra alvos situados a até 18 mil quilômetros, invulneráveis às defesas conhecidas.
Para tornar o quadro ainda mais crítico, à inconsequência das lideranças ocidentais soma-se uma perigosíssima alienação da realidade, que se mostra na incapacidade de compreender que Moscou trava uma guerra verdadeiramente existencial. Nesta atmosfera altamente carregada, qualquer faísca, mesmo acidental, pode ter consequências devastadoras.